quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
esperando o Beto
...
Luluzinha reflete: acho que eu sempre amei correr atrás de quem não me quer.
Carmélia rebate: mulher de malandro!!!
Suzete reclama: ai, e você só gosta de quem baba por você, Carmélia?
Carmélia: é, lógico!
Luluzinha vira os olhos (acha de verdade que Carmélia vive na maior ingenuidade com o namorado da vida toda): você nunca esteve com homem nenhum, só com o babaca do Beto!
Suzete (que tem um caso com o Beto): o Beto baba mesmo por ela... não acho que seja babaca...
Luluzinha (que morre de tesão pelo Beto, mas nunca admitiu): ele é muuuito babaca!!!
Carmélia: porque você ta falando assim dele, Lu?
Suzete: não liga pra ela não, o ciúmes que ela tem da felicidade dos outros ta sempre estampado na cara dela.
Luluzinha: tenho ciúmes as vezes, mas não acho que a Carmélia seja feliz. Quem é que é feliz se conhece só um cara? Se nunca se fez desejar, se nunca conseguiu conquistar alguém improvável de ser conquistado?
Carmélia: tá, voce até teve umas conquistas que foram um sucesso. Mas com quem você ta agora? Niguém!!!
Suzete: de repente ela não quer ficar com ninguém, de repente o barato é ir conquistando, buscando o desejo dos homens que ela sonha. Depois que rola, o sonho vira realidade. Não é tão bom.
Carmélia: pois eu gosto da minha realidade...
Suzete (pensa na amiga corna, coitada): o Beto deve ser muito bom de cama pra você estar assim tão satisfeita...
Luluzinha: hahahaha pior que ela nem tem com quem comparar...
Suzete (tinha com quem comparar e achava sim que o Beto era bom, sorte da amiga): você acha que o Beto se basta com você? Não acha que ele pula a cerca não?
Carmélia: nem me interessa questionar isso, muito menos saber... faz anos que ele me ama e faz tudo pra mim, é o que eu quero. Perfiro ter essa duvida do que ser igual a Lu que não para com ninguém.
Suzete: mas ela ta sempre com o coração em movimento...
Luluzinha: valeu, amiga!
Carmélia:tem mulher que prefere sofrer de insatisfação, é isso. De um lado tem o amor. E de outro tem essa doença que é correr eternamente atrás de um perfeito-impossível!
Luluzinha: que bom que você admite que o Beto não é perfeito!
Suzete: o Amor não é perfeito! é o amor que é essa doença aí que você descreveu...
Luluzinha: então eu sou a que mais ama?
Carmélia: e o que eu tenho com o Beto não é amor?
Suzete (que no fundo amava a Carmélia que tinha o Beto mais pra ela): acho que definir não vale a pena.
...
...
...
Beto: oi meninas, foi mal o atraso, sei que a gente tinha marcado de sair mas acho que vou jogar bola com os caras!
Carmélia (devota): vai amor, faz o que você tiver vontade...
Luluzinha (com raiva do Beto nunca ter dado atenção pra ela): vai deixar a Carmélia pelo futebol, Beto?
Suzete (já se imaginando na cama com ele): Beto, posso pegar uma carona com você?
mas o Beto não deu carona, ele ia mesmo jogar futebol, e a mulherada continuou dsicutindo por horas, acaloradas pela ausência do Beto, sem chegar a nenhuma conclusão sobre o amor.
Luluzinha reflete: acho que eu sempre amei correr atrás de quem não me quer.
Carmélia rebate: mulher de malandro!!!
Suzete reclama: ai, e você só gosta de quem baba por você, Carmélia?
Carmélia: é, lógico!
Luluzinha vira os olhos (acha de verdade que Carmélia vive na maior ingenuidade com o namorado da vida toda): você nunca esteve com homem nenhum, só com o babaca do Beto!
Suzete (que tem um caso com o Beto): o Beto baba mesmo por ela... não acho que seja babaca...
Luluzinha (que morre de tesão pelo Beto, mas nunca admitiu): ele é muuuito babaca!!!
Carmélia: porque você ta falando assim dele, Lu?
Suzete: não liga pra ela não, o ciúmes que ela tem da felicidade dos outros ta sempre estampado na cara dela.
Luluzinha: tenho ciúmes as vezes, mas não acho que a Carmélia seja feliz. Quem é que é feliz se conhece só um cara? Se nunca se fez desejar, se nunca conseguiu conquistar alguém improvável de ser conquistado?
Carmélia: tá, voce até teve umas conquistas que foram um sucesso. Mas com quem você ta agora? Niguém!!!
Suzete: de repente ela não quer ficar com ninguém, de repente o barato é ir conquistando, buscando o desejo dos homens que ela sonha. Depois que rola, o sonho vira realidade. Não é tão bom.
Carmélia: pois eu gosto da minha realidade...
Suzete (pensa na amiga corna, coitada): o Beto deve ser muito bom de cama pra você estar assim tão satisfeita...
Luluzinha: hahahaha pior que ela nem tem com quem comparar...
Suzete (tinha com quem comparar e achava sim que o Beto era bom, sorte da amiga): você acha que o Beto se basta com você? Não acha que ele pula a cerca não?
Carmélia: nem me interessa questionar isso, muito menos saber... faz anos que ele me ama e faz tudo pra mim, é o que eu quero. Perfiro ter essa duvida do que ser igual a Lu que não para com ninguém.
Suzete: mas ela ta sempre com o coração em movimento...
Luluzinha: valeu, amiga!
Carmélia:tem mulher que prefere sofrer de insatisfação, é isso. De um lado tem o amor. E de outro tem essa doença que é correr eternamente atrás de um perfeito-impossível!
Luluzinha: que bom que você admite que o Beto não é perfeito!
Suzete: o Amor não é perfeito! é o amor que é essa doença aí que você descreveu...
Luluzinha: então eu sou a que mais ama?
Carmélia: e o que eu tenho com o Beto não é amor?
Suzete (que no fundo amava a Carmélia que tinha o Beto mais pra ela): acho que definir não vale a pena.
...
...
...
Beto: oi meninas, foi mal o atraso, sei que a gente tinha marcado de sair mas acho que vou jogar bola com os caras!
Carmélia (devota): vai amor, faz o que você tiver vontade...
Luluzinha (com raiva do Beto nunca ter dado atenção pra ela): vai deixar a Carmélia pelo futebol, Beto?
Suzete (já se imaginando na cama com ele): Beto, posso pegar uma carona com você?
mas o Beto não deu carona, ele ia mesmo jogar futebol, e a mulherada continuou dsicutindo por horas, acaloradas pela ausência do Beto, sem chegar a nenhuma conclusão sobre o amor.
sábado, 25 de dezembro de 2010
Natalino
Hoje resolvi ser temática. Acordar com a cidade em silêncio, o som da brisa mais vivo, até mesmo um elogio, logo cedo de manhã, merece algumas palavras: sábado de natal.
Feriado mundial.
Todos descansando, mesmo os não religiosos. Todos aproveitando a deixa do menino Jesus pra renascerem de alguma forma. Homenagem à instituição familiar, diria - é disso que se trata esse dia 25... Família é sangue do sangue? Cor da cor? Quem entra, quem sai? Quem fica indesejado, quem é querido, quem traz saudade?
Tem os que se vêem mais uma vez, do mesmo jeito que todas as outras do ano - repetição. Famílias que se bastam, impermeáveis.
Tem os que comparecem só nesse dia, esses não tão familiares... mas amigos, isso sim, verdadeira família.
Tem os que ficam em casa, sozinhos,renegando tudo o que representa essa data (daí se há melancolia, rebeldia, ou alívio, só eles mesmos poderão dizer).
Tem os que correm enlouquecidos de ceia em ceia: famílias de todos os lados... E o movimento é próprio da intensidade da pergunta - a quem, afinal, ofereço-me?
data que traz ao tom mais agudo o amor ao outro, o amor próprio - reconhecimento, ou imagem (não posso parecer sozinho e nem ovelha-negra) - traz a vontade de não excluir ninguém, ou se excluir um pouco de todos. Agradar o outro com presentes, com presença. Simbolizar o que quer que esteja entre o desejo da comunhão e de expulsão.
O bom mesmo é que depois desse apanhado de possibilidades que uma virada de 23:59 pras 0:00 horas faz emergir, acorda-se, no dia seguinte, emfim, em silêncio.
Feriado mundial.
