assistindo Rock 'n Rio em casa
sábado, 20:34
calor primaveril
Sebastião Salgado acaba de me emocionar
Procurou e registrou lindamente santuários terrestres
esteve em cada "madre tierra" do planeta
20 seconds to mars
What the hell??
As bandas de hoje em dia não são como as de antigamente
não acordei com a obra
nem com o trânsito
hoje, sábado
cada dia um sábado mais próximo de meu mês de outubro
já vou me despedindo
da vista aberta de minha janela
Dos ataques histéricos em shows
Dos grandes e cansativos eventos pops
doa altos e baixos que emocionam os vinte anos
E aos 29 com retorno de saturno
Decidi começar a viver
Despeço-me de Renato Russo
da deliciosa sensação de não ter responsabilidades
E vou daqui
à grande Real!
sábado, 14 de setembro de 2013
sábado, 7 de setembro de 2013
crônica: antes do primeiro carro
Todos os dias ao meio dia e meia,
eu me postava ali na exata esquina da rua Tamandaré com a Castro Alves.
A mochila dependurada num dos ombros, algo entre as mãos. Não me recordo se
nessa época usávamos telefone celular. Ou se eu carregava um walk man/ disk
man, qualquer desses aparelhos que hoje só existem em antiquário, ferro-velho,
ou na casa desses colecionadores de relíquias do século XX.
O milênio há pouco havia mudado. Essa nova era se impunha diante de mim
como uma monstruosa perspectiva de futuro. Nos anos dois mil eu não só
alcançaria minha década dos vinte, como também teria meu primeiro vislumbre da
circulação independente pela cidade. São Paulo era um monstro que se transfigurava
a cada dia! A cada falha de atenção, prédios novos, ruas, mãos de ruas, tudo ia
mudando de tempos em tempos sem aparente motivo. Sempre acreditei eu que os
motivos das ininterruptas transformações de SP tivessem a ver com um projeto
pensado pra cidade. Pra que o transito fluísse mais rápido, pra que os
habitantes se acomodassem melhor por essa selva. Hoje em dia, creio piamente
que a companhia de engenharia de tráfico tenta atrapalhar o transito o máximo
possível e levar-nos a loucura extrema pra que saiamos, as pressas, pra outros
centros urbanos. Quem sabe.
São Paulo se agigantando e eu ali, na pequena esquina do bairro da
Liberdade, com um frio no estômago que também se agigantava É difícil imaginar
a imensidão e complexidade do transito quando seu pequeno transito foi da sala
de aula ao banheiro, depois a lanchonete e sala de aula novamente. Todo meu
mundo cabia naquela mochila de livros, cadernos e elásticos de cabelo esquecidos.
As vezes um brinco sem par, uma garrafa d`água, lápis sem ponta, agenda
super-lotada. Encarando meus próprios sapatos, levo um susto quando sou
abordada pelo carro que estaciona em minha frente, uma leve buzinadinha que me
desperta num susto. Um Golf Verde, como era lindo! Pulo eufórica para o banco de
motorista e meu avô condutor se realoca para o banco de passageiros.
Era eu, pela segunda vez, que dirigiria o Golf de vovô até sua casa, no Morumbi. Meu velho avô
estava se aposentando, querendo aproveitar as coisas da vida antes que fosse
tarde. Diferente da minha, sua perspectiva de futuro ia diminuindo
gradativamente. Fez essa resolução de me buscar todos os dias no cursinho pra
me fazer praticar a direção. Eu já havia passado pela jornada fatigante da
auto-escola e conseguido, sem propinas, uma carta de motorista! Mas isso não me
era suficiente para dissipar o nervosismo. Vovô é do tipo que briga quando
alguém faz alguma grande besteira. Do tipo que fica se lamentando pela possibilidade
de burrice alheia. Quando lia o jornal, ridicularizava todos os personagens que
faziam parte dele. Só mesmo depois de ter me tornado psicóloga é que fui
entender que vovô não era, de fato, o dono da verdade. Só se fazia ser porque
era um grande vaidoso. Se há loucura familiar no mundo, ela em geral ocorre
quando há um grande vaidoso na família. Meu avô.
