naquele bairro longe, outro mundo, ela vai a um boteco que encontraria na porta de sua casa. afinal: são paulo todo era igual! diferente também, porque as pessoas as vezes pareciam diferentes. e tinha uma igreja linda nesse bairro distante que nao se assemelhava em nada a qualquer uma perto de sua casa. e haviam placas na rua indicando outros lugares que ela nem imaginava existirem. sim, ela podia ver essas pequenas e deliciosas diferenças que davam a doce sensaçao de se estar vivendo algo pela primeira vez...
mas e o confortável ar famliar que paira naquele boteco que ela escolheu a dedo? sabia bem se virar alí, os garçons, o cardápio, tudo era igual ao que ela conhecia. o suco de goiaba que pediu, confessou a estranha que era mais gostoso.
porque ela iria tao longe encontrar aquela estranha (ja um pouco conhecida)? o que a fazia querer ir até lá? ficar uma hora e meia no boteco tomando suco de goiaba com ela. ilustre estranha.
aos olhos dela, pareceria enfim corajosa?
mais bonita?
mais mulher?
oras bolas, a estranha daquele bairro distante nao sabia de seus estigmas, de seu passado, daquilo que ela se envergonhava. a estranha estaria alí como uma espécie de tabula rasa, pronta pra receber todas as impressoes e seduçoes que ela, nova em folha (imaginava) poderia imprimir-lhe.
tabula rasa....
alguem é tabula rasa?
e quem garantiria a ela que a estranha na verdade nao estava ja sacando que ela era dificil, burra, chata e as vezes até insuportavel?
imagina ir tao longe encontrar alguem que ja sabe de todos os seus defeitos? nao nao... nao devia saber (hesitaçao). e além do mais, o trajeto longo pela cidade ia apagando os traços cansativos da rotina, tudo, mesmo muito familiar, ia ficando estranho e a exaltava! a cidade é geograficamente feita pra que se encontre estranhos, pra que se seja estranha, anonima, mascarada!
melhor experiencia que essa, só errando pelo mundo afora, vendendo brincos e pulseiras pra garantir o pao de cada dia e a passagem pra proxima rodoviária.
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