Todos descansando, mesmo os não religiosos. Todos aproveitando a deixa do menino Jesus pra renascerem de alguma forma. Homenagem à instituição familiar, diria - é disso que se trata esse dia 25... Família é sangue do sangue? Cor da cor? Quem entra, quem sai? Quem fica indesejado, quem é querido, quem traz saudade?
Tem os que se vêem mais uma vez, do mesmo jeito que todas as outras do ano - repetição. Famílias que se bastam, impermeáveis.
Tem os que comparecem só nesse dia, esses não tão familiares... mas amigos, isso sim, verdadeira família.
Tem os que ficam em casa, sozinhos,renegando tudo o que representa essa data (daí se há melancolia, rebeldia, ou alívio, só eles mesmos poderão dizer).
Tem os que correm enlouquecidos de ceia em ceia: famílias de todos os lados... E o movimento é próprio da intensidade da pergunta - a quem, afinal, ofereço-me?
data que traz ao tom mais agudo o amor ao outro, o amor próprio - reconhecimento, ou imagem (não posso parecer sozinho e nem ovelha-negra) - traz a vontade de não excluir ninguém, ou se excluir um pouco de todos. Agradar o outro com presentes, com presença. Simbolizar o que quer que esteja entre o desejo da comunhão e de expulsão.
O bom mesmo é que depois desse apanhado de possibilidades que uma virada de 23:59 pras 0:00 horas faz emergir, acorda-se, no dia seguinte, emfim, em silêncio.
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
adeus
- e me sobrou um resto de suspiro... fiquei com ele preso no peito, pra me livrar do vazio, e quase acreditei que podia segurá-lo em mim pra sempre, deixa-lo quente preso dentro de mim. evitar a separaçao, isso. evitar contato com o nada que me habita, quando nem mesmo o ar é próprio. nada é seu, nada se possui no mundo. sinto que se eu pudesse, de fato, te possuir, seria enfimm completa. seria feliz, voce sendo uma parte (minha) fixada em meu corpo, seu corpo quente cohabitando o meu. te amo e queria que voce me livrasse de todas as dores, de ser mais uma no mundo, mais uma mulher dentre tantas que dariam tudo por amor. mulheres essas sempre dispostas à entrega e à devoçao, seja a um homem, seja a Deus. Devotar algo é livrar-se do suplício de escolher, é deixar tudo, enfim, nas maos de alguem. Nas suas maos eu deixaria o ar que respiro.
- a mim sobrou uma espécie de raiva que me contempla a todo o instante que me recordo: estamos separados. a raiva amortece meu coraçao a lidar com a mudança, com a falta daquela parte que constituia um todo. um todo que era eu. agora olho meu corpo e me vejo diferente, claro, mas um homem bonito, meio inseguro, e com uma raiva enrome dentro de si que faz da beleza um traço grave. seduizr agressivamente foi sempre o que te fiz, foi sempre minha maneira de te ter pra mim, inteira. agora o desejo vai evanescendo e sobra a raiva. o sexo fica desencarnado, vai morrendo. a raiva que sobra me aconhega no vazio do sem-ti, mas me impele a te deixar pra tras, como que morta.
- a mim sobrou uma espécie de raiva que me contempla a todo o instante que me recordo: estamos separados. a raiva amortece meu coraçao a lidar com a mudança, com a falta daquela parte que constituia um todo. um todo que era eu. agora olho meu corpo e me vejo diferente, claro, mas um homem bonito, meio inseguro, e com uma raiva enrome dentro de si que faz da beleza um traço grave. seduizr agressivamente foi sempre o que te fiz, foi sempre minha maneira de te ter pra mim, inteira. agora o desejo vai evanescendo e sobra a raiva. o sexo fica desencarnado, vai morrendo. a raiva que sobra me aconhega no vazio do sem-ti, mas me impele a te deixar pra tras, como que morta.
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
A roliça
Entram na padaria com os dois filhos adolescentes:
- Meu amor, vai comer o quê?
-Sei lá, um Beirute! E você?
- Omelete com bacon. Pros meninos, misto- quente.
- Garçom!!!
- Olha querido a bunda daquela mulher, aposto que é siliconada...
- Você ta reparando em bunda siliconada, agora? Que isso, mulher?
- Ué to comentando, é de impressionar, olha, a bunda durinha e a mulher deve ter mais que a minha idade!
- Acho horrível, ela devia era comer direito, malhar, e ia sempre se manter gostosa... essa mulherada acha que agora é tudo fácil, come o que quer, fica sentada a vida toda na porra dum sofá, pra depois querer ficar gata molhando a mão de um cirurgião plástico. Abomino!
- Nossa querido, você se irrita mesmo. Nem devia ficar assim tão irritado na frente das crianças...
-Que crianças? ! Esses moleques já falam grosso! São homens o suficiente pra entender por onde passa o nosso desejo, mulher tem que ser feminina, tem que curtir se cuidar e querer agradar o homem sempre. Tem que ter esforço, dedicação pra isso. É bom eles ouvirem o pai...
- Você é grosso, grosso, acha que sabe ensinar pros meninos o que se tem que querer numa mulher? Espero que eles queiram outras coisas, não as que você quer! Palhaço.
(chega a omelete)
- Garçom, só veio o dela?
(os outros pratos ainda estavam aprontando)
(o marido a observa deliciar-se com aquela comida meio gordurosa e se irrita!)
- Você na sua idade não devia comer essas coisas...
(o mais novo desaquieta-se de imediato e olha a mãe)
- Seu grosso, eu sou mãe de dois filhos, sacrifiquei minha vida por eles e por esse casamento, deixei de trabalhar pra dar atenção a esses meninos, porque não quis ser uma mãe ausente, e eu mesmo assim não tive tanto tempo e tanto luxo pra passar tão boa parte do meu tempo com academia e regiminhos! Você queria que eu fosse uma madaminha é? Que passasse o dia malhando e fazendo compras... seu ridículo!
(chegam os outros lanches)
- Ta bom, não falo mais...
(ele e os meninos engolem a seco, devagar, enquanto ela traça sua omelete em dentadas voluptuosas)
- Garçom! Quero um pouco de pão (e dá-lhe uma piscadinha malandra)
- Ah! Vai ficar provocando agora? Você tem quantos anos?
- Tenho 5 aninhos! Esquece que no fundo eu dentro dessa mulher já meio envelhecida sou uma menina? Esquece disso?
-(engole seco) Não querida, sei que você é minha menina.... desculpa.
- Ok.... vamos comer.
(silêncio...só as mastigações)
- E vai juntando dinheiro pra pagar a minha lipo!
- Meu amor, vai comer o quê?
-Sei lá, um Beirute! E você?
- Omelete com bacon. Pros meninos, misto- quente.
- Garçom!!!
- Olha querido a bunda daquela mulher, aposto que é siliconada...
- Você ta reparando em bunda siliconada, agora? Que isso, mulher?
- Ué to comentando, é de impressionar, olha, a bunda durinha e a mulher deve ter mais que a minha idade!
- Acho horrível, ela devia era comer direito, malhar, e ia sempre se manter gostosa... essa mulherada acha que agora é tudo fácil, come o que quer, fica sentada a vida toda na porra dum sofá, pra depois querer ficar gata molhando a mão de um cirurgião plástico. Abomino!
- Nossa querido, você se irrita mesmo. Nem devia ficar assim tão irritado na frente das crianças...
-Que crianças? ! Esses moleques já falam grosso! São homens o suficiente pra entender por onde passa o nosso desejo, mulher tem que ser feminina, tem que curtir se cuidar e querer agradar o homem sempre. Tem que ter esforço, dedicação pra isso. É bom eles ouvirem o pai...
- Você é grosso, grosso, acha que sabe ensinar pros meninos o que se tem que querer numa mulher? Espero que eles queiram outras coisas, não as que você quer! Palhaço.
(chega a omelete)
- Garçom, só veio o dela?
(os outros pratos ainda estavam aprontando)
(o marido a observa deliciar-se com aquela comida meio gordurosa e se irrita!)
- Você na sua idade não devia comer essas coisas...
(o mais novo desaquieta-se de imediato e olha a mãe)
- Seu grosso, eu sou mãe de dois filhos, sacrifiquei minha vida por eles e por esse casamento, deixei de trabalhar pra dar atenção a esses meninos, porque não quis ser uma mãe ausente, e eu mesmo assim não tive tanto tempo e tanto luxo pra passar tão boa parte do meu tempo com academia e regiminhos! Você queria que eu fosse uma madaminha é? Que passasse o dia malhando e fazendo compras... seu ridículo!
