quarta-feira, 29 de setembro de 2010

ambivalência

a prova de que é possível amar vem da prova que se tem da existência do outro. e a existência do outro está diretamente relacionada ao nosso próprio descontrole com relação a ela. diz winnicott que o bebê destrói ativamente o objeto em sua fantasia e se surpreende em encontrá-lo ainda vivo depois disto.
se o outro sobrevive à propria agressividade do bebê, há para este bebê possibilidade de reparação. "ufa! não sou capaz de destruí-lo. o outro jamais estará em minhas mãos". há, enfim, possibilidade de amor.
o erotismo compõe-se de amor e agressividade. ser amado é estar confrontado com o risco de ser destruído, sempre.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Augusta

Gazebo
Maison
A. de queirós
Banca da Princesinha
Rede Farma
Não Estacione das 7:00 às 22:00
noite livre
Vegas
Vote 1398
F. Albuquerque
Vitrine
Rei do Mate
Sebo
Tacos
Pedaço da Pizza
Unibanco
Hotel Ibis
Center 3
Kiss FM

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

pele

devagar, as palavras vão tornando-se excessivas. olhos se olham e se conversam. e escutar, nessas horas, é escutar a mínima sonoridade exalada pelos corpos: as respirações, ruídos dos estômagos, a densidade da saliva que se move nas bocas de cada um. qualquer palavra poria esta suavidade sonora em segundo plano, e aqui não é este o caso. os corpos são de primeira importância nessa história.

cheiro. também é comunicação: o perfume dela, o cheiro de bebida na boca. o gosto é salgado e doce, tem partes salgadas e doces em ambas as peles, e as variadas misturas destes dois temperos opostos vão se fazendo numa composição que a cada dia é diferente: a boca doce dele se salga com a palma da mão dela. com a bochecha dela, o pescoço, a barriga. a pele dela é de sal? a boca dele é de mel? os paladares se conversam perfeitamente. como definir esses dois? salubre.

calor. a pele de um exala quentura que se enlaça com a quentura do outro. o pé mais frio dela logo volta à temperatuda ambiente, aconchegado no meio das pernas dele. a temperatura é uma só. o ambiente é o entre-dois. pele com pele faz uma só continuidade. meu braço é seu. sua perna é minha, minha boca é um mundo que se apodera de seu corpo. há um território em comum: um corpo todo cabe numa boca de menina. a lógica das dimensões, nessa conversa, pouco importa. a lógica não-verbal é outra.
e é toda a expressão do corpo, toda a sua movimentação quase involuntária que faz dessa conversa a mais sintônica e a mais autêntica que há. com o corpo se ama, se luta, se domina, se dança, se fala. mas não se mente.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

play a song for me

Then take me disappearin' through the smoke rings of my mind
Down the foggy ruins of time, far past the frozen leaves
The haunted, frightened trees, out to the windy beach
Far from the twisted reach of crazy sorrow.
Yes, to dance beneath the diamond sky with one hand wavingfree
Silhouetted by the sea, circled by the circus sands
With all memory and fate driven deep beneath the waves
Let me forget about today until tomorrow.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Soneto do amor total

Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.

Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.

Vinícios de Moraes

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Pois em mim mesma eu vi como era o inferno.
naquele momento eu ainda não entendera que o primeiro esboço do que seria uma prece já estava nascendo do inferno feliz onde eu entrara, e de onde eu já não queria mais sair.
Daquele país de ratos e tarântolas e baratas, meu amor, em que o regozijo pinga em gordas gotas de sangue.
Só a misericordia de Deus poderia me tirar da terrível alegria indiferente em que eu me banhava, toda plena.
Pois eu exultava, eu conhecia a violência do escuro alegre - eu estava como o demônio, o inferno é meu máximo.

In: Clarice Lispector, A paixão segundo G.H

domingo, 12 de setembro de 2010

início

a cada troca afetiva que se inaugura, um mundo inteiramente novo ganha existência.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

fim

horrorosa bruxa, como faz-me sofrer, incompetente em qualquer virtude, desgraçada, disse que me amava e agora? esqueceu-me! assim, desse jeito, como quem de um dia pro outro deixa de dar valor a uma coisa primordial, um hábito, eu diria. vê-la todos os dias deixava-me em paz, era uma boa rotina, preenchedora, recofortante. mas e agora? sem ela? o que fazer dentro do buraco vazio da ausencia de hábitos?
raiva!

horrorosa, víbora, pode ser tão completamente egoísta, só pensa nela mesma. de repente eu sou vazio a ela, sem sentido. porque? algo novo simplesmente me substituiu? Desesperador é perceber-se totalmente passível de ser substituído: quer dizer que nada do que fiz é único, autoral. quer dizer que alguém além de mim pode satisfazê-la como ela gosta de ser.

Ressentimento! Fiel amigo e escudeiro, não fosse você estaria quase morto de baixa auto estima, não fosse o ressentimento- que significa aqui: odiar essa megera que um dia se disse apaixonada - eu desvaleceria no buraco de mim mesmo, na minha possível não-existencia. a dor de ser rejeitado é tão grande que o ressentimento alivia. é medicamento paliativo, que vai amenizando esse ultimos tempos que se tem antes da morte.