Eu tinha medo de errar uma coisa estúpida, engatar a primeira na subida e bater no carro de trás, ou
não conseguir trocar de faixa, deixar o carro morrer em lugares muito movimentados.
Mas meu avô não deixava de estar ali, todos os dias, sem falta. Empenhou-se de
coração em deixar-me conduzir o Golf Verde, como se fosse meu carro. Naqueles
tempos iniciávamos uma série de viagens de carro da Liberdade ao Morumbi. Coisa
de gente grande.
Naquele dia, a viagem se iniciou sem grandes problemas, vovô bem humorado
tentando adivinhar o que vovó estaria fazendo de almoço. A rádio sempre
sintonizada na cultura, musica clássica. Para meu avô, toda e qualquer outra
musica que tocasse em toda e qualquer outra rádio não passava de um grande
ruído. E, de grandes e tortuosos ruídos, já estávamos fartos dentro do transito
paulistano. As subidas e faróis vermelhos do bairro da liberdade deixavam-me
totalmente aflita. Meu avô sempre gritava: usa o freio de mão! Mas ainda não me
era automático usar os pedais e o freio de mão ao mesmo tempo. Eu, fora de
sintonia com o carro, tinha por vezes vontade de desistir e continuar usando o
bom e velho metro, ônibus. Ou as caronas. Mas o chamado da independência que
urge aos dezoito anos era mais forte.
Até muito perto da 23 de maio, tudo ia saindo bem. Meu avô orgulhoso de
mim, tranqüiliza-se a medida que nos aproximávamos de sua casa, cantando junto
com a musica. Ópera. Mas quando a sensação é de extrema potencia, algo
mostra-me que , na vida, não há ilusões. Eu não era, afinal, uma condutora
experiente. No acesso à 23, uma ligeira curva seria meu primeiro grande erro.
Bati.
Nem me lembro bem, bati sem mais nem menos, fiz uma curva meio reta, ou
talvez torta demais. O fato é que o outro condutor, ao ver a minha cara de
menina, minhas pernas magras tremendo de medo, começa a brigar com meu avô. É ele o responsável pela pirralha
desastrada? Por minutos, fico em silencio e deixo que os dois ali resolvam a situação.
Mas quando o tal chama meu avô de
irresponsável, utilizo-me pela primeira vez da carta de motorista: era só uma
permissão temporária, mas era oficial. Daí, tudo mudou, e meu avô e eu nos resolvemos
com o tal estressadinho. Briga terminada, Peco chorosa ao velho que dirija pelo
resto do caminho. Depois daquilo, eu não podia mais. Só que ele, como bem se
havia instruído do cargo de professor, volta ao banco dos passageiros e me abre
o sorriso mais bonito que já vi. “Pra acertar, é preciso errar algumas vezes”.
Ditado de vovô. Meio clichê, pode-se dizer, mas serviu pra que eu adentrasse a
vida adulta sem tantos ruídos e frios no estômago.
domingo, 1 de setembro de 2013
Luz
Presenciei o florescer do ipê amarelo
Neste ensolarado primeiro de setembro
E por trás dele, soparava um vento de fuligem
Tingindo de pintas pretas o azul do céu
É o que se espera:
Umidade baixa, incêndios frequentes ao redor
Quanta luz, quanto calor
Que podemos fazer desse mundo
Em que nada nos vem a luz?
Este mundo
tão descrente dos próprios governantes
É o que se diz:
fome de poder
jamais poderá ser política
Afinal,
Haverá flores
Nesta primavera?
Neste ensolarado primeiro de setembro
E por trás dele, soparava um vento de fuligem
Tingindo de pintas pretas o azul do céu
É o que se espera:
Umidade baixa, incêndios frequentes ao redor
Quanta luz, quanto calor
Que podemos fazer desse mundo
Em que nada nos vem a luz?
Este mundo
tão descrente dos próprios governantes
É o que se diz:
fome de poder
jamais poderá ser política
Afinal,
Haverá flores
Nesta primavera?
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