(chegam os outros lanches)
- Ta bom, não falo mais...
(ele e os meninos engolem a seco, devagar, enquanto ela traça sua omelete em dentadas voluptuosas)
- Garçom! Quero um pouco de pão (e dá-lhe uma piscadinha malandra)
- Ah! Vai ficar provocando agora? Você tem quantos anos?
- Tenho 5 aninhos! Esquece que no fundo eu dentro dessa mulher já meio envelhecida sou uma menina? Esquece disso?
-(engole seco) Não querida, sei que você é minha menina.... desculpa.
- Ok.... vamos comer.
(silêncio...só as mastigações)
- E vai juntando dinheiro pra pagar a minha lipo!
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
Mar
Vou sair de São Paulo pra ver o mar e ficar em companhia dele, só dele. O mar e a sua constância, sua mono-tonia, contrastam com a polifonia característica da cidade. Acordar com o mar e uns apitos dos ambulantes na praia compõe uma orquestra bastante diferente daquela que leva buzinas, motores e uns ruídos agudos inomináveis vindos de todos os lados.
Na praia todo ruído leva nome, cada sensação é cheia de sentido, cada decisão envolve sempre melhores ganhos do que perdas. Andar ao lado do mar é um caminho certo, faz um rumo. Sentar de frente pro mar nos deixa cara a cara com algo grande, um espelho, um devaneio, um nostálgico amor. Por todos os ângulos o mar se faz bom amigo, fiel protetor, minucioso informante das condições climáticas, das vibrações de energia que nos circundam.
Vou-me embora pra onde tem mar, curtir a minha solidão, a minha tristeza, meus momentos de confusão e de paz, e a minha capacidade de dialogar quase que unicamente com meu mundo interno. Vou por a prova meu mundo fantasístico que, se não funcionar bem, vai me deixar exposta ao deus dará da solidão amedrontada.
Melhor que retiro espiritual é retirar-se de tudo o que causa ruído à pureza das fantasias e ao gosto do desafio particular. Retiro para o mar.
À minha avó, eterno mar
Na praia todo ruído leva nome, cada sensação é cheia de sentido, cada decisão envolve sempre melhores ganhos do que perdas. Andar ao lado do mar é um caminho certo, faz um rumo. Sentar de frente pro mar nos deixa cara a cara com algo grande, um espelho, um devaneio, um nostálgico amor. Por todos os ângulos o mar se faz bom amigo, fiel protetor, minucioso informante das condições climáticas, das vibrações de energia que nos circundam.
Vou-me embora pra onde tem mar, curtir a minha solidão, a minha tristeza, meus momentos de confusão e de paz, e a minha capacidade de dialogar quase que unicamente com meu mundo interno. Vou por a prova meu mundo fantasístico que, se não funcionar bem, vai me deixar exposta ao deus dará da solidão amedrontada.
Melhor que retiro espiritual é retirar-se de tudo o que causa ruído à pureza das fantasias e ao gosto do desafio particular. Retiro para o mar.
À minha avó, eterno mar
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
alcançar
pois se tudo o que se oferece também está sumindo, como ser pra Ele um corpo de mulher? quando me ofereço sou só um instante, e é nele também que estou desaparecendo. quando nos tocamos materializamos o que parece não existir.
meu corpo de mulher se oferece pra deixar Seu desejo insatisfeito, meu silêncio se oferece pra fazer gritar alto Seu amor velado. os olhos molhados Dele pedem o que eu jamais poderia dar, meu corpo é mito! meu sentimento vai fugindo da minha pele, como se evaporasse sem começo nem fim.
sou Dele sem ser, dançamos juntos como duas nuvens se misturando no céu (parecem de algodão, mas são apenas gases puro - e o céu sem limites acaba onde ja não podemos mais ver).
o amor não tem massa, pesa zero, mas parece poder salvar qualquer existência do completo Nada. o amor é tão infinito que nos confronta com o Nada. com o Nunca. nesse instante urgente em que se precisa tocar, tocar pra fazer valer a matéria, eu O amo. quero largá-lO no meio do nada pra fazer-me presente sem corpo (está aqui o infinito). quero largá-lO sozinho e solto sem mim, experimentar a minha própria ausência, já que o que Ele quer me parece alí impossivel. na presença de Seus olhos pedindo os meus, com o furor que é próprio destes olhos (só Eles é que me pedem assim), eu já habito o impossível.
meu corpo é mito.
diante de Seus olhos, sou o que sou pra Ele. criação.
um corpo de mulher, na verdade, nunca existiu no mundo.
meu corpo de mulher se oferece pra deixar Seu desejo insatisfeito, meu silêncio se oferece pra fazer gritar alto Seu amor velado. os olhos molhados Dele pedem o que eu jamais poderia dar, meu corpo é mito! meu sentimento vai fugindo da minha pele, como se evaporasse sem começo nem fim.
sou Dele sem ser, dançamos juntos como duas nuvens se misturando no céu (parecem de algodão, mas são apenas gases puro - e o céu sem limites acaba onde ja não podemos mais ver).
o amor não tem massa, pesa zero, mas parece poder salvar qualquer existência do completo Nada. o amor é tão infinito que nos confronta com o Nada. com o Nunca. nesse instante urgente em que se precisa tocar, tocar pra fazer valer a matéria, eu O amo. quero largá-lO no meio do nada pra fazer-me presente sem corpo (está aqui o infinito). quero largá-lO sozinho e solto sem mim, experimentar a minha própria ausência, já que o que Ele quer me parece alí impossivel. na presença de Seus olhos pedindo os meus, com o furor que é próprio destes olhos (só Eles é que me pedem assim), eu já habito o impossível.
meu corpo é mito.
diante de Seus olhos, sou o que sou pra Ele. criação.
um corpo de mulher, na verdade, nunca existiu no mundo.
domingo, 28 de novembro de 2010
o ponto cego do homem
de repente ficou insatisfeita? que houve? o que me falta te dar? até outro dia eu era seu mundo todo. aliás, nós dois juntos éramos O Mundo. sempre preecnhi cada buraquinho do seu corpo. te amo te amo e você, do teu habitual e constitutivo vazio de ser, pediu: um filho, por favor!
pra que mais um? sou eu que te completo! e sem mim você nao pode produzir nada. precisa de mim pra produzir um terceiro termo desta relaçao, sozinha você não pode. é isso agora que voce quer? é assim que te satisfaço? te dando um bebê? pois que seja!
AMÉM.
nao posso tolerar nenhum espaço vazio em voce (nem em mim). serei outra vez teu mundo neste lindo e estonteante ato sexual!
(e o resto da vida nos espera com mais um entre nós)
pra que mais um? sou eu que te completo! e sem mim você nao pode produzir nada. precisa de mim pra produzir um terceiro termo desta relaçao, sozinha você não pode. é isso agora que voce quer? é assim que te satisfaço? te dando um bebê? pois que seja!
AMÉM.
nao posso tolerar nenhum espaço vazio em voce (nem em mim). serei outra vez teu mundo neste lindo e estonteante ato sexual!
(e o resto da vida nos espera com mais um entre nós)
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
Paul
não há palavras pra emoção de voltar no tempo...
http://www.youtube.com/watch?v=CnspiH4xLRw&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=3uqGCqMYaHQ&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=CnspiH4xLRw&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=3uqGCqMYaHQ&feature=related
terça-feira, 23 de novembro de 2010
domingo, 21 de novembro de 2010
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
sua presença
introduz um campo eletromagnético de forças invisíveis, um conjunto de intensidades sem figuração... é um acontecimento quando ele entra na sala!
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
menina escrita
Sempre calada, Beatriz. A menina feita de giz. Pele branca, cabelos pretos, lábios rosados, mãos de papel. Nunca pintava as unhas, gostava de seus tons naturais. Nunca comia mais do que pedia sua fome, e Beatriz assim se mantinha esguia, sua brancura e magreza davam a impressão de que era quebradiça.
Mas Beatriz não se deixava quebrar. Ao contrário, era forte e cuidava bem dos próprios contornos (contornos bem riscados pra guardar o que tinha de mais precioso).
Estava sempre pronta pro afeto e pra renúncia, sempre pronta pra fazer aquilo que devia ser feito. Atenta ao próprio desejo, sempre muito atenta.