Morte, objetivo certo! Morre ela ou morro eu? Alguém deve morrer para que o outro viva.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

"Existe um discurso possível sobre o amor? Esta questao é absolutamente primordial: trata-se de saber se se pode falar de amor e quem pode dele falar. De fato, o enamorado é o único que pode falar de amor, mas ele não fala, quem fala do amor não está enamorado. Aliás, na prática psicoterápica nós sabemos disso. Se nos metemos a falar de amor ao paciente, tornamo-nos péssiamos pedagogos, ridiculamente moralistas, caímos em justificativas em que infelizmente o paciente não acredita. Toda vez que atuamos mal numa psicoterapia é porque fomos explicativos."

Pierre Fédida

domingo, 5 de setembro de 2010

a beira do abismo

amar: viver a beira do abismo. abismo porque eh proprio do acaso haver possibilidade de queda iminente. acaso porque amor soh acontece ao acaso, quando nada se programa, quando nada se quer contolar. quando se arrisca equilibrar-se num fio estreito...amor eh reacionario ao chao firme, ao tempo cronologico, ao pre estabelecimento de um contrato. mas pode-se fazer um contrato a partir do amor? espera-se que sim... se nao se esperar que sim, como sustentar viver a dois?

o amor esta na lacuna entre duas bocas que se pedem, na distancia entre dois amantes que devaneiam, na proximidade das almas, na espera, no alcance, na espera outra vez, na saudade, no apetite sexual. nada mais real do que o apetite sexual, nada mais real... ali no encontro dos corpos as mentiras caem... sexo eh o abismo das mentiras. eh o que ha de mais verdadeiro entre duas pessoas que se desejam com paixao. amor-paixao! salve salve!

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

proximo capitulo ( a entrada de um terceiro desmonta a vontade de violência)

Ele - sabe que eu gostaria de retificar uma coisa..

Eu- o que?

Ele- aquele dia eu estava muito exaltado! devia ter mudado a forma como me dirigi a vocês... queria tanto que me levassem a sério que acabei ofendendo todo mundo.

Eu - ah, entao voce repensou?

Ele- nao nao! nao repensei, ainda acho que voces falharam com um monte de coisas... mas sei que eu tambem... e que aquilo nao é jeito de resolver. nao vou denunciar a clinica e nem gritar mais...

Grupo - silencio (alívio)

Ele -acho que eu ando muito confuso com as idéias, de dia quero fazer tudo ao mesmo tempo e fico muito deprimido, nao faço nada. a noite, quando deito na cama, idealizo tantos planos pra minha vida: estudar, trabalhar, ter uma vida normal. me sinto pleno, cheio de coragem, como se eu pudesse tudo! mas na verdade, a unica coisa que eu tenho conseguido de fato fazer é vir aqui pros grupos. o unico compromisso que agora ta dando pra cumprir...

Eu - mas é muito bom ouvir isso... até porque no mundo das idéias a gente sempre pode ser poderoso e ter e fazer tudo. mas no mundo do possível, o que é de fato... possivel?

Grupo - trabalhar é muito difícil mesmo quando a gente ta assim, eu tambem acordo e nao tenho vontade de fazer nada, muitas vezes eu quero morrer.

Grupo - eu to muito confusa tambem, fiquei tanto tempo em casa encarcerada escutando os meus pais e tentando agradá-los, mas... nao da pra agradar sempre!

Eu - pois é, é dificil se diferenciar do que os pais querem pra gente... e quando tem discordancia a sensaçao é as vezes de muita confusao....e dor...

Ele - eu sempre me referi à minha mae como uma ordinária, confesso. ela é burra, iletrada, nao consegue admitir quando ta errada, ela é uma farsa. e sempre fez de mim uma farsa também! mas eu sei que é porque ela é fraca.

Eu - por isso tem medo de nao ser levado a serio aqui?

Ele - sim, a minha vida inteira eu tive que enconbrir os erros da minha mae. xingo muito ela aqui pra voces, mas sei que tambem fico tentando cuidar da minha mae porque a amo. amo aquela vagabunda!!

Grupo - silencio

Eu - gostaria que a chamassemos aqui pra conversamos?

Ele - de jeito nenhum, ela vai me acusar, vai me apequenar na frente de voces, eu nao posso com ela, nao quero ela aqui. nossa relaçao vai ser sempre assim, com distancia, e muita raiva...

Eu - e amor, parece que é isso que vc diz.

Grupo - voce sabe que tudo o que voce disse hoje fica registrado. tua fala é valiosa, ela indica que vc se movimentou, que pode pensar as coisas, referenciar o que acontece aqui ao que acontece nas tuas relaçoes. por mais que alguem venha te acusar ou desmenti-lo, o que voce ja disse aqui no grupo e o caminho que vem percorrendo é algo que fica registrado pra todos nós.

Ele - (em alivio) obrigada. sei que estou sendo ouvido agora... sou parte do grupo.