segunda-feira, 29 de novembro de 2010

alcançar

pois se tudo o que se oferece também está sumindo, como ser pra Ele um corpo de mulher? quando me ofereço sou só um instante, e é nele também que estou desaparecendo. quando nos tocamos materializamos o que parece não existir.
meu corpo de mulher se oferece pra deixar Seu desejo insatisfeito, meu silêncio se oferece pra fazer gritar alto Seu amor velado. os olhos molhados Dele pedem o que eu jamais poderia dar, meu corpo é mito! meu sentimento vai fugindo da minha pele, como se evaporasse sem começo nem fim.
sou Dele sem ser, dançamos juntos como duas nuvens se misturando no céu (parecem de algodão, mas são apenas gases puro - e o céu sem limites acaba onde ja não podemos mais ver).
o amor não tem massa, pesa zero, mas parece poder salvar qualquer existência do completo Nada. o amor é tão infinito que nos confronta com o Nada. com o Nunca. nesse instante urgente em que se precisa tocar, tocar pra fazer valer a matéria, eu O amo. quero largá-lO no meio do nada pra fazer-me presente sem corpo (está aqui o infinito). quero largá-lO sozinho e solto sem mim, experimentar a minha própria ausência, já que o que Ele quer me parece alí impossivel. na presença de Seus olhos pedindo os meus, com o furor que é próprio destes olhos (só Eles é que me pedem assim), eu já habito o impossível.
meu corpo é mito.
diante de Seus olhos, sou o que sou pra Ele. criação.
um corpo de mulher, na verdade, nunca existiu no mundo.

domingo, 28 de novembro de 2010

o ponto cego do homem

de repente ficou insatisfeita? que houve? o que me falta te dar? até outro dia eu era seu mundo todo. aliás, nós dois juntos éramos O Mundo. sempre preecnhi cada buraquinho do seu corpo. te amo te amo e você, do teu habitual e constitutivo vazio de ser, pediu: um filho, por favor!
pra que mais um? sou eu que te completo! e sem mim você nao pode produzir nada. precisa de mim pra produzir um terceiro termo desta relaçao, sozinha você não pode. é isso agora que voce quer? é assim que te satisfaço? te dando um bebê? pois que seja!
AMÉM.
nao posso tolerar nenhum espaço vazio em voce (nem em mim). serei outra vez teu mundo neste lindo e estonteante ato sexual!
(e o resto da vida nos espera com mais um entre nós)

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Paul

não há palavras pra emoção de voltar no tempo...


http://www.youtube.com/watch?v=CnspiH4xLRw&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=3uqGCqMYaHQ&feature=related

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

sua presença

introduz um campo eletromagnético de forças invisíveis, um conjunto de intensidades sem figuração... é um acontecimento quando ele entra na sala!

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

menina escrita

Sempre calada, Beatriz. A menina feita de giz. Pele branca, cabelos pretos, lábios rosados, mãos de papel. Nunca pintava as unhas, gostava de seus tons naturais. Nunca comia mais do que pedia sua fome, e Beatriz assim se mantinha esguia, sua brancura e magreza davam a impressão de que era quebradiça.
Mas Beatriz não se deixava quebrar. Ao contrário, era forte e cuidava bem dos próprios contornos (contornos bem riscados pra guardar o que tinha de mais precioso).
Estava sempre pronta pro afeto e pra renúncia, sempre pronta pra fazer aquilo que devia ser feito. Atenta ao próprio desejo, sempre muito atenta.
A menina passava inveja pras outras meninas de sua geração, ela que não se importava com o que achavam dela, não se importava com performances. Beatriz e atriz não rimavam pra ela. Nada de dramas, a vida é nua e crua. Se não há mais porque manter-se próxima de alguém, optava pela distância, pagando o preço de saber que o outro "deixado" a culparia sempre pela tragédia causada. Beatriz sabia que a culpa só daria a ela o peso de ocupar o lugar de responsável pelo sofrimento do outro. Não. A isso sempre soube dizer não.
O outro que chorasse sozinho, ela também faria isso. "Chorar é sempre solitário".
Diziam que Beatriz era feita de gelo. Blazé. Ela sempre caminhava pela rua em tons pastéis, sem olhar pros lados, sem sorrir à toa. Mas Betriz não se considerava blazé. Sabia amar, e quando se apaixonara, entregara-se por completo. Aquele homem que a queria sem a querer. Caminhava ereta, como se levasse o homem-inteiro dentro dela. Ela levava o toque dos lábios do homem. Levava o último toque a com ela a certeza da renúncia aos possíveis outros toques. Aquele haveria de ser o último!
Mesmo o amor, quando não condiz com a vida, não merece ser levado adiante. Amor-lembrança, que seja. Devanear é sempre poder se completar sem necessidade de ninguém. O devaneio sustenta o silêncio de Beatriz, sua força, a casca gelada e o sangue flamejando, o furor de buscar algo que faça sentido. O que quer Beatriz? O que faz sentido a ela?
Cansada das tragédias, encontrou enfim intensidade no amor simples. No amor cotidiano. Beatriz, instantaneamente, após ver-se colada aos braços do homem que a queria, que a podia (e prometia), disse então: "sei".
O saber que fazia daquela relação digna e forte, como era a própria Beatriz, fora feito de renúncia, feito de marcas, e especialmente de constatações de que muito do passado transforma-se em nada mais do que história.
Beatriz pensava no tempo enquanto andava em tons pastéis. Mãos de papel carregavam palavras de histórias de afeto escritas a giz. Podia ler as próprias mãos, Beatriz. Podia ler as mãos e enfim dar-se conta de que fora algo que agora não é. Beatriz é lenta e constante transformação. Beatriz é só movimento, movimento puro, pincelada, escritura de um livro mágico que se reconfigura a cada página. E diziam a ela, sempre, indignados: "estás ainda no começo da vida...".
Não há nem fim nem começo para Beatriz. Há o sempre.

