As mulheres
Ntunzi as sonhava com tal ardor que elas se tornavam mais reais que as de carne e osso. Certa vez, nessa alucinada realidade, ele encontrou uma mulher de mil belezas.
Quando a aparecida lhe tocou no braço e ele a fitou, um frio o golpeou: a moça não tinha olhos. No lugar das órbitas, o que se vislumbrava eram dois vazios, dois poços sem paredes nem fundo.
- O que aconteceu com seus olhos? tremeruzilham-lhe as palavras.
- O que têm meus olhos?
- Bom, não os vejo.
Ela sorriu, espantada com o embaraço dele. Que ele devia estar nervoso, incapaz de acertar as visões.
- Os olhos de quem se ama, nunca se vêem.
- Entendo - afirmou Ntunzi, recuando às mil cautelas.
- Tem medo de mim, Ntunzito?
Mais um passo para trás, e Ntunzi se desamparou num abismo e ainda hoje ele está tombando, tombando, tombando. Para meu irmão o ensinamento era claro. A cegueira é o destino de quem se deixa tomar de assalto pela paixão: deixamos de ver quem amamos. Em vez disso, o apaixonado fita o abismo de si mesmo.
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