quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

esperando o Beto

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Luluzinha reflete: acho que eu sempre amei correr atrás de quem não me quer.
Carmélia rebate: mulher de malandro!!!
Suzete reclama: ai, e você só gosta de quem baba por você, Carmélia?
Carmélia: é, lógico!
Luluzinha vira os olhos (acha de verdade que Carmélia vive na maior ingenuidade com o namorado da vida toda): você nunca esteve com homem nenhum, só com o babaca do Beto!
Suzete (que tem um caso com o Beto): o Beto baba mesmo por ela... não acho que seja babaca...
Luluzinha (que morre de tesão pelo Beto, mas nunca admitiu): ele é muuuito babaca!!!
Carmélia: porque você ta falando assim dele, Lu?
Suzete: não liga pra ela não, o ciúmes que ela tem da felicidade dos outros ta sempre estampado na cara dela.
Luluzinha: tenho ciúmes as vezes, mas não acho que a Carmélia seja feliz. Quem é que é feliz se conhece só um cara? Se nunca se fez desejar, se nunca conseguiu conquistar alguém improvável de ser conquistado?
Carmélia: tá, voce até teve umas conquistas que foram um sucesso. Mas com quem você ta agora? Niguém!!!
Suzete: de repente ela não quer ficar com ninguém, de repente o barato é ir conquistando, buscando o desejo dos homens que ela sonha. Depois que rola, o sonho vira realidade. Não é tão bom.
Carmélia: pois eu gosto da minha realidade...
Suzete (pensa na amiga corna, coitada): o Beto deve ser muito bom de cama pra você estar assim tão satisfeita...
Luluzinha: hahahaha pior que ela nem tem com quem comparar...
Suzete (tinha com quem comparar e achava sim que o Beto era bom, sorte da amiga): você acha que o Beto se basta com você? Não acha que ele pula a cerca não?
Carmélia: nem me interessa questionar isso, muito menos saber... faz anos que ele me ama e faz tudo pra mim, é o que eu quero. Perfiro ter essa duvida do que ser igual a Lu que não para com ninguém.
Suzete: mas ela ta sempre com o coração em movimento...
Luluzinha: valeu, amiga!
Carmélia:tem mulher que prefere sofrer de insatisfação, é isso. De um lado tem o amor. E de outro tem essa doença que é correr eternamente atrás de um perfeito-impossível!
Luluzinha: que bom que você admite que o Beto não é perfeito!
Suzete: o Amor não é perfeito! é o amor que é essa doença aí que você descreveu...
Luluzinha: então eu sou a que mais ama?
Carmélia: e o que eu tenho com o Beto não é amor?
Suzete (que no fundo amava a Carmélia que tinha o Beto mais pra ela): acho que definir não vale a pena.
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Beto: oi meninas, foi mal o atraso, sei que a gente tinha marcado de sair mas acho que vou jogar bola com os caras!

Carmélia (devota): vai amor, faz o que você tiver vontade...
Luluzinha (com raiva do Beto nunca ter dado atenção pra ela): vai deixar a Carmélia pelo futebol, Beto?
Suzete (já se imaginando na cama com ele): Beto, posso pegar uma carona com você?

mas o Beto não deu carona, ele ia mesmo jogar futebol, e a mulherada continuou dsicutindo por horas, acaloradas pela ausência do Beto, sem chegar a nenhuma conclusão sobre o amor.

sábado, 25 de dezembro de 2010

Natalino

Hoje resolvi ser temática. Acordar com a cidade em silêncio, o som da brisa mais vivo, até mesmo um elogio, logo cedo de manhã, merece algumas palavras: sábado de natal.
Feriado mundial.
Todos descansando, mesmo os não religiosos. Todos aproveitando a deixa do menino Jesus pra renascerem de alguma forma. Homenagem à instituição familiar, diria - é disso que se trata esse dia 25... Família é sangue do sangue? Cor da cor? Quem entra, quem sai? Quem fica indesejado, quem é querido, quem traz saudade?
Tem os que se vêem mais uma vez, do mesmo jeito que todas as outras do ano - repetição. Famílias que se bastam, impermeáveis.
Tem os que comparecem só nesse dia, esses não tão familiares... mas amigos, isso sim, verdadeira família.
Tem os que ficam em casa, sozinhos,renegando tudo o que representa essa data (daí se há melancolia, rebeldia, ou alívio, só eles mesmos poderão dizer).
Tem os que correm enlouquecidos de ceia em ceia: famílias de todos os lados... E o movimento é próprio da intensidade da pergunta - a quem, afinal, ofereço-me?

data que traz ao tom mais agudo o amor ao outro, o amor próprio - reconhecimento, ou imagem (não posso parecer sozinho e nem ovelha-negra) - traz a vontade de não excluir ninguém, ou se excluir um pouco de todos. Agradar o outro com presentes, com presença. Simbolizar o que quer que esteja entre o desejo da comunhão e de expulsão.
O bom mesmo é que depois desse apanhado de possibilidades que uma virada de 23:59 pras 0:00 horas faz emergir, acorda-se, no dia seguinte, emfim, em silêncio.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

adeus

- e me sobrou um resto de suspiro... fiquei com ele preso no peito, pra me livrar do vazio, e quase acreditei que podia segurá-lo em mim pra sempre, deixa-lo quente preso dentro de mim. evitar a separaçao, isso. evitar contato com o nada que me habita, quando nem mesmo o ar é próprio. nada é seu, nada se possui no mundo. sinto que se eu pudesse, de fato, te possuir, seria enfimm completa. seria feliz, voce sendo uma parte (minha) fixada em meu corpo, seu corpo quente cohabitando o meu. te amo e queria que voce me livrasse de todas as dores, de ser mais uma no mundo, mais uma mulher dentre tantas que dariam tudo por amor. mulheres essas sempre dispostas à entrega e à devoçao, seja a um homem, seja a Deus. Devotar algo é livrar-se do suplício de escolher, é deixar tudo, enfim, nas maos de alguem. Nas suas maos eu deixaria o ar que respiro.