domingo, 7 de novembro de 2010

o sabor das horas

são horas feitas de manjericão, pimenta do reino, vinho tinto. horas feitas de rum com hortelã, baralho, palavras cruzadas. feitas de chuva e orvalho. de pés descalços (ou com qualquer chinelo velho). de filme às 11 da manhã num sofá preguiçoso. horas feitas de música, olhares e silêncios apaixonados. beijos de língua, cheiro de lençol, brincos jogados no criado-mudo. sono. horas feitas de domingo ensolarado com piscina, de singelas caminhadas em volta dum lago de patos estranhos, horas feitas de suspiros. palavras. conversa fora, conversa séria, conversas distraídas, pornográficas. horas feitas de conversas a dois, nas quais fala uma multidão!
horas feitas de luz de velas, de cozinha itinerante, de desejos descontrolados, quarto bagunçado, toalha molhada, roupas misturadas. horas feitas de tudo e nada, infinitas enquanto duram. mas fugidias a ponto de provocarem nostalgia enquanto ainda é tempo delas. horas íntimas, saborosas. ah! se o tempo fosse feito só delas...

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

nuvem dourada

...aí do alto então, você - diz alguma coisa! está confortável aí no seu pedestal? na sua nuvem selecionada? olha pra todo mundo debaixo e decide como, quando e porquê se dirige a cada um. olha pra todo mundo aí debaixo e poupa-se de sentir a própria debilidade, a própria sensação de impotência que te corroeria caso você lhe desse mais atenção. mas aí de cima fica fácil ignorá-la... e os pobres mortais que estão aí debaixo como um bando de cachorros correndo em volta dos rabos, a maioria perguntando-se e perguntando-se sobre como alcançar a nuvem dourada, sâo ridiculamento usados como depositários daquilo que você não aguenta. Não aguenta saber que tem gente boa, gente diferente, gente que enxerga longe, gente preferível? Não aguenta saber que tuas falas as vezes são fonte de tédio, descrença e - pior ainda - indiferença alheia! alguns deste ridículos inferiores aguentam bem serem completamente substituíveis e comuns, aguentam bem as quedas. está aí, nesta tolerância, toda a sua maravilhosa singularidade. seu maravilhoso potencial de metamorfosear-se (só da pra ser borboleta as vezes se assumimos que somos umas lesmas desgraçadas).
são poucos, por certo, mas existem.

dourados sejam, e você, que despenque!

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

do chão ao céu

desde o chão, vejo o mundo alto, o céu longe, inatingível. o chão é árido, áspero, arrastar-me é puro deslumbre! o corpo toca o chão em toda a sua extensão, resvala-se nele, brinca com cada grão de terra, faz atrito, enche-se de pó, deixa rastro sem passos. meu corpo é longo e frio, posso trepar por tua perna e te encher de calafrios, atar-me a você. tua pele, se for áspera como o chão, me provoca um ardor sutil que me estonteia em deliciosa volúpia. matar-te ou amar-te?(sabe-se lá o que!) se me arrasto aos teus pés e você me rejeita, amo-te. arrasto-me por ti, eu-toda-imunda-do-chão envolvo teu corpo da maneira que puder, minha espécie inferior contempla tua perfeição. subo lentamente num furor de alcançar tua face quase ao céu. se me ignora, serei mistério em minha delicadeza de fazer-me perceber. o toque de tua pele humana em minha pele de textura e temperatura tão anfíbia - ou réptil - faz-me sentir perplexa com cada fluir de sangue em tuas artérias escondidas, faz-me estremecer de prazer com cada pulsaçao emitida pelo tum-tum de teu corpo. eu lisa, escorregadia, voraz. tu, num misto de asco e apaixonamento, te mantens inerte, paralisado para que, enfim, inebriada de prazer, eu possa penetrar em ti meu mais doce veneno.

mary go round

she goes round turning round and round forming a whole circule of 360 degrees,
mary can see all of what is by her side but she can't see her front neighbour's face and she also can't see her back neighbour because if she does want to see him she will have to go around herself, and that's pretty difficult to do.
how does mary can go round herself? and how does her front neighbour can go round himself so he can see mary's face? (i think that mary must be pretty)
so mary wont never be able to go round because her eyes are glued in front of her face and her neck does not go round 360 degrees and her spine is hard and does not allow her to bend over.
i think that mary would love to be a snake...