quinta-feira, 29 de julho de 2010

Freud

O amor é resultado da inquetude própria do estranho.
O campo do amor dá lugar ao horror. Horror e Amor são irmãos gêmeos.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

sentia culpa.

pelo quê, não tinha muita certeza...

Começou a inquietude após o convite inesperado àquele jantar (de adultos), não quis ir mesmo querendo, sei lá o que! vergonha... hesitação por algo a que ela fantasiava não corresponder.
melhor manter sua imagem do que sua autenticidade. num jantar seria autentica em demasia, ela com seus risos infantis e seus trejeitos que denunciariam sua vontade de ser filha. nao podia ser filha de quem a incentivava ao bom nível de ensino, à independencia, ao deslanche de sua carreira.

Mas ser filha era sempre tão melhor, tão mais confortável. depois pensou que a culpa passava mesmo por aí, pelo desapontamento que imaginava causar em todos. porque ela nao podia desapontar?

foi pra casa inquieta pelo dia todo, pelo almoço em que insistiam para que ela trabalhasse em algo que desse mais dinheiro; pelo trabalho da tarde que fazia quase voltuntariamente - em nome de quê, mesmo? - muitas vezes os motivos de suas escolhas lhe fugiam á mente, e era como se tudo ruísse. a vida em um instante não fazia mais sentido, e um trabalho que desse mais dinheiro valeria de quê?

Ela sempre querendo ser filha... a culpa é um preço que se paga.

grama necessária nesse momento, poderia haver um cheiro de orvalho, estrelas e braços quentes de um homem...

fantasia

terça-feira, 27 de julho de 2010

hipnose

Ia e vinha, hipnotizada.
A cada nova pessoa, falação.
As palavras iam se soltando sozinhas pelos poros de seu corpo, ela que tinha tanto a dizer e tão pouco a conseguir guardar.
Quando se sentia assim, sem recato, era de todos.
Possuída pelo mundo, objeto.

Ser do outro é ser plena?

sexta-feira, 23 de julho de 2010

sexta a noite

E foi sair...
o que afinal significa essa vontade quase autística de ficar sozinha? precisava sair (esse pensamento soava como se fosse uma dessas mulheres desgostosas que haviam se entediado da vida, das coisas que ela tinha a oferecer).
Mas no seu caso, nao havia tédio por tudo, mas por aquela parte, aquele tempo presente que não acabava. Trabalho, hábitos, compromissos, horários, os mesmos caminhos de sempre, os mesmos lugares de sempre. O que fazer?
Ouvir música parecia boa pedida. Mpb, jazz, blues, qualquer coisa... cidade sampa tem sempre tudo a oferecer!!! como sentir-se entediado numa metrópole como essa?
Mas era exatamente esse o sentimento: tédio, conformismo com a repetição do mesmo. tinha quase vergonha desse sentimento... e andando na rua com a amiga-ruiva (não era mais ruiva, mas continuava sendo essa sua marca registrada) topou ainda com um inesperado na calçada, desses simpáticos e queridos que conseguem, com sua simpatia e queridisse, remexer qualquer coisa conflituosa dentro dela. qualquer coisa que nao cessava de se passar e pela qual ela tinha que ter respeito... devia ela dar explicações ao inesperado pelo seu sumisso? (que ela sabia ter sido resultado de decisão friamente tomada)
O inesperado foi com elas tomar uma cerveja no bar da esquina, elas faziam hora no bar da esquina pra entrar no bar de jazz, bem mais descolado.
claro: a noite acabou se resumindo só ao bar da esquina... como sempre acontecia.
Conversaram da vida, do trivial. Quando o inesperado foi embora, continuaram conversando, agora com aquela intimidade que as duas sabiam tão bem fazer desabrochar. o dia de ontem, o dia de hoje, o pensamento das 7 da manhã, a sensação que se impunha todas as noites antes de dormir, ...., política, seu madruga e outras bobagens. Disso falavam e isso fazia tanto sentido: quanto amor havia no trivial! Quanto amor havia entre elas...

quarta-feira, 21 de julho de 2010

terça-feira, 20 de julho de 2010

terça feira

Com fome, chegou em casa pensando em migalhar uns pedaços de pão. A culpa não deu trégua, e ela se deixou caída na cadeira durante o soar dos roncos de seu estômago pedinte. O telefone iria tocar. Esperava ansiosamente a ligação de tao longe... d.d.i.

Aquele país que ela imagiava Laranja... mesmo ja tendo ido para lá, à turismo bem turístico. A voz envolta por ruídos fazia o coração tremer, ela que esperava tanto por um motivo para ir '" a um outro lugar". Era como se a voz a chamasse. Hipnotizada, ela faria o que fosse, em nome do gozo de estar plena por conta dos suplícios de amor do gringo.