A menina passava inveja pras outras meninas de sua geração, ela que não se importava com o que achavam dela, não se importava com performances. Beatriz e atriz não rimavam pra ela. Nada de dramas, a vida é nua e crua. Se não há mais porque manter-se próxima de alguém, optava pela distância, pagando o preço de saber que o outro "deixado" a culparia sempre pela tragédia causada. Beatriz sabia que a culpa só daria a ela o peso de ocupar o lugar de responsável pelo sofrimento do outro. Não. A isso sempre soube dizer não.
O outro que chorasse sozinho, ela também faria isso. "Chorar é sempre solitário".
Diziam que Beatriz era feita de gelo. Blazé. Ela sempre caminhava pela rua em tons pastéis, sem olhar pros lados, sem sorrir à toa. Mas Betriz não se considerava blazé. Sabia amar, e quando se apaixonara, entregara-se por completo. Aquele homem que a queria sem a querer. Caminhava ereta, como se levasse o homem-inteiro dentro dela. Ela levava o toque dos lábios do homem. Levava o último toque a com ela a certeza da renúncia aos possíveis outros toques. Aquele haveria de ser o último!
Mesmo o amor, quando não condiz com a vida, não merece ser levado adiante. Amor-lembrança, que seja. Devanear é sempre poder se completar sem necessidade de ninguém. O devaneio sustenta o silêncio de Beatriz, sua força, a casca gelada e o sangue flamejando, o furor de buscar algo que faça sentido. O que quer Beatriz? O que faz sentido a ela?
Cansada das tragédias, encontrou enfim intensidade no amor simples. No amor cotidiano. Beatriz, instantaneamente, após ver-se colada aos braços do homem que a queria, que a podia (e prometia), disse então: "sei".
O saber que fazia daquela relação digna e forte, como era a própria Beatriz, fora feito de renúncia, feito de marcas, e especialmente de constatações de que muito do passado transforma-se em nada mais do que história.
Beatriz pensava no tempo enquanto andava em tons pastéis. Mãos de papel carregavam palavras de histórias de afeto escritas a giz. Podia ler as próprias mãos, Beatriz. Podia ler as mãos e enfim dar-se conta de que fora algo que agora não é. Beatriz é lenta e constante transformação. Beatriz é só movimento, movimento puro, pincelada, escritura de um livro mágico que se reconfigura a cada página. E diziam a ela, sempre, indignados: "estás ainda no começo da vida...".
Não há nem fim nem começo para Beatriz. Há o sempre.
Mas Beatriz não se deixava quebrar. Ao contrário, era forte e cuidava bem dos próprios contornos (contornos bem riscados pra guardar o que tinha de mais precioso).
Estava sempre pronta pro afeto e pra renúncia, sempre pronta pra fazer aquilo que devia ser feito. Atenta ao próprio desejo, sempre muito atenta.
A menina passava inveja pras outras meninas de sua geração, ela que não se importava com o que achavam dela, não se importava com performances. Beatriz e atriz não rimavam pra ela. Nada de dramas, a vida é nua e crua. Se não há mais porque manter-se próxima de alguém, optava pela distância, pagando o preço de saber que o outro "deixado" a culparia sempre pela tragédia causada. Beatriz sabia que a culpa só daria a ela o peso de ocupar o lugar de responsável pelo sofrimento do outro. Não. A isso sempre soube dizer não.
O outro que chorasse sozinho, ela também faria isso. "Chorar é sempre solitário".
Diziam que Beatriz era feita de gelo. Blazé. Ela sempre caminhava pela rua em tons pastéis, sem olhar pros lados, sem sorrir à toa. Mas Betriz não se considerava blazé. Sabia amar, e quando se apaixonara, entregara-se por completo. Aquele homem que a queria sem a querer. Caminhava ereta, como se levasse o homem-inteiro dentro dela. Ela levava o toque dos lábios do homem. Levava o último toque a com ela a certeza da renúncia aos possíveis outros toques. Aquele haveria de ser o último!
Mesmo o amor, quando não condiz com a vida, não merece ser levado adiante. Amor-lembrança, que seja. Devanear é sempre poder se completar sem necessidade de ninguém. O devaneio sustenta o silêncio de Beatriz, sua força, a casca gelada e o sangue flamejando, o furor de buscar algo que faça sentido. O que quer Beatriz? O que faz sentido a ela?
Cansada das tragédias, encontrou enfim intensidade no amor simples. No amor cotidiano. Beatriz, instantaneamente, após ver-se colada aos braços do homem que a queria, que a podia (e prometia), disse então: "sei".
O saber que fazia daquela relação digna e forte, como era a própria Beatriz, fora feito de renúncia, feito de marcas, e especialmente de constatações de que muito do passado transforma-se em nada mais do que história.
Beatriz pensava no tempo enquanto andava em tons pastéis. Mãos de papel carregavam palavras de histórias de afeto escritas a giz. Podia ler as próprias mãos, Beatriz. Podia ler as mãos e enfim dar-se conta de que fora algo que agora não é. Beatriz é lenta e constante transformação. Beatriz é só movimento, movimento puro, pincelada, escritura de um livro mágico que se reconfigura a cada página. E diziam a ela, sempre, indignados: "estás ainda no começo da vida...".
Não há nem fim nem começo para Beatriz. Há o sempre.
domingo, 7 de novembro de 2010
o sabor das horas
são horas feitas de manjericão, pimenta do reino, vinho tinto. horas feitas de rum com hortelã, baralho, palavras cruzadas. feitas de chuva e orvalho. de pés descalços (ou com qualquer chinelo velho). de filme às 11 da manhã num sofá preguiçoso. horas feitas de música, olhares e silêncios apaixonados. beijos de língua, cheiro de lençol, brincos jogados no criado-mudo. sono. horas feitas de domingo ensolarado com piscina, de singelas caminhadas em volta dum lago de patos estranhos, horas feitas de suspiros. palavras. conversa fora, conversa séria, conversas distraídas, pornográficas. horas feitas de conversas a dois, nas quais fala uma multidão!
horas feitas de luz de velas, de cozinha itinerante, de desejos descontrolados, quarto bagunçado, toalha molhada, roupas misturadas. horas feitas de tudo e nada, infinitas enquanto duram. mas fugidias a ponto de provocarem nostalgia enquanto ainda é tempo delas. horas íntimas, saborosas. ah! se o tempo fosse feito só delas...
horas feitas de luz de velas, de cozinha itinerante, de desejos descontrolados, quarto bagunçado, toalha molhada, roupas misturadas. horas feitas de tudo e nada, infinitas enquanto duram. mas fugidias a ponto de provocarem nostalgia enquanto ainda é tempo delas. horas íntimas, saborosas. ah! se o tempo fosse feito só delas...
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
nuvem dourada
...aí do alto então, você - diz alguma coisa! está confortável aí no seu pedestal? na sua nuvem selecionada? olha pra todo mundo debaixo e decide como, quando e porquê se dirige a cada um. olha pra todo mundo aí debaixo e poupa-se de sentir a própria debilidade, a própria sensação de impotência que te corroeria caso você lhe desse mais atenção. mas aí de cima fica fácil ignorá-la... e os pobres mortais que estão aí debaixo como um bando de cachorros correndo em volta dos rabos, a maioria perguntando-se e perguntando-se sobre como alcançar a nuvem dourada, sâo ridiculamento usados como depositários daquilo que você não aguenta. Não aguenta saber que tem gente boa, gente diferente, gente que enxerga longe, gente preferível? Não aguenta saber que tuas falas as vezes são fonte de tédio, descrença e - pior ainda - indiferença alheia! alguns deste ridículos inferiores aguentam bem serem completamente substituíveis e comuns, aguentam bem as quedas. está aí, nesta tolerância, toda a sua maravilhosa singularidade. seu maravilhoso potencial de metamorfosear-se (só da pra ser borboleta as vezes se assumimos que somos umas lesmas desgraçadas).
são poucos, por certo, mas existem.
dourados sejam, e você, que despenque!
são poucos, por certo, mas existem.
dourados sejam, e você, que despenque!
