quinta-feira, 23 de setembro de 2010

pele

devagar, as palavras vão tornando-se excessivas. olhos se olham e se conversam. e escutar, nessas horas, é escutar a mínima sonoridade exalada pelos corpos: as respirações, ruídos dos estômagos, a densidade da saliva que se move nas bocas de cada um. qualquer palavra poria esta suavidade sonora em segundo plano, e aqui não é este o caso. os corpos são de primeira importância nessa história.

cheiro. também é comunicação: o perfume dela, o cheiro de bebida na boca. o gosto é salgado e doce, tem partes salgadas e doces em ambas as peles, e as variadas misturas destes dois temperos opostos vão se fazendo numa composição que a cada dia é diferente: a boca doce dele se salga com a palma da mão dela. com a bochecha dela, o pescoço, a barriga. a pele dela é de sal? a boca dele é de mel? os paladares se conversam perfeitamente. como definir esses dois? salubre.

calor. a pele de um exala quentura que se enlaça com a quentura do outro. o pé mais frio dela logo volta à temperatuda ambiente, aconchegado no meio das pernas dele. a temperatura é uma só. o ambiente é o entre-dois. pele com pele faz uma só continuidade. meu braço é seu. sua perna é minha, minha boca é um mundo que se apodera de seu corpo. há um território em comum: um corpo todo cabe numa boca de menina. a lógica das dimensões, nessa conversa, pouco importa. a lógica não-verbal é outra.
e é toda a expressão do corpo, toda a sua movimentação quase involuntária que faz dessa conversa a mais sintônica e a mais autêntica que há. com o corpo se ama, se luta, se domina, se dança, se fala. mas não se mente.

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