e naquele dia em que renasceu pela vigézima sétima vez, as gentes que a amam se presentificaram: comparecimentos à festa que organizou, telefonemas, mensagens de texto. comemorar é estar com quem se ama, com quem te ama, é falar, ver, abraçar, sentir a proximidade. É?
uma lenta constatação a seguia durante cada minuto daquele dia que ia se passando, cada minuto que nascia praquele que morria. o tempo é falível. era a constatação da ausencia da velha-amiga que antes se presentificava a todo o instante. a todo o instante a velha-amiga estava lá, comparecendo, telefonando, pedindo, dando, trocando de todas as formas possíveis com a juventude dela. décadas de diferença que sempre as uniram, neste dia era fato: as separavam. haveria algo que pudesse ser chamado de presença? haveria amor que pudesse de alguma forma ser "coisificado"? que coisa a faz presente, que pele, que palavra, que voz, que abraço? como agora seria cada aniversário sem este amor tão óbvio?
renasceria por tantos outros anos até o dia em que chegaria ao último renascimento, como chegara a velha-amiga.
ela quis dormir, cansou-se da sala, da televisão, do telefone. ela quis a cama, cansou-se dos outros ambientes da casa, cansou-se das gentes todas ao seu redor, falando, falando, falando... procurou a ausência de todos quando sentiu que não mais renasceria. procurou o recato, o conforto de seu leito, e se fez então mais presente do que nunca. todos perguntavam por ela. e o sofá vazio guardava uma saudade imensurável.
as décadas nos separam, o poder do tempo é maior do que o dos corpos. e com o corpo, o que se faz é chorar. e procurar a presença de algo.
a casa vazia existe sem ela, mas só existe por causa dela, porque um dia foi feita por ela e pra ela. a velha-amiga deixara o maior presente de todos, e ali haveria sempre lugar pro amor.
e pro descanso.
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