sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Ipê Roxo

e daí vejo um ipê roxo todo florido na beira da rua cheia de trânsito. vem um sonho, um sonho lindo, em que eu estava na europa com o meu namorado, andando pela cidade linda e antiga e desfrutando cada incompreensão, cada estranhamento. e daí me lembro das macieiras de folhas amarelas de praga, e o que era um sonho vai ficando perto, e eu escuto o estrondo dos bondes as 4 da manhã de baixo da janela do meu quarto. daí eu vejo um ciclista contornando os carros raivosos, vem no sonho um certo jardim bem verde que não começa e nem acaba, árvores grandes e poucas bicicletas. e daí nada mais vem à cabeça que não seja estar livre destas ruas tão conhecidas que vão da minha casa ao meu trabalho, do meu trabalho à faculdade, da faculdade de volta à casa e assim... .daí o meu desejo de estar aberta a uma cidade que me trague, que me sugue, que alcance meu interiror mais ávido por fluidez. fluidez dos movimentos, dos transeuntes, das palavras irreconhecíveis que ameaçam a segurança de se saber uma língua natal. como num sonho com um ipê roxo num inverno berlinense povoado de árvores desnudas, o ipê roxo nesse setembro paulistano remete ao sonho com a vida em outros ares.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

fantasiando a minha casa (??)

Ja há uns 20 dias viajando, e a imagem do aeroporto de Guarulhos começa a se misturar com o Madrid Barajas e o Charles de Gaulle. O sol madrileno em seus últimos dias de setembro me relembra dos primeiros dias de verão paulistanos que chegarão em breve.

Lar real e lares criados: viajar de país em país é deixar rastros de si por ruas estrangeiras e levar consigo pedaços de esquinas que viram, por alguns dias, sua casa.
Em cada cidade, um lar.
E ao chegar em São Paulo, a idéia é iniciar, enfim, a busca por um lar. NOSSO.

Nos devaneios, paredes pintadas de verde claro, postais e posteres enquadrados, fotos de NÓSDOIS nessa viagem mesma que acontece agora (e o agora se desfaz ao mesmo tempo em que acontece).

Cama, bagunça, vinhos, um mac book, janela pro Ipiranga? Passos até o metrô... nos meus devaneios tem um metrô do lado de casa, e São Paulo vai ter um grande metrô como o daqui de Madrid...em dez anos quem sabe.

Em dez anos, quem sabe, tudo isso aqui vai virar uma façanha a ser contada, escrita, nostalgicamente lembrada e - tomara - reeditada.

Quando eu era pequena e acordava no meio das férias numa cama que não era a minha - o sentimento de felicidade era tão grande que, no mesmo instante, batia a tristeza de se lembrar que um dia a mais era um dia a menos naquela cama.

Cada viagem é uma reedição dessa cama feita de saudade...

sábado, 10 de setembro de 2011

Budapeste

Chico Buarque disse em seu livro que Budapeste era amarela. E então cheguei aqui esperando algo assim, uma grande gema de ovo, ruas de aparência iluminada, como se eu chegasse em uma cidade que representasse toda uma dinastia de ouro. Grandiosa, espetacular! Budapeste pode ser tudo, mas só é amarela quando está coberta de sol.
Quando se chega depois das 22 hs, não há outra cor senão um assustador e penetrante preto.
Budapeste: cidade negra.
E o negro vem do céu, da noite, dos predios antigos sem restauração, talvez paredes chamuscadas pelas bombas caídas na guerra, pelos tanques nazistas, depois soviéticos, e depois pelas próprias rajadas húngaras clamando liberdade.
A grandiosidade daqui deixa-nos do tamanho de formigas, e também sua história milenar, e também a dificuldade de sua lingua. Ridicularizados pelo húngaro, nós jovens vindos la da America, falando em inglês - há lingua mais demoniaca? - acabamos exilados no analfabetismo. Analfabetos em um pais estão fadados a viver em silêncio e a buscar compreensão em toda e qualquer outra linguagem - musical, gestual, visual!
Budapeste é farta de linguagem visual, e caminhando ao fim de tarde por ruas ecleticamete habitadas por gentes de todos os tipos - hungaros e nao-hungaros - descortina-se das pequenas ruas, quase por acaso, um rio!
Eis a cidade da qual Chico falou: Budapeste `as margens do Danubio, cheia de pontes e torres, no por do sol. Amarela.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

por terras distantes...

Ja ha uma semana inteira viajando... Das largas e informativas ruas de Berlin, com suas ciclovias, arvores perfeitas e loiros altos, seu pragmatismo eficiente de tudo e em tudo ao nosso redor, chegamos a capital checa. Monumentos tao mais suaves e ornamentais que os gigantes berlinenses, os cartoes postais de Praga tem sempre altas torres, contornos goticos e ruas de bonecas. Mas as bonecas de Praga sao feitas aos montes, em escala larga e padronozada, posicionada estrategicamente nas souveniers shops para serem tragadas por turistas avidos por consumo. Um mar de dinheiro para o emergente capitalista cesky.
E nos atropelam, os turistas em bandos, a cada farol, a cada ponte, a cada passo sobre os anitiquissimos paralelepipedos de uma cidade de uns bons vinte seculos de vida...
Agora, no trem rumo a Polonia, mais uma rainha leste-europeia, mais um territorio a ser descoberto dentre essas todas filhas bastardas da falida URSS.
Roteiro bom para um filme de Kielowsky (ou pro filho dele, mais moderno por certo), a Cracovia promete - pelo menos em minha esperan'cosa fantasia de mochileira viajante - lindas ruas vermelhas, cheias de historia, identidade e personalidade! Paradeiro incerto a turistas avidos por consumir, nao souveniers - mas toda uma energia de um povo, de um tempo novo, de um tempo antigo que ainda vive. Avidos por algo mais...
Meus sonhos de Sao Paulo com a desejada aventura europeia vem cada vez mais tornando-se concretos. Da poerira invisivel dos meus sonhos, Berlin, Praga e agora Cracovia vao ganhando asfalto, tijolos, idiomas, sabores, odores, texturas...
A poeira invisivel dos meus sonhos ganhou materia, e agora e' a Europa que ganha minha propria poeira invisivel.
A noite, ao deitar-me em distintas camas de quartos ainda estranhos, meus sonhos invadem a cena daqui.Noutra cena, sou eu rodeada de quem eu conheco e por quem eu anseio, sou eu rodeada por outros asfaltos e outros tijolos - os do Masp, da Dr. Arnaldo, de alguma sala de aula da PUC (temida sala de defesa de mestrado), a mesma e sempre sala de almocar da casa da minha avo'.
Na cena onirica, sou eu infiel ao solo que piso, ao tempo que crio a mim e ao Joao nesse encontro com o resto do mundo - as vezes tao repleto de desencontros entre nos dois.
Na cena onirica, viajo kilometros na velocidade de um raio inconsciente, e revivo o que eu vivo sempre.
Ha escapatoria a tediosa e repetitiva rotina de minha vida?
Ha como forjar uma amnesia do Brasil ao qual pertenco e mergulhar completamente nas profundezas deste lindo Estrangeiro?
O Joao ao meu lado na cama desperta cada dia mais europeu, cada dia mais desprendido de sua materia-mae. Nao e' mais meu vinculo a terra natal, mas sim a aventura presente!
Meu vinculo ao roteiro de viagem que meticulosamente tracamos e que agora, mais do que nunca, prova-se completamente intracavel.
A cada novo dia, emerge o incerto, e o sol tem brilhado a nosso favor. E falo por duas pessoas em uma so'.