terça-feira, 26 de julho de 2011

Não comi

Eu que andava fraquejando do estômago - esse órgão que se sensibiliza a cada entra e sai de emoções - não comi.
Não comi o pão com queijo e mortadela servido no lanche.
Jazia mal dormida de uma noite de nós na cabeça, eu que andava com tanta dificuldade de desatar nós - não comi.
Não comi o pedaço de torrada no café da manhã.
Empapuçada de uma espécie de agonia constante, que me subia e descia pelo corpo todo em formato de dor - não comi.
Não comi a macarronada à putanesca do restaurante tão charmoso.
Também não comi o feijão, que sempre acompanha o arroz no almoço dos dias todos. Comi arroz e carne, tudo seco no prato.
Eu que andava engolindo tudo a seco: os pedidos, as promessas, os olhares investigadores de minha pessoa - Não! eu não queria comer nada.
E como quem se veste inteira para um baile de máscaras, meia-calça, colant, tudo colado no corpo: não expus nada! Tapei cada orifício. Cada boca do meu corpo.
A dúvida e a inquietude alimentam a alma de banquetes interiores feitos de vácuo. Comi tanto vácuo que deixei de lado o pão, a batata, o pedaço de banana. Deixei de lado todos os jantares.
Mas fiquei com o vinho.
E se meu corpo servir de carne a ser amordaçada, abocanhada, despedaçada e deglutida como a mais saborosa das carnes - então me deixo levar a qualquer comilança do amor.

5 comentários:

  1. E eu cá: digerindo teu texto. tantas linhas lindas pra engolir! vou comer em dez viagens!

    ps.: mal sabe como veio a calhar isto agora! vou precisar ler mesmo umas dez vezes!

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  2. vim aqui comentar de novo. esse texto é FODA!

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  3. Cris, eu e a fran estamos agora lendo, aliás, a fran está lendo pra mim o que vc escreveu. E eu, Fê, fiquei muito, beeeem envolvida, emocionada com o que escreveu... (fazia tempo... fora do comum... de sentir inveja...) Muitos beijos Fê

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