Quarto de hotel, longos minutos, tempo abafado.
Dois amantes em silêncio, lado a lado, numa cama já saudosa, cobertos pela certeza do impossível.
Despedir-se é certo e necessário, deixar que a despedida aconteça é prova de amor.
E eles sabem disso.
Ela ensaia pronunciar qualquer vogal, qualquer consoante. Vem apenas um sopro de ar, vazio de palavras, apenas as reticências se fazem escutar...
Ele tortura-se com a pergunta que lhe certificará daquilo que sabe, mas se nega a saber (ela sempre fora mais forte que ele). Tateia o escuro, tentando, ao dizê-la, encontrar uma luz: VOCÊ VOLTA?
Ela sabe que não voltará para ele, e lhe vem um choro que a impede de dizer seu "não", tão sonoro e enfático seria dizer: NÃO.
Mas não diz. Sussurra apenas o óbvio, quase-afogado pelas lágrimas: DÓI DEMAIS TE DIZER ADEUS.
Longo abraço. Sem palavras de amor, sem sussurros, sem soluços. Tão perfeito, que se anseia por sair.
E do silêncio, nasce um ser estranho: nem bonito, nem feio.
Uma espécie inusual, que soma dois movimentos opostos - um de esperança, outro de perda brutal e absoluta.
Estranho fruto esse, que nasce dos amores impossíveis: germina da dor, cresce na distância, toma forma fantasiosa. Sua morte é sempre misteriosa. Talvez seja o único ser de vida eterna, filho de um útero vazio.
E é ela, afinal, quem se despede e caminha à porta, sem olhar para trás.
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