sexta-feira, 17 de junho de 2011

algo

No caminho de volta, desce do ônibus antes da parada em que costuma ficar. Decide fazer uma parte do caminho a pé, e isso significa poder se enveredar por dentro do parque. Um fim de tarde sem nuvens, um sol poente que pinta o gramado com tons alaranjados. Ela deita-se no gramado, como em um tapete gigantesco, úmido. Experiencia o contraste que há no anoitecer de junho: a quentura dos raios do sol que restam, e a frescura de um vento que sopra da noite itinerante.
Enxerga um bebê correndo sem firmeza pela vastidão daquele verde, e o pai toma suas mãos, e depois as solta, para que ele se entregue ao mundo. Não o segura, nem o deixa perder-se, mas encarna em si uma referência ao pequeno.
Ela um dia quer ser mãe, e sente no próprio ventre esse desejo se acumular.
Pensa no dia que passou, no que ainda resta a fazer, e depara-se com um pensamento que não cessa de se intrometer: os compromissos a atormentam!
São quase seis horas, ela deve sair dalí rumo ao comprometido, ao horário combinado, à comemoração onde a esperam. É a sexta feira despertando a cidade. O parque escurece, ela volta a caminhar, para longe da criança com seu pai, para longe do gramado, para longe de sua predileção: aquela pela espontaneidade.
E na reta entristecida de sua "volta ao normal", topa com um amigo que não vê há anos. Sorri encabulada, sabe que ele já se atreviu a convidá-la a sair, sempre meio interessado em...algum encanto que ele supunha que ela tivesse. A surpresa é tamanha (tamanha!) que ela diz que precisa ir, num passo apressado, defendendo-se de si mesma. Há algo que a impede de entregar-se à espontaneidade. Algo que a impede entregar-se.
Algo que a impede.
Como saber o que se perde e o que se ganha quando não se pode prever o futuro?
Para ela é como se algo estivesse sempre - sempre - fora do lugar.

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