E veja lá se não é verdade
que quando vou embora de onde sou cativada pelo cheiro
(cheiro de prenúncio de felicidade)
a vontade que me dá é de voltar!
domingo, 29 de julho de 2012
sábado, 21 de julho de 2012
Vou abrir um restaurante no décimo andar:
Comida à vontade
Paga-se com a visita e o vinho
Quiçá uma torta de limão
Ou algum presente lá da Bahia pra essa terra tão fria...
Espagueti pra quem gosta de espagueti
Com alho e champingons
Ou um bom tomate pelado
Sálvia, salsinha e manjericão
Frango pra quem gosta de frango
Curry importado da Costa Rica
Teryaki importado da GNT
E as jacked potatoes do Jamie Oliver!!
Pão de queijo pra quem gosta de cerveja sem barriga vazia
Ou castanha de caju
Ou coalhada da vovó
Quem sabe um dia até uns bolinhos de aipim (óleo na cozinha,
ai de mim)
Carne vermelha pode ser rosbife caseiro num sanduba
Ou um fraternal filé ao molho mostarda
Ou uns hambúrgueres feitos pelo marido
Sócio e auxiliar da cozinha do décimo andar
No fim de tudo, uvas eternas
Hálito de um bom pesto
Sono e barriga cheia
Comida é amarração pro amor!
(aprendam, periguetes! aprendam, astrólogos da patifaria!)
quinta-feira, 19 de julho de 2012
da fertilidade e da morte
...algo me diz que aquilo que me fertiliza, me entope. e vou transbordando até o fim, até o talo do talo. E de repente, não sou mais fértil: sou um corpo pequeno, enfiado em um sofá, e os pensamentos rodam e rodam dentro dele, e nada de novo acontece.
Nada de novo pode acontecer no já sabido.
Os mesmos pensamentos em cada minuto que vem.
É da repetição que nasce a vida?
Eu quero estar fértil, preciso abrir uma porta...
(esse mundo todo feito de portas fechadas, umbigos, umbigos)
Eu quero estar fértil,
retirar-me do que faz morrer, apontar o dedo pra cara da morte (essa morte feita de umbigos gelados e estáticos nos lugares já sabidos que ocupam, essa morte sem dignidade, essa morte que acontece aos vivos) e denunciá-la com toda a raiva que posso sentir.
Denunciar todo o abuso, toda a sedução barata: o que me faz morrer.
A raiva gritada: será o parto que procuro.
Nada de novo pode acontecer no já sabido.
Os mesmos pensamentos em cada minuto que vem.
É da repetição que nasce a vida?
Eu quero estar fértil, preciso abrir uma porta...
(esse mundo todo feito de portas fechadas, umbigos, umbigos)
Eu quero estar fértil,
retirar-me do que faz morrer, apontar o dedo pra cara da morte (essa morte feita de umbigos gelados e estáticos nos lugares já sabidos que ocupam, essa morte sem dignidade, essa morte que acontece aos vivos) e denunciá-la com toda a raiva que posso sentir.
Denunciar todo o abuso, toda a sedução barata: o que me faz morrer.
A raiva gritada: será o parto que procuro.
segunda-feira, 9 de julho de 2012
Milan Kundera
"O olhar do homem já foi descrito muitas vezes. Ele pousa friamente sobre a mulher, ao que parece, como se a medisse, a pesasse, a avaliasse, a escolhesse, ou seja, como se a transformasse em coisa.
O que não se sabe tão bem é que a mulher não está inteiramente desarmada contra esse olhar. Se ela é transformada em coisa, ela então observa o homem com o olhar de uma coisa. É como se o martelo tivesse de repente olhos e observasse fixamente o pedreiro, que se serve dele para enfiar um prego. O pedreiro vê o olhar mal do martelo, perde a segurança e dá uma martelada no próprio dedo. O pedreiro é o senhor do martelo, porém é o martelo que leva vantagem sobre o pedreiro, porque a ferramenta sabe exatamente como deve ser manejada, enquanto aquele que a maneja só pode sabê-lo mais ou menos. O poder de olhar transforma o martelo em ser vivo, mas o bravo pedreiro tem de sustentar seu olhar insolente e, com a mão firme, transformá-lo novamente em coisa. Dizem que a mulher vive assim um movimento cósmico para o alto e depois para baixo: a elevação da coisa tornada criatura e a queda da criatura tornada coisa".
O livro do riso e do esquecimento
O que não se sabe tão bem é que a mulher não está inteiramente desarmada contra esse olhar. Se ela é transformada em coisa, ela então observa o homem com o olhar de uma coisa. É como se o martelo tivesse de repente olhos e observasse fixamente o pedreiro, que se serve dele para enfiar um prego. O pedreiro vê o olhar mal do martelo, perde a segurança e dá uma martelada no próprio dedo. O pedreiro é o senhor do martelo, porém é o martelo que leva vantagem sobre o pedreiro, porque a ferramenta sabe exatamente como deve ser manejada, enquanto aquele que a maneja só pode sabê-lo mais ou menos. O poder de olhar transforma o martelo em ser vivo, mas o bravo pedreiro tem de sustentar seu olhar insolente e, com a mão firme, transformá-lo novamente em coisa. Dizem que a mulher vive assim um movimento cósmico para o alto e depois para baixo: a elevação da coisa tornada criatura e a queda da criatura tornada coisa".
O livro do riso e do esquecimento
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