Nada... está em Marcevol (sul fa França). E ela aqui, olhando os mesmos prédios e a mesma calçada de 26 anos ininterruptos. Precisaria ela poder ir à Marcevol para o fim de semana com tanta naturalidade. Ela e ele, esbanjando felicidade, em terras desconhecidas.

Chegou a mãe. Logo após, o namorado da mãe. Na ausência do seu, o namorado da mãe vinha bem a calhar: ao menos trazia um ar masculino à casa, tão impregnada pelas neuroses mãe-filha. Ele era sempre discreto e sempre cordial, além de se interessar em dar aquelas opiniões sensatas, sem pender pra nenhum lado, mantendo uma espécie de pólo neutro na casa cheia de excessos.

Comeram juntos, pouco a pouco, degustando salmão com mel e shoyu e um super cremoso purê de mandioquinha e arroz de muitos e muitos grãos diferentes. Ainda uma verdura refogada com cebola, coisas deliciosas e saudáveis de casa de mãe. Vinho tinto, sempre que vinha o santo namorado. Motivo pra um brinde festivo, de fato.

Buzina de carro cortando o silêncio da noite, onze e quinze, São Paulo calando-se, cedendo à quietude da madrugada. O sabor do vinho ainda na boca, o pensamento laranja. E amanhã o dia é longo, com direito à manicure no final.

Boa noite.

Tentação

“Ela estava com soluço. E como se não bastasse a claridade das duas horas, ela era ruiva. Na rua vazia as pedras vibravam de calor - a cabeça da menina flamejava. Sentada nos degraus de sua casa, ela suportava. Ninguém na rua, só uma pessoa esperando inutilmente no ponto do bonde. E como se não bastasse seu olhar submisso e paciente, o soluço a interrompia de momento a momento, abalando o queixo que se apoiava conformado na mão. Que fazer de uma menina ruiva com soluço? Olhamo-nos sem palavras, desalento contra desalento. Na rua deserta nenhum sinal de bonde. Numa terra de morenos, ser ruivo era uma revolta involuntária. Que importava se num dia futuro sua marca ia fazê-la erguer insolente uma cabeça de mulher? Por enquanto ela estava sentada num degrau faiscante da porta, às duas horas. O que a salvava era uma bolsa velha de senhora, com alça partida. Segurava-a com um amor conjugal já habituado, apertando-a contra os joelhos.
Foi quando se aproximou a sua outra metade neste mundo, um irmão em Grajaú. A possibilidade de comunicação surgiu no ângulo quente da esquina acompanhando uma senhora, e encarnada na figura de um cão. Era um basset lindo e miserável, doce sob a sua fatalidade. Era um basset ruivo.
Lá vinha ele trotando, à frente da sua dona, arrastando o seu comprimento. Desprevenido, acostumado, cachorro.
A menina abriu os olhos pasmados. Suavemente avisado, o cachorro estacou diante dela. Sua língua vibrava. Ambos se olhavam.
Entre tantos seres que estão prontos para se tornarem donos de outro ser, lá estava a menina que viera ao mundo para ter aquele cachorro. Ele fremia suavemente, sem latir. Ela olhava-o sob os cabelos, fascinada, séria. Quanto tempo se passava? Um grande soluço sacudiu-a desafinado. Ele nem sequer tremeu. Também ela passou por cima do soluço e continuou a fitá-lo.
Os pêlos de ambos eram curtos, vermelhos.
Que foi que se disseram? Não se sabe. Sabe-se apenas que se comunicaram rapidamente, pois não havia tempo. Sabe-se também que sem falar eles se pediam. Pediam-se, com urgência, com encabulamento, surpreendidos.
No meio de tanta vaga impossibilidade e de tanto sol, ali estava a solução para a criança vermelha. E no meio de tantas ruas a serem trotadas, de tantos cães maiores, de tantos esgotos secos - lá estava uma menina, como se fora carne de sua ruiva carne. Eles se fitavam profundos, entregues, ausentes do Grajaú. Mais um instante e o suspenso sonho se quebraria, cedendo talvez à gravidade com que se pediam. Mas ambos eram comprometidos.
Ela com sua infância impossível, o centro da inocência que só se abriria quando ela fosse uma mulher. Ele, com sua natureza aprisionada.
A dona esperava impaciente sob o guarda-sol. O basset ruivo afinal despregou-se da menina e saiu sonâmbulo. Ela ficou espantada, com o acontecimento nas mãos, numa mudez que nem pai nem mãe compreenderiam. Acompanhou-o com olhos pretos que mal acreditavam, debruçada sobre a bolsa e os joelhos, até vê-lo dobrar a outra esquina. Mas ele foi mais forte que ela. Nem uma só vez olhou para trás."