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
do chão ao céu
desde o chão, vejo o mundo alto, o céu longe, inatingível. o chão é árido, áspero, arrastar-me é puro deslumbre! o corpo toca o chão em toda a sua extensão, resvala-se nele, brinca com cada grão de terra, faz atrito, enche-se de pó, deixa rastro sem passos. meu corpo é longo e frio, posso trepar por tua perna e te encher de calafrios, atar-me a você. tua pele, se for áspera como o chão, me provoca um ardor sutil que me estonteia em deliciosa volúpia. matar-te ou amar-te?(sabe-se lá o que!) se me arrasto aos teus pés e você me rejeita, amo-te. arrasto-me por ti, eu-toda-imunda-do-chão envolvo teu corpo da maneira que puder, minha espécie inferior contempla tua perfeição. subo lentamente num furor de alcançar tua face quase ao céu. se me ignora, serei mistério em minha delicadeza de fazer-me perceber. o toque de tua pele humana em minha pele de textura e temperatura tão anfíbia - ou réptil - faz-me sentir perplexa com cada fluir de sangue em tuas artérias escondidas, faz-me estremecer de prazer com cada pulsaçao emitida pelo tum-tum de teu corpo. eu lisa, escorregadia, voraz. tu, num misto de asco e apaixonamento, te mantens inerte, paralisado para que, enfim, inebriada de prazer, eu possa penetrar em ti meu mais doce veneno.
mary go round
she goes round turning round and round forming a whole circule of 360 degrees,
mary can see all of what is by her side but she can't see her front neighbour's face and she also can't see her back neighbour because if she does want to see him she will have to go around herself, and that's pretty difficult to do.
how does mary can go round herself? and how does her front neighbour can go round himself so he can see mary's face? (i think that mary must be pretty)
so mary wont never be able to go round because her eyes are glued in front of her face and her neck does not go round 360 degrees and her spine is hard and does not allow her to bend over.
i think that mary would love to be a snake...
mary can see all of what is by her side but she can't see her front neighbour's face and she also can't see her back neighbour because if she does want to see him she will have to go around herself, and that's pretty difficult to do.
how does mary can go round herself? and how does her front neighbour can go round himself so he can see mary's face? (i think that mary must be pretty)
so mary wont never be able to go round because her eyes are glued in front of her face and her neck does not go round 360 degrees and her spine is hard and does not allow her to bend over.
i think that mary would love to be a snake...
domingo, 31 de outubro de 2010
renascer a morte
e naquele dia em que renasceu pela vigézima sétima vez, as gentes que a amam se presentificaram: comparecimentos à festa que organizou, telefonemas, mensagens de texto. comemorar é estar com quem se ama, com quem te ama, é falar, ver, abraçar, sentir a proximidade. É?
uma lenta constatação a seguia durante cada minuto daquele dia que ia se passando, cada minuto que nascia praquele que morria. o tempo é falível. era a constatação da ausencia da velha-amiga que antes se presentificava a todo o instante. a todo o instante a velha-amiga estava lá, comparecendo, telefonando, pedindo, dando, trocando de todas as formas possíveis com a juventude dela. décadas de diferença que sempre as uniram, neste dia era fato: as separavam. haveria algo que pudesse ser chamado de presença? haveria amor que pudesse de alguma forma ser "coisificado"? que coisa a faz presente, que pele, que palavra, que voz, que abraço? como agora seria cada aniversário sem este amor tão óbvio?
renasceria por tantos outros anos até o dia em que chegaria ao último renascimento, como chegara a velha-amiga.
ela quis dormir, cansou-se da sala, da televisão, do telefone. ela quis a cama, cansou-se dos outros ambientes da casa, cansou-se das gentes todas ao seu redor, falando, falando, falando... procurou a ausência de todos quando sentiu que não mais renasceria. procurou o recato, o conforto de seu leito, e se fez então mais presente do que nunca. todos perguntavam por ela. e o sofá vazio guardava uma saudade imensurável.
as décadas nos separam, o poder do tempo é maior do que o dos corpos. e com o corpo, o que se faz é chorar. e procurar a presença de algo.
a casa vazia existe sem ela, mas só existe por causa dela, porque um dia foi feita por ela e pra ela. a velha-amiga deixara o maior presente de todos, e ali haveria sempre lugar pro amor.
e pro descanso.
uma lenta constatação a seguia durante cada minuto daquele dia que ia se passando, cada minuto que nascia praquele que morria. o tempo é falível. era a constatação da ausencia da velha-amiga que antes se presentificava a todo o instante. a todo o instante a velha-amiga estava lá, comparecendo, telefonando, pedindo, dando, trocando de todas as formas possíveis com a juventude dela. décadas de diferença que sempre as uniram, neste dia era fato: as separavam. haveria algo que pudesse ser chamado de presença? haveria amor que pudesse de alguma forma ser "coisificado"? que coisa a faz presente, que pele, que palavra, que voz, que abraço? como agora seria cada aniversário sem este amor tão óbvio?
renasceria por tantos outros anos até o dia em que chegaria ao último renascimento, como chegara a velha-amiga.
ela quis dormir, cansou-se da sala, da televisão, do telefone. ela quis a cama, cansou-se dos outros ambientes da casa, cansou-se das gentes todas ao seu redor, falando, falando, falando... procurou a ausência de todos quando sentiu que não mais renasceria. procurou o recato, o conforto de seu leito, e se fez então mais presente do que nunca. todos perguntavam por ela. e o sofá vazio guardava uma saudade imensurável.
as décadas nos separam, o poder do tempo é maior do que o dos corpos. e com o corpo, o que se faz é chorar. e procurar a presença de algo.
a casa vazia existe sem ela, mas só existe por causa dela, porque um dia foi feita por ela e pra ela. a velha-amiga deixara o maior presente de todos, e ali haveria sempre lugar pro amor.
e pro descanso.
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
água
calor de 33 graus, sol das 5 e meia da tarde com horário de verão. ela parada na borda. azul acima, azul a frente, azul abaixo. as pernas dentro d´água estavam distorcidas. os pelos arrepiados com o toque gélido da água que não esquentara em conformidade com a atmosfera. o vento ja refrescava as maçãs do rosto, mas o corpo ainda estava quente, suado, hesitando adentrar aquele enorme azul.
um, dois, três!
o choque é grande, ela exala um suspiro gritado, curto, meio de dor, meio de prazer. começa a primeira braçada, a segunda, as pernas agitam-e uma após a outra em uma harmonia familiar. pertenceria às aguas do mundo, ela? envolver-se em líquido é estar contornada, enfim. não há qualquer vulnerabilidade possível alí, o corpo flutua, água é elemento-mãe.
inspira, expira, o automatismo desta respiração é diferente da respiração comum: é automática, mas sente-se mais o ar dentro de si, sente-se mais a falta do ar quando a pofundidade das águas o isola lá em cima. o ar é fugidio, a superfície é o lugar perfeito, alí se respira deliciosamente,e o peso... o peso do corpo não existe mais. pode-se boiar. ela bóia e olha o céu, azul, escurecendo, o último dia antes de um novo-renascimento.
um, dois, três!
o choque é grande, ela exala um suspiro gritado, curto, meio de dor, meio de prazer. começa a primeira braçada, a segunda, as pernas agitam-e uma após a outra em uma harmonia familiar. pertenceria às aguas do mundo, ela? envolver-se em líquido é estar contornada, enfim. não há qualquer vulnerabilidade possível alí, o corpo flutua, água é elemento-mãe.
inspira, expira, o automatismo desta respiração é diferente da respiração comum: é automática, mas sente-se mais o ar dentro de si, sente-se mais a falta do ar quando a pofundidade das águas o isola lá em cima. o ar é fugidio, a superfície é o lugar perfeito, alí se respira deliciosamente,e o peso... o peso do corpo não existe mais. pode-se boiar. ela bóia e olha o céu, azul, escurecendo, o último dia antes de um novo-renascimento.
