Com fome, chegou em casa pensando em migalhar uns pedaços de pão. A culpa não deu trégua, e ela se deixou caída na cadeira durante o soar dos roncos de seu estômago pedinte. O telefone iria tocar. Esperava ansiosamente a ligação de tao longe... d.d.i.
Aquele país que ela imagiava Laranja... mesmo ja tendo ido para lá, à turismo bem turístico. A voz envolta por ruídos fazia o coração tremer, ela que esperava tanto por um motivo para ir '" a um outro lugar". Era como se a voz a chamasse. Hipnotizada, ela faria o que fosse, em nome do gozo de estar plena por conta dos suplícios de amor do gringo.
Nada... está em Marcevol (sul fa França). E ela aqui, olhando os mesmos prédios e a mesma calçada de 26 anos ininterruptos. Precisaria ela poder ir à Marcevol para o fim de semana com tanta naturalidade. Ela e ele, esbanjando felicidade, em terras desconhecidas.
Chegou a mãe. Logo após, o namorado da mãe. Na ausência do seu, o namorado da mãe vinha bem a calhar: ao menos trazia um ar masculino à casa, tão impregnada pelas neuroses mãe-filha. Ele era sempre discreto e sempre cordial, além de se interessar em dar aquelas opiniões sensatas, sem pender pra nenhum lado, mantendo uma espécie de pólo neutro na casa cheia de excessos.
Comeram juntos, pouco a pouco, degustando salmão com mel e shoyu e um super cremoso purê de mandioquinha e arroz de muitos e muitos grãos diferentes. Ainda uma verdura refogada com cebola, coisas deliciosas e saudáveis de casa de mãe. Vinho tinto, sempre que vinha o santo namorado. Motivo pra um brinde festivo, de fato.
Buzina de carro cortando o silêncio da noite, onze e quinze, São Paulo calando-se, cedendo à quietude da madrugada. O sabor do vinho ainda na boca, o pensamento laranja. E amanhã o dia é longo, com direito à manicure no final.
Boa noite.
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