quarta-feira, 11 de maio de 2011

o eterno depois

sentada em sua cadeira, fumando seu baseado, ela esperava. muito.

- o que você está esperando? - perguntou o namorado
- estou esperando o que vai acontecer.
- mas assim? espera qualquer coisa que aconteça?
- não...
- e então??
- bom... sei lá... te incomoda muito a minha espera?

(sim, ele ficava muito incomodado em vê-la sentada a sua frente, tão distante).

- é que a distância me dá paz! - ela disse, tentando justificar-se, com pouco sucesso.
- sabe o que me incomoda na sua distância?
- hum?
- é como se você não estivesse comigo de verdade...
- (silêncio)

ela então olha-o nos olhos, olha tanto que é ele quem desvia o olhar.

- estou sim com você. se estivesse mais do que isso, não conseguiria - ela diz em um tom quase trágico (sim, pra ela a vida não pode ser outra coisa que não uma grande tragédia - as vezes cômica)
- bom, é só que as vezes eu sinto - (ele não sabe dizer bem o que sente porque nessa hora sente muito medo de dizer) - eu sinto que...
- (agora ela não o olha mais )
- eu sinto que você espera por mim quando eu já estou aqui!
- a espera pode ser doce, pode ser a unica coisa capaz de me fazer, de verdade, viva!
( o que doía nela era o fato de que quando as coisas aconteciam, a espera acabava, e era sempre uma grande desilusão)
- você só pode ser maluca!!
- sou.
- maluca mesmo! (ele falava com raiva - e a raiva era a de estar submisso a ser sempre quase-ele - nunca ele era inteiro pra ela)
- você não pode me ter inteira pra você - disse em um tom muito sério e decidido.
- ... (ele entende, de verdade e com raiva, porque é tão apaixonado por ela)

aí ele também fuma, e vê entre os tufos de fumaça a lua nascer atrás de um prédio. duro prédio, bela lua.

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