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
Rita e seu corpo
Abriu-se uma brecha no mundo dos desejos, no mundo das possibilidades. "Cris, acho que queria trabalhar com maquiagem e cabeleireiro!", diz Rita, ao passar em frente ao salão de beleza. Há algumas semanas, Rita vem encontrar-me cada vez mais bem-vestida e impecavelmente maquiada. Olha minhas roupas, repara se fiz chapinha ou não no cabelo, se pintei ou não as unhas. "Cris, será que minhas unhas crescem?" Pergunta-me isso repetidas vezes nos encontros, dizendo que em seus momentos de "ansiedade", roe as unhas até chegarem na pura carne dos dedos. Passa entao a duvidar da existencia do próprio corpo, e cre no poder e violencia mortífera de sua ansiedade e seus dentes. "Será que quando o Dudu morde meu cabelo, ele vai cair?" Soube entao que o Dudu mordeu de brincadeira uma mecha de seus cabelos, e os pensamentos de Rita não a deixaram mais em paz desde então. A vivência de relação com um outro-canibalesco punha em xeque sua própria crença de que estava viva. Ao mesmo tempo, ela mesma tinha o incrível poder de destruir o outro e destruir a si mesma. Por vezes, senti desejo de ir com ela a qualquer lugar ser aniquilado. Era como se eu nao existisse. Combinávamos encontros que não aconteciam porque ela simplesmente "esquecia que eu a estava esperando". Foram necessários muitos "furos" pra que pudessemos enfim criar um vínculo. Eu esperar por horas, ligar, brigar com ela e continuar colocando-me a sua espera (muitas vezes quase sem expectativa, mas com uma mínima aposta) fez enfim um efeito. Os encontros que aconteciam, mesmo após ela atrasar uma hora ou mais, denunciavam um vinculo que ia se estabelecendo: "Ai Cris, voce nao fica brava de ficar sempre esperando?" Comecei a indagar-me sobre como a minha espera e a sua ausencia se conversavam. E foi entao que percebi: as nossas conversas estavam acontecendo, mas nao por palavras. Eram os desencontros, a pressa, a radiante aparição de Rita, atrasada e linda, que ia aos poucos traçando o fio transferencial que se esboçava. "Cris, que cor é essa que voce passou nas unhas?" Neste encontro de 15 minutos apenas, a comunicação foi através das unhas, eu mostrando as minhas, ela as dela. As cores dos esmaltes, a cada encontro, faziam-se assunto dos mais ricos e significativos a Rita. Em um dado encontro, ela me diz: "minhas unhas estao crescendo!" e mostra as afiadas unhas vermelhas, próprias de uma mulher que aposta em seus traços de sedução. Rita passa a chegar nos horários certos e nossos corpos conversam cada vez mais intensamente. Os passeios pelo shopping intercalavam uma loja que ela gostasse com uma que eu gostasse (ela fazia questao de saber qual era o meu gosto - o que faz pensar que ela rume a alteridade, somos mulheres diferentes afinal). Olhar vitrines, experimentar perfumes, bijuterias: conversas riquissimas nestes ats que finalmente culminariam nesta extraordinária fala "quero trabalhar como cabeleireira ou manicure em um salao de belezas". Procuramos e encontramos cursos para isso, Rita enfim parece estar encontrando a si um lugar no mundo. No dia em que fazemos a inscrição no curso, Rita pede para tomar um suco de goiaba comigo (o que vinha se estabelecendo no lugar do sorvete de antes - ela mesma instituiu o suco para enfim poder emagrecer, sem ter que privar-se do gosto de degustar algo junto comigo - outra rica comunicação qu tinhamos). Sentada à mesa ela diz, sorridente e bem humorada: "tem um coroa me paquerando no curso, fica me olhando, me olhando..." Pergunto a ela como se sente com isso: "ah, é bom paquerar né, eu também fico olhando pra ele: paquerar nao arranca pedaços". Ouço com satisfação esta frase de Rita: ela enfim encontrou uma maneira de conectar-se ao próprio desejo - sem comprometer seu corpo, sem ameaça-lo ao despedaçamento. Rita estava inteira.
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
competencias passionais x performances
e o que nos engaja neste trabalho de/com doidos??
"encaremos a formaçao na clínica das psicoses como um processo da ordem da modificaçao: modificaçao de um certo nível de personalidade do sujeito que se engaja neste trabalho. nao uma transformaçao, mas uma modificaçao no sentido de uma sensibilizaçao para alguma coisa específica (ser sensível ao pequeno, ao imperceptível). seria importante poder precisar quais sao as qualidades implícitas que estao na base de uma certa "escolha" profissional. certamente que se pode estar aí por acaso. mas isto nunca é puro acaso: existe sempre uma dimensao inconsciente na decisao de se engajar, mesmo nesses tempos de desemprego, em que se espera um trabalho. Qual é o itinerário que leva cada um a trabalhar no campo psiquiátrico? Quais competencias deve-se ter para este trabalho?"
A competencia está em relaçao com o que marca a vida de qualquer um; nao simplesmente os trabalhos,os dias, os empregos, mas os gostos, as paixões. poderíamos definir assim uma carta das "competencias passionais"...
Jean Oury, in: Itinerários de formação
"encaremos a formaçao na clínica das psicoses como um processo da ordem da modificaçao: modificaçao de um certo nível de personalidade do sujeito que se engaja neste trabalho. nao uma transformaçao, mas uma modificaçao no sentido de uma sensibilizaçao para alguma coisa específica (ser sensível ao pequeno, ao imperceptível). seria importante poder precisar quais sao as qualidades implícitas que estao na base de uma certa "escolha" profissional. certamente que se pode estar aí por acaso. mas isto nunca é puro acaso: existe sempre uma dimensao inconsciente na decisao de se engajar, mesmo nesses tempos de desemprego, em que se espera um trabalho. Qual é o itinerário que leva cada um a trabalhar no campo psiquiátrico? Quais competencias deve-se ter para este trabalho?"
A competencia está em relaçao com o que marca a vida de qualquer um; nao simplesmente os trabalhos,os dias, os empregos, mas os gostos, as paixões. poderíamos definir assim uma carta das "competencias passionais"...
Jean Oury, in: Itinerários de formação
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
EU SOU ASTRÓLOGO!! VOCÊS PRECISAM ACREDITAR EM MIM!
Inferno Astral: a própria palavra já nos remete a medo, tristeza, desespero… Mas não é bem por aí. O Inferno Astral é o período que antecede o nosso aniversário, exatamente no mês anterior ao dia do nosso aniversário. Este é o último período do nosso ciclo astrológico do ano, corresponde à casa 12.
Os ciclos astrológicos são estágios de desenvolvimento e, no final de cada ciclo, geralmente é marcado por agitação, mudanças, instabilidade, insegurança. Isso acontece porque no final do ciclo, estamos com as nossas energias esgotadas, é como se a nossa pilha estivesse no fim. Ao iniciar um novo ciclo, as nossas baterias se recarregam e temos força novamente para seguir mais um ano, é a época do renascimento.
Nem sempre o período que antecede o nosso aniversário é marcado por acontecimentos desfavoráveis e dramáticos, este período deve ser visto também como um período de meditação, recolhimento e interiorização. É o período em que devemos nos preparar para iniciar um Novo Ano Solar.
(agora ta tudo explicado...)
Os ciclos astrológicos são estágios de desenvolvimento e, no final de cada ciclo, geralmente é marcado por agitação, mudanças, instabilidade, insegurança. Isso acontece porque no final do ciclo, estamos com as nossas energias esgotadas, é como se a nossa pilha estivesse no fim. Ao iniciar um novo ciclo, as nossas baterias se recarregam e temos força novamente para seguir mais um ano, é a época do renascimento.
Nem sempre o período que antecede o nosso aniversário é marcado por acontecimentos desfavoráveis e dramáticos, este período deve ser visto também como um período de meditação, recolhimento e interiorização. É o período em que devemos nos preparar para iniciar um Novo Ano Solar.
(agora ta tudo explicado...)
domingo, 17 de outubro de 2010
anônimos
ser um casal no bar entre tantas outras mesas com casais, ser um casal no cinema, na pista da balada, num restaurante, num shopping, num motel, no apartamento de um prédio cheio de outros casais. ser um casal na rua, na esquina, na calçada esperando o farol verde, no ponto de onibus, dentro do carro no meio do transito, debaixo do sol, tomando vento, beijando desinteressadamente (atentos ao movimento), beijando apaixonadamente (indiferentes a todo o movimento).
o anonimato da cidade eleva quem se ama. o casal vive nas nuvens, elevado sobre a rotina aparentemente besta, ao mesmo tempo em que misturado a todo mundo.
mais um entre tantos, único entre todos.
o anonimato da cidade eleva quem se ama. o casal vive nas nuvens, elevado sobre a rotina aparentemente besta, ao mesmo tempo em que misturado a todo mundo.
mais um entre tantos, único entre todos.
