Estou, como de costume, às 14:45 a sua espera no portão do instituto.
Ele chega falante, sorrindo, reclamão da dor de cabeça.
Repete sem parar, nervoso, a percepção intensa, sofrida e arrebatadora da própria dor de cabeça.
A intensificação das queixas nos obriga a função nem sempre tão inspiradora de boas políticas: tomar um remédio.
Após o analgésico, pílula quase-mágica, tentamos entrar em seu grupo de terapia.
Uma, duas, três vezes, chamados dalí e daqui, seduções de todos os tipos, tentativas determinadas de incluí-lo no grupo aonde não tem desejo de se incluir.
Daí, conseguimos, ele fisgado pela tela do computador, fotografias da Coréia, seu país de origem, no google imagens.
Lembrou-se de quando era criança.
Buscou o google pelo ano em que ainda vivia na Coréia, 1985.
Falou alto e sem descanso das fotos que encontrou, e assim conduzia-se de uma pessoa a outra no pátio do instituto.
Quer saber quem é, o que é aos olhos dos outros.
Há Eu ou desejo nessa sua experiencia de ser?
Fala e anda em círculos, em uma repetição massante e insuficiente a sua busca por respostas.
De repente, algo o silenciou.
O rapaz sentado ao canto, acompanhado de uma moça.
Autista, o olhar vidrado nos próprios punhos.
Ele olhou curioso, e atônito, durante minutos a fio, frente a frente ao rapaz.
Algo de tão estranho e tão familiar naquela figura bizarra.
Um espelho distorcido havia naquela sua visão, espelho dele mesmo.
A maravilha e interesse tomaram conta de seu olhar.
Pouco depois, quando da minha intervenção e a da at do rapaz na conversa, quebrou-se o encantamento.
Saiu andando, procurou-me para perguntar porque o queriam ver nervoso?
Algum estado de horror foi tomando-lhe as feições e o olhar.
O que havia visto naquele rapaz tão grave, tão mais grave e regredido que ele, que o assustara?
Tentei nomear o que ele sentia, aquele rapaz no fundo só o quereria tranqüilo.
Senti-me insuficiente diante daquilo que lhe acontecia, jamais poderia traduzi-lo, e nem ele o podia para mim.
Algo aconteceu, algo que o fez se deter.
O início de uma reposta às suas perguntas tão cruas e lancinantes.
É necessário algum silêncio neste belo momento.
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