de Clarice Lispector In "Felicidade Clandestina"

Branco

nuvens, papel sufite, documento novo do word, carneirinhos pulando a cerca no meio da neve, o inverno europeu, sorvete de côco, espuma do mar, iris, barba do papai-noel, sorriso colgate, chantily! coalhada, vestido de noiva, orquídeas, coelhos, borboletas, lichia por dentro, ovos, cisnei, parede de hospital, um cara albino...

segunda-feira, 19 de julho de 2010

domingo, 18 de julho de 2010

romantismo em alta

Oh my love
My darling
I've hungered for your touch
a long, lonely time...

And time goes by
so slowly
and time can do so much
Are you still mine?

I need your love
I need your love
Godspeed your love to me
inquietante estranheza....

começando

começando algo novo... inspirante! um pedacinho virtual de uma vida que aqui é ficção real.

queria que tivesse sido ontem, 17 de julho, data emblemática pra se começar: dia em que minha avó estaria renascendo mais uma vez. e de algum forma, pode estar, numa melhor, quem sabe...


começar pelo fim é das coisas que mais gosto na vida, e postar algo que sinalize esse dialético começo-fim faz todo o sentido. quando algo chega ao fim, no mesmo instante há um recomeço (um fio bebível de vida que é o de uma morte, segundo Clarice...)
Entao, o fim de seus aniversarios nesse mundo inaugura o início dumoutromundo.



Chá preto



Badaladas de relogio antigo



Televisao



Roda de amigas



Ela sempre brigando comigo



Ela sempre telefonando e oferecendo jantares



Banquetes



Cara feia se nao comermos muito



Cara feia se comíamos muito



Ela sempre se metendo na minha vida



Eu sempre a convidando a entrar na minha vida



Rápidas passadas pela sua casa: referencia do meu dia a dia



Cama e garagem sempre me esperando



Camisola, escova de dente: segunda casa



Quem me ajudou a crescer: segunda mãe



Tagarela, curiosa, preocupada: eterna amiga



Fotos em preto e branco, histórias de minha infancia, histórias de quem eu nao conheci: geração anterior a mim.



Viagens no tempo: ela realizando um tanto de seu passado vivido e nao vivido em mim, eu sempre precisando de seus olhos pedintes pelo meu futuro.



Uma se experimentando na outra: mistura de neta e vó.



Ciumenta, reclamona, enfática: mulher



Se sao nossas maes que nos sao guias para que enveredemos no caminho do feminino, foi com partes dela que eu fui sendo feita mulher.



Se sou hoje quem sou, a tive como modelo vivo e presente, testemunha de meus segredos.



Se sou hoje quem sou tive dela todo o amor que me fez assim, todo reconhecimento que me dá uma imagem nítida de mim.



Usei seus colares, chales, brincos e perfumes.



Brincava, pequena, com as roupas de sua loja.



Sempre a vi trabalhar e lutar por sua independencia, daí presumi o valor do trabalho.



Sempre a vi um pouco carente, daí presumi o valor das amigas.



Sempre a vi bagunceira, daí presumi de onde nasceu meu inevitável desleixo.



Sempre a vi sorrindo, lendo e ouvindo música, daí presumi sobre minha curiosidade pelo mundo.



Sempre a vi lamentar-se pelas perdas, a do filho que morreu principalmente, daí presumi que perder alguém dói.



Vou me dando conta do que é perder alguém de sangue do meu sangue.



Alguém que leva consigo tanta memória, tanta história de si e de mim mesma: será que tem alguma que ela nunca me contou, e que eu nunca mais vou saber?



Serei entao eu testemunha de seus segredos, mesmo os jamais revelados.



E quem testemunhou o maior enigma de todos, a morte, foi meu pai, ao seu lado no ultimo suspiro: daí presumi a importancia de se ter um filho.



A morte é a perda fatal, é a urgente necessidade de se transformar uma ausencia em lembrança.



É a presença de sua ausencia que me permite falar disso tudo.



É a presença de sua ausencia que permite uma boa invenção: o que levar dela consigo?



Quem a conheceu sabe do tamanho de sua vontade de viver, espero que seja essa quentura que se faça presente agora.



Nós aqui, quentes com a sua vida e com a paz que encontrou pra morrer. E ela?



Antes de morrer, ela chamou a prórpia mae. Será que é pra lá que voltamos, pro claor do amor materno?



bem, tenho certeza de que é esse calor que eu sempre vou levar comigo.



14/04/2010