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
cidade
naquele bairro longe, outro mundo, ela vai a um boteco que encontraria na porta de sua casa. afinal: são paulo todo era igual! diferente também, porque as pessoas as vezes pareciam diferentes. e tinha uma igreja linda nesse bairro distante que nao se assemelhava em nada a qualquer uma perto de sua casa. e haviam placas na rua indicando outros lugares que ela nem imaginava existirem. sim, ela podia ver essas pequenas e deliciosas diferenças que davam a doce sensaçao de se estar vivendo algo pela primeira vez...
mas e o confortável ar famliar que paira naquele boteco que ela escolheu a dedo? sabia bem se virar alí, os garçons, o cardápio, tudo era igual ao que ela conhecia. o suco de goiaba que pediu, confessou a estranha que era mais gostoso.
porque ela iria tao longe encontrar aquela estranha (ja um pouco conhecida)? o que a fazia querer ir até lá? ficar uma hora e meia no boteco tomando suco de goiaba com ela. ilustre estranha.
aos olhos dela, pareceria enfim corajosa?
mais bonita?
mais mulher?
oras bolas, a estranha daquele bairro distante nao sabia de seus estigmas, de seu passado, daquilo que ela se envergonhava. a estranha estaria alí como uma espécie de tabula rasa, pronta pra receber todas as impressoes e seduçoes que ela, nova em folha (imaginava) poderia imprimir-lhe.
tabula rasa....
alguem é tabula rasa?
e quem garantiria a ela que a estranha na verdade nao estava ja sacando que ela era dificil, burra, chata e as vezes até insuportavel?
imagina ir tao longe encontrar alguem que ja sabe de todos os seus defeitos? nao nao... nao devia saber (hesitaçao). e além do mais, o trajeto longo pela cidade ia apagando os traços cansativos da rotina, tudo, mesmo muito familiar, ia ficando estranho e a exaltava! a cidade é geograficamente feita pra que se encontre estranhos, pra que se seja estranha, anonima, mascarada!
melhor experiencia que essa, só errando pelo mundo afora, vendendo brincos e pulseiras pra garantir o pao de cada dia e a passagem pra proxima rodoviária.
mas e o confortável ar famliar que paira naquele boteco que ela escolheu a dedo? sabia bem se virar alí, os garçons, o cardápio, tudo era igual ao que ela conhecia. o suco de goiaba que pediu, confessou a estranha que era mais gostoso.
porque ela iria tao longe encontrar aquela estranha (ja um pouco conhecida)? o que a fazia querer ir até lá? ficar uma hora e meia no boteco tomando suco de goiaba com ela. ilustre estranha.
aos olhos dela, pareceria enfim corajosa?
mais bonita?
mais mulher?
oras bolas, a estranha daquele bairro distante nao sabia de seus estigmas, de seu passado, daquilo que ela se envergonhava. a estranha estaria alí como uma espécie de tabula rasa, pronta pra receber todas as impressoes e seduçoes que ela, nova em folha (imaginava) poderia imprimir-lhe.
tabula rasa....
alguem é tabula rasa?
e quem garantiria a ela que a estranha na verdade nao estava ja sacando que ela era dificil, burra, chata e as vezes até insuportavel?
imagina ir tao longe encontrar alguem que ja sabe de todos os seus defeitos? nao nao... nao devia saber (hesitaçao). e além do mais, o trajeto longo pela cidade ia apagando os traços cansativos da rotina, tudo, mesmo muito familiar, ia ficando estranho e a exaltava! a cidade é geograficamente feita pra que se encontre estranhos, pra que se seja estranha, anonima, mascarada!
melhor experiencia que essa, só errando pelo mundo afora, vendendo brincos e pulseiras pra garantir o pao de cada dia e a passagem pra proxima rodoviária.
terça-feira, 12 de outubro de 2010
sábado, 9 de outubro de 2010
o gosto do vivo
Pontada.
A primeira sensação é a de pontada no peito (e também no estômago), algo que a impele à...
Inquietude.
"Estás impelida a que, mulher? Sair do conforto?"
Medo.
Vem uma paralização familiar, aquela que geralmente ganha força e mata a inquietude. A pontada então fica tida como algo puramente corporal, um mal estar que deveria sumir. Ela queria se livrar daquela pontada dolorida com algum remédio que a chapasse de vez!
Princípo de constância.
Ele age sem dó, e a deixa sem movimento, anulada, anestesiada do que a impele à...
"Até quando se pode negar aquilo que pulsa? Até quando?!"
Pulsação.
É o coração agora, apontando novamente para fora. O pensamento que vem desta emoção a ridiculariza completamente:" idiota, cretina! Faça algo! Saia da cama, ande desorientada pela rua, quaquer coisa que oxigene esse corpo quase amorfo. Voce está confundida com sua própria cama. É teu leito de morte?"
Angústia.
Agora ela veio e não passa mais, não há nada a fazer, a angústia vem quando se esboçam estas palavras do pensamento. A palavra, mesmo pensada, já tem esse eficaz efeito de impedir a paralização e dar um nome a próxima ação que precisa ser tomada.
Significado.
" Eu podia mesmo era ligar pra alguém que eu goste...preciso de ajuda pra me mover."
Amor.
Aí está o primeiro movimento para fora!! Ela conseguiu procurar alguém, fez contato, contagiou alguém com sua voz meio sonambula, meio trêmula, meio demandante: " queria sair pra algum lugar, vem comigo?"
Confirmação.
A outra vai! A amiga, ela vai! Agora são duas as pessoas que fazem parte desta história que começou na primeira pontada no peito e no estômago. (Dois corpos contém estes órgãos). A angústia se ameniza, a amistosidade vai ganhando corpo, o medo também ameniza porque a companhia dá confiança.
O levantar da cama.
Momento emblmático. Ela sai, toma banho, escolhe uma blusa preta que deixa a mostra um de seus ombros " até que tenho ombros sensuais...". A idéia de ser sensual aguça seu olhar ao espelho. Maquiagem preta nos olhos. Quem é ela?
Máscara.
Sente que não é ela. Pode sumir no meio dos outros, desaparecer do mundo? Como a verão? Mulher linda? doente querendo se fazer de normal? Louca varrida implorando uma muleta pra fazer algo? " Sou ridícula, sou ridícula...'
Garganta.
Pronto, agora a pontada volta pela garganta e sobe aos olhos... Primeira lágrima, segunda, terceira... borra os olhos. Lágrimas negras escorrem pela maçã do rosto. Quem é ela?
Desfiguração.
"Se eu sair como outra, será que consigo? Esta que não sou eu, esta outra de maquiagem nos olhos que chora por se ver diferente". Ela estava bonita, simplesmente. Há quanto tempo tinha desacreditado de que era bonita? Sua figura atual era, esta sim, uma desfigurada. Apática, nem feliz nem triste: inerte. Mas lembrou-se então de que a primiera pontada veio dela! Foi seu corpo que gritou algo em silêncio! Seu corpo.
Reconhecimento.
"Sou eu, querida, estou te esperando aqui na frente do seu prédio". Ela ouve a voz da amiga que a aguarda. Alguém a aguarda. Alguém a aguarda. Sua presença é finalmente assunto da vida de outra pessoa. Limpa os olhos, vai sem maquiagem!
Mundo lá fora.
Os olhos vêem gente, ela respira o ar fresco da noite, a janela aberta do carro a permite degustar o vento. Tem um gosto bom...
A primeira sensação é a de pontada no peito (e também no estômago), algo que a impele à...
Inquietude.
"Estás impelida a que, mulher? Sair do conforto?"
Medo.
Vem uma paralização familiar, aquela que geralmente ganha força e mata a inquietude. A pontada então fica tida como algo puramente corporal, um mal estar que deveria sumir. Ela queria se livrar daquela pontada dolorida com algum remédio que a chapasse de vez!
Princípo de constância.
Ele age sem dó, e a deixa sem movimento, anulada, anestesiada do que a impele à...
"Até quando se pode negar aquilo que pulsa? Até quando?!"
Pulsação.
É o coração agora, apontando novamente para fora. O pensamento que vem desta emoção a ridiculariza completamente:" idiota, cretina! Faça algo! Saia da cama, ande desorientada pela rua, quaquer coisa que oxigene esse corpo quase amorfo. Voce está confundida com sua própria cama. É teu leito de morte?"
Angústia.
Agora ela veio e não passa mais, não há nada a fazer, a angústia vem quando se esboçam estas palavras do pensamento. A palavra, mesmo pensada, já tem esse eficaz efeito de impedir a paralização e dar um nome a próxima ação que precisa ser tomada.
Significado.
" Eu podia mesmo era ligar pra alguém que eu goste...preciso de ajuda pra me mover."
Amor.
Aí está o primeiro movimento para fora!! Ela conseguiu procurar alguém, fez contato, contagiou alguém com sua voz meio sonambula, meio trêmula, meio demandante: " queria sair pra algum lugar, vem comigo?"
