terça-feira, 17 de maio de 2011

o mergulho

caminhe até o topo mais alto da montanha mais bonita, suba e sinta o frio na barriga e a possibilidade do descontrole a cada gota de suor na testa.
quando chegar ao topo, vá às bordas do mundo, olhe para baixo até quado conseguir, até o limite de sua vertigem, respire fundo, feche os olhos e ... salte!
aproveite o êxtase, o êxtase de sair do chão, de estar entre as nuvens, todas as imagens de todos os êxtases da sua vinda se completando e se confundindo no escuro de suas pálpebras cerradas . seladas.
Viva o topo do mundo! estar acima e completo, desencarnado como anjo, num ato suicída que se mescla à ruína do inferno.
todos os momentos que você ama, todas as transas apaixonadas e todas as lamúrias.
dance no ar, abra os olhos! árvores e pássaros. azul, branco, azul, verde. as cores vistas em alta velocidade passam velozes.
qual o peso da gravidade? qual o tempo da queda livre?
seus cabelos balançam em fios despenteados, revoltos, seu rosto gela com a temperatura de um ar rarefeito, as pernas e pés bambas, mais leves que sua cabeça que, lentamente, pende ao chão.
as roupas voam, ficará nu!
um lago cristalino aguarda sua queda, límpido, frio e sereno: para sugar seu movimento abrupto.
sua queda provocará ondas, distúrbios. a água reagirá com violência.
seu mergulho será lindo, orgástico e estancará o tempo.

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