domingo, 18 de julho de 2010

começando

começando algo novo... inspirante! um pedacinho virtual de uma vida que aqui é ficção real.

queria que tivesse sido ontem, 17 de julho, data emblemática pra se começar: dia em que minha avó estaria renascendo mais uma vez. e de algum forma, pode estar, numa melhor, quem sabe...


começar pelo fim é das coisas que mais gosto na vida, e postar algo que sinalize esse dialético começo-fim faz todo o sentido. quando algo chega ao fim, no mesmo instante há um recomeço (um fio bebível de vida que é o de uma morte, segundo Clarice...)
Entao, o fim de seus aniversarios nesse mundo inaugura o início dumoutromundo.



Chá preto



Badaladas de relogio antigo



Televisao



Roda de amigas



Ela sempre brigando comigo



Ela sempre telefonando e oferecendo jantares



Banquetes



Cara feia se nao comermos muito



Cara feia se comíamos muito



Ela sempre se metendo na minha vida



Eu sempre a convidando a entrar na minha vida



Rápidas passadas pela sua casa: referencia do meu dia a dia



Cama e garagem sempre me esperando



Camisola, escova de dente: segunda casa



Quem me ajudou a crescer: segunda mãe



Tagarela, curiosa, preocupada: eterna amiga



Fotos em preto e branco, histórias de minha infancia, histórias de quem eu nao conheci: geração anterior a mim.



Viagens no tempo: ela realizando um tanto de seu passado vivido e nao vivido em mim, eu sempre precisando de seus olhos pedintes pelo meu futuro.



Uma se experimentando na outra: mistura de neta e vó.



Ciumenta, reclamona, enfática: mulher



Se sao nossas maes que nos sao guias para que enveredemos no caminho do feminino, foi com partes dela que eu fui sendo feita mulher.



Se sou hoje quem sou, a tive como modelo vivo e presente, testemunha de meus segredos.



Se sou hoje quem sou tive dela todo o amor que me fez assim, todo reconhecimento que me dá uma imagem nítida de mim.



Usei seus colares, chales, brincos e perfumes.



Brincava, pequena, com as roupas de sua loja.



Sempre a vi trabalhar e lutar por sua independencia, daí presumi o valor do trabalho.



Sempre a vi um pouco carente, daí presumi o valor das amigas.



Sempre a vi bagunceira, daí presumi de onde nasceu meu inevitável desleixo.



Sempre a vi sorrindo, lendo e ouvindo música, daí presumi sobre minha curiosidade pelo mundo.



Sempre a vi lamentar-se pelas perdas, a do filho que morreu principalmente, daí presumi que perder alguém dói.



Vou me dando conta do que é perder alguém de sangue do meu sangue.



Alguém que leva consigo tanta memória, tanta história de si e de mim mesma: será que tem alguma que ela nunca me contou, e que eu nunca mais vou saber?



Serei entao eu testemunha de seus segredos, mesmo os jamais revelados.



E quem testemunhou o maior enigma de todos, a morte, foi meu pai, ao seu lado no ultimo suspiro: daí presumi a importancia de se ter um filho.



A morte é a perda fatal, é a urgente necessidade de se transformar uma ausencia em lembrança.



É a presença de sua ausencia que me permite falar disso tudo.



É a presença de sua ausencia que permite uma boa invenção: o que levar dela consigo?



Quem a conheceu sabe do tamanho de sua vontade de viver, espero que seja essa quentura que se faça presente agora.



Nós aqui, quentes com a sua vida e com a paz que encontrou pra morrer. E ela?



Antes de morrer, ela chamou a prórpia mae. Será que é pra lá que voltamos, pro claor do amor materno?



bem, tenho certeza de que é esse calor que eu sempre vou levar comigo.



14/04/2010

Um comentário: