quarta-feira, 3 de novembro de 2010

do chão ao céu

desde o chão, vejo o mundo alto, o céu longe, inatingível. o chão é árido, áspero, arrastar-me é puro deslumbre! o corpo toca o chão em toda a sua extensão, resvala-se nele, brinca com cada grão de terra, faz atrito, enche-se de pó, deixa rastro sem passos. meu corpo é longo e frio, posso trepar por tua perna e te encher de calafrios, atar-me a você. tua pele, se for áspera como o chão, me provoca um ardor sutil que me estonteia em deliciosa volúpia. matar-te ou amar-te?(sabe-se lá o que!) se me arrasto aos teus pés e você me rejeita, amo-te. arrasto-me por ti, eu-toda-imunda-do-chão envolvo teu corpo da maneira que puder, minha espécie inferior contempla tua perfeição. subo lentamente num furor de alcançar tua face quase ao céu. se me ignora, serei mistério em minha delicadeza de fazer-me perceber. o toque de tua pele humana em minha pele de textura e temperatura tão anfíbia - ou réptil - faz-me sentir perplexa com cada fluir de sangue em tuas artérias escondidas, faz-me estremecer de prazer com cada pulsaçao emitida pelo tum-tum de teu corpo. eu lisa, escorregadia, voraz. tu, num misto de asco e apaixonamento, te mantens inerte, paralisado para que, enfim, inebriada de prazer, eu possa penetrar em ti meu mais doce veneno.

Um comentário:

  1. abri o blog e pensei: caramba, que cores lindas!! li vc e pensei: caramba, q lindo!!
    tá tudo lindo.

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