- a mim sobrou uma espécie de raiva que me contempla a todo o instante que me recordo: estamos separados. a raiva amortece meu coraçao a lidar com a mudança, com a falta daquela parte que constituia um todo. um todo que era eu. agora olho meu corpo e me vejo diferente, claro, mas um homem bonito, meio inseguro, e com uma raiva enrome dentro de si que faz da beleza um traço grave. seduizr agressivamente foi sempre o que te fiz, foi sempre minha maneira de te ter pra mim, inteira. agora o desejo vai evanescendo e sobra a raiva. o sexo fica desencarnado, vai morrendo. a raiva que sobra me aconhega no vazio do sem-ti, mas me impele a te deixar pra tras, como que morta.

domingo, 19 de dezembro de 2010

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

A roliça

Entram na padaria com os dois filhos adolescentes:

- Meu amor, vai comer o quê?
-Sei lá, um Beirute! E você?
- Omelete com bacon. Pros meninos, misto- quente.
- Garçom!!!
- Olha querido a bunda daquela mulher, aposto que é siliconada...
- Você ta reparando em bunda siliconada, agora? Que isso, mulher?
- Ué to comentando, é de impressionar, olha, a bunda durinha e a mulher deve ter mais que a minha idade!
- Acho horrível, ela devia era comer direito, malhar, e ia sempre se manter gostosa... essa mulherada acha que agora é tudo fácil, come o que quer, fica sentada a vida toda na porra dum sofá, pra depois querer ficar gata molhando a mão de um cirurgião plástico. Abomino!
- Nossa querido, você se irrita mesmo. Nem devia ficar assim tão irritado na frente das crianças...
-Que crianças? ! Esses moleques já falam grosso! São homens o suficiente pra entender por onde passa o nosso desejo, mulher tem que ser feminina, tem que curtir se cuidar e querer agradar o homem sempre. Tem que ter esforço, dedicação pra isso. É bom eles ouvirem o pai...
- Você é grosso, grosso, acha que sabe ensinar pros meninos o que se tem que querer numa mulher? Espero que eles queiram outras coisas, não as que você quer! Palhaço.
(chega a omelete)
- Garçom, só veio o dela?
(os outros pratos ainda estavam aprontando)
(o marido a observa deliciar-se com aquela comida meio gordurosa e se irrita!)
- Você na sua idade não devia comer essas coisas...
(o mais novo desaquieta-se de imediato e olha a mãe)
- Seu grosso, eu sou mãe de dois filhos, sacrifiquei minha vida por eles e por esse casamento, deixei de trabalhar pra dar atenção a esses meninos, porque não quis ser uma mãe ausente, e eu mesmo assim não tive tanto tempo e tanto luxo pra passar tão boa parte do meu tempo com academia e regiminhos! Você queria que eu fosse uma madaminha é? Que passasse o dia malhando e fazendo compras... seu ridículo!
(chegam os outros lanches)
- Ta bom, não falo mais...
(ele e os meninos engolem a seco, devagar, enquanto ela traça sua omelete em dentadas voluptuosas)
- Garçom! Quero um pouco de pão (e dá-lhe uma piscadinha malandra)
- Ah! Vai ficar provocando agora? Você tem quantos anos?
- Tenho 5 aninhos! Esquece que no fundo eu dentro dessa mulher já meio envelhecida sou uma menina? Esquece disso?
-(engole seco) Não querida, sei que você é minha menina.... desculpa.
- Ok.... vamos comer.
(silêncio...só as mastigações)
- E vai juntando dinheiro pra pagar a minha lipo!

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Mar

Vou sair de São Paulo pra ver o mar e ficar em companhia dele, só dele. O mar e a sua constância, sua mono-tonia, contrastam com a polifonia característica da cidade. Acordar com o mar e uns apitos dos ambulantes na praia compõe uma orquestra bastante diferente daquela que leva buzinas, motores e uns ruídos agudos inomináveis vindos de todos os lados.
Na praia todo ruído leva nome, cada sensação é cheia de sentido, cada decisão envolve sempre melhores ganhos do que perdas. Andar ao lado do mar é um caminho certo, faz um rumo. Sentar de frente pro mar nos deixa cara a cara com algo grande, um espelho, um devaneio, um nostálgico amor. Por todos os ângulos o mar se faz bom amigo, fiel protetor, minucioso informante das condições climáticas, das vibrações de energia que nos circundam.
Vou-me embora pra onde tem mar, curtir a minha solidão, a minha tristeza, meus momentos de confusão e de paz, e a minha capacidade de dialogar quase que unicamente com meu mundo interno. Vou por a prova meu mundo fantasístico que, se não funcionar bem, vai me deixar exposta ao deus dará da solidão amedrontada.
Melhor que retiro espiritual é retirar-se de tudo o que causa ruído à pureza das fantasias e ao gosto do desafio particular. Retiro para o mar.

À minha avó, eterno mar