domingo, 25 de março de 2012

56 dias de outono

Pesadelos acontecem em plena luz do dia

Após uma noite não dormida

Após sonhos sem sono;

Quando um corpo fatigado

Pede cama e não a encontra

Pede arreio em um mundo acelerado

Sem poder frear seu passo largo

De cidadão afixionado

Por voltas que sempre dão no mesmo lugar.


É de um tremendo mal-estar

Estar nostálgico de sonhos

E carente do conforto de si mesmo

Aquele que se pode encontrar

Na própria pele

Aquele que vem da possibilidade

De devanear

Da fantasia bela

De estar acordado: esperando pasar a estação.

segunda-feira, 19 de março de 2012

na janela

Da janela, escuto

o mar!

da janela, escuto

soprar o vento

da janela, escuto

o ronco das buzinas
freios bruscos na madrugada

da janela escuto

seus passos no andar térreo
meu desejo de te ouvir à porta
chegar tilintando taças de cristal

.............

Eu gosto de tudo que ela faz

como fala
como nada
com se banha

Eu gosto de tudo o que ela faz

como voam
seus cabelos compridos
penteados de manhã

Eu gosto de tudo o que ela faz

como espera pelo meu carro
atenta, ouvidos aos pés
da janela

Eu gosto de tudo o que ela faz

como ela vêm a mim
quando eu chego em casa
com um vinho nas mãos.

quinta-feira, 15 de março de 2012

wormhole

outra vez, sufocada.

pego meu celular e vejo que horas são
00:21
não é tarde pra quem tem que acordar às 8:00.
(8:02, pra ser mais exata)

o que fazer com esse monte de entulho dentro da cabeça? o que fazer com a cabeça gorda, pesando pra todo lado?

são os tempos: todos os tempos que se intercalam em mim, acumulando num lugar só.

aí, eu sempre vou até a janela e ensaio um devaneio, que às vezes vira um choro calado, ou até uma oração
(não, não rezo a Deus pai Nosso, simplesmente oro!)

oro a um oráculo:
grande afago nos meus cabelos
porto-seguro
dobra do universo

oro a qualquer coisa;
pois qualquer coisa talvez vença essa velocidade
com que os pensamentos engordam a minha cabeça.

quarta-feira, 7 de março de 2012

pela primeira vez

tem uma lixeira em baixo da minha escrivaninha
pela primeira vez, em anos
ao deitar em minha cama
e olhar para a escrivaninha
vejo a lixeira

novidade
jamais esteve aí, essa lixeira
e eu nunca havia me questionado sobre o esforço cotidiano de ter de ir ao banheiro jogar o lixo
ou à lixeira da cozinha;
jamais me questionei sobre a praticidade que eu já poderia ter me doado.

essa lixeira recém-comprada
pensada pra compor outro cenário
outro ambiente
outra casa em que vai haver:
praticidade

outra casa em que vai haver
pijamas mais sexys
conversas de madrugada
bebdidinha no fim do dia
baseado quando vier a calhar

outra casa em que vai haver
duas pessoas
uma varanda menor (com cadeiras)
uma cama maior (sem cadeiras)
um sofá antigo com dois assentos

vai haver cozinha diferente
banheiro com quadro na parede
luminárias e mais escuridão
mais silêncio e mais música
melodias novas

escritório
prateleira de livros
meu mesmo quadro de girassois do Monet
meu mesmo mancebo de colares da vovó
e uma lixeira, de baixo da escrivaninha.

domingo, 4 de março de 2012

fim de semana

Árvore com vento
Cadeira com lá fora
Banheira com Gim Tônica
Sono com cama
Preguiça com desculpas
Noite com grilos
Sexo com solidão
Poesia com Ray Charles
Barato com piscina
Menino com menina