Confirmação.
A outra vai! A amiga, ela vai! Agora são duas as pessoas que fazem parte desta história que começou na primeira pontada no peito e no estômago. (Dois corpos contém estes órgãos). A angústia se ameniza, a amistosidade vai ganhando corpo, o medo também ameniza porque a companhia dá confiança.
O levantar da cama.
Momento emblmático. Ela sai, toma banho, escolhe uma blusa preta que deixa a mostra um de seus ombros " até que tenho ombros sensuais...". A idéia de ser sensual aguça seu olhar ao espelho. Maquiagem preta nos olhos. Quem é ela?
Máscara.
Sente que não é ela. Pode sumir no meio dos outros, desaparecer do mundo? Como a verão? Mulher linda? doente querendo se fazer de normal? Louca varrida implorando uma muleta pra fazer algo? " Sou ridícula, sou ridícula...'
Garganta.
Pronto, agora a pontada volta pela garganta e sobe aos olhos... Primeira lágrima, segunda, terceira... borra os olhos. Lágrimas negras escorrem pela maçã do rosto. Quem é ela?
Desfiguração.
"Se eu sair como outra, será que consigo? Esta que não sou eu, esta outra de maquiagem nos olhos que chora por se ver diferente". Ela estava bonita, simplesmente. Há quanto tempo tinha desacreditado de que era bonita? Sua figura atual era, esta sim, uma desfigurada. Apática, nem feliz nem triste: inerte. Mas lembrou-se então de que a primiera pontada veio dela! Foi seu corpo que gritou algo em silêncio! Seu corpo.
Reconhecimento.
"Sou eu, querida, estou te esperando aqui na frente do seu prédio". Ela ouve a voz da amiga que a aguarda. Alguém a aguarda. Alguém a aguarda. Sua presença é finalmente assunto da vida de outra pessoa. Limpa os olhos, vai sem maquiagem!
Mundo lá fora.
Os olhos vêem gente, ela respira o ar fresco da noite, a janela aberta do carro a permite degustar o vento. Tem um gosto bom...
quarta-feira, 6 de outubro de 2010
tu
mas e se confurimos um pouquinho o eu e o tu? (filósofos homens jamais saberão da volúpia que existe aí)
minha cara-metade anda blogando também... diz ela que está tentando, bem melhor tentar do que conseguir eu diria...
posto aplausos a ela!
minha cara-metade anda blogando também... diz ela que está tentando, bem melhor tentar do que conseguir eu diria...
posto aplausos a ela!
terça-feira, 5 de outubro de 2010
amizade
A amizade nasce quando se tem o outro em grande estima, maior do que a que se tem por si, quando, ainda mais, ama-se o outro, mas menos que a si proprio, e quando enfim, para facilitar as relacoes se estabelece um disfarce, uma tingidura de intimidade, guardando-se sabiamente, ao mesmo tempo, da intimidade verdadeira e da confusao do eu e do tu.
Nietzsche
Nietzsche
domingo, 3 de outubro de 2010
nota do autor
Dizer algo em nome próprio é muito curioso, pois não é em absoluto quando nos tomamos por um eu, por uma pessoa ou um sujeito que falamos em nosso nome. Ao contrário, um indivíduo adquire nome próprio ao cabo do mais severo exercício de despersonalizaçao, quando se abre às multiplicidades que o atravessam de ponta a ponta, às intensidades que o percorrem.
In: Deleuze, Conversações
In: Deleuze, Conversações
quarta-feira, 29 de setembro de 2010
ambivalência
a prova de que é possível amar vem da prova que se tem da existência do outro. e a existência do outro está diretamente relacionada ao nosso próprio descontrole com relação a ela. diz winnicott que o bebê destrói ativamente o objeto em sua fantasia e se surpreende em encontrá-lo ainda vivo depois disto.
se o outro sobrevive à propria agressividade do bebê, há para este bebê possibilidade de reparação. "ufa! não sou capaz de destruí-lo. o outro jamais estará em minhas mãos". há, enfim, possibilidade de amor.
o erotismo compõe-se de amor e agressividade. ser amado é estar confrontado com o risco de ser destruído, sempre.
se o outro sobrevive à propria agressividade do bebê, há para este bebê possibilidade de reparação. "ufa! não sou capaz de destruí-lo. o outro jamais estará em minhas mãos". há, enfim, possibilidade de amor.
o erotismo compõe-se de amor e agressividade. ser amado é estar confrontado com o risco de ser destruído, sempre.
terça-feira, 28 de setembro de 2010
Augusta
Gazebo
Maison
A. de queirós
Banca da Princesinha
Rede Farma
Não Estacione das 7:00 às 22:00
noite livre
Vegas
Vote 1398
F. Albuquerque
Vitrine
Rei do Mate
Sebo
Tacos
Pedaço da Pizza
Unibanco
Hotel Ibis
Center 3
Kiss FM
Maison
A. de queirós
Banca da Princesinha
Rede Farma
Não Estacione das 7:00 às 22:00
noite livre
Vegas
Vote 1398
F. Albuquerque
Vitrine
Rei do Mate
Sebo
Tacos
Pedaço da Pizza
Unibanco
Hotel Ibis
Center 3
Kiss FM
quinta-feira, 23 de setembro de 2010
pele
devagar, as palavras vão tornando-se excessivas. olhos se olham e se conversam. e escutar, nessas horas, é escutar a mínima sonoridade exalada pelos corpos: as respirações, ruídos dos estômagos, a densidade da saliva que se move nas bocas de cada um. qualquer palavra poria esta suavidade sonora em segundo plano, e aqui não é este o caso. os corpos são de primeira importância nessa história.
cheiro. também é comunicação: o perfume dela, o cheiro de bebida na boca. o gosto é salgado e doce, tem partes salgadas e doces em ambas as peles, e as variadas misturas destes dois temperos opostos vão se fazendo numa composição que a cada dia é diferente: a boca doce dele se salga com a palma da mão dela. com a bochecha dela, o pescoço, a barriga. a pele dela é de sal? a boca dele é de mel? os paladares se conversam perfeitamente. como definir esses dois? salubre.
calor. a pele de um exala quentura que se enlaça com a quentura do outro. o pé mais frio dela logo volta à temperatuda ambiente, aconchegado no meio das pernas dele. a temperatura é uma só. o ambiente é o entre-dois. pele com pele faz uma só continuidade. meu braço é seu. sua perna é minha, minha boca é um mundo que se apodera de seu corpo. há um território em comum: um corpo todo cabe numa boca de menina. a lógica das dimensões, nessa conversa, pouco importa. a lógica não-verbal é outra.
e é toda a expressão do corpo, toda a sua movimentação quase involuntária que faz dessa conversa a mais sintônica e a mais autêntica que há. com o corpo se ama, se luta, se domina, se dança, se fala. mas não se mente.
cheiro. também é comunicação: o perfume dela, o cheiro de bebida na boca. o gosto é salgado e doce, tem partes salgadas e doces em ambas as peles, e as variadas misturas destes dois temperos opostos vão se fazendo numa composição que a cada dia é diferente: a boca doce dele se salga com a palma da mão dela. com a bochecha dela, o pescoço, a barriga. a pele dela é de sal? a boca dele é de mel? os paladares se conversam perfeitamente. como definir esses dois? salubre.
calor. a pele de um exala quentura que se enlaça com a quentura do outro. o pé mais frio dela logo volta à temperatuda ambiente, aconchegado no meio das pernas dele. a temperatura é uma só. o ambiente é o entre-dois. pele com pele faz uma só continuidade. meu braço é seu. sua perna é minha, minha boca é um mundo que se apodera de seu corpo. há um território em comum: um corpo todo cabe numa boca de menina. a lógica das dimensões, nessa conversa, pouco importa. a lógica não-verbal é outra.
e é toda a expressão do corpo, toda a sua movimentação quase involuntária que faz dessa conversa a mais sintônica e a mais autêntica que há. com o corpo se ama, se luta, se domina, se dança, se fala. mas não se mente.
terça-feira, 21 de setembro de 2010
play a song for me
Then take me disappearin' through the smoke rings of my mind
Down the foggy ruins of time, far past the frozen leaves
The haunted, frightened trees, out to the windy beach
Far from the twisted reach of crazy sorrow.
Yes, to dance beneath the diamond sky with one hand wavingfree
Silhouetted by the sea, circled by the circus sands
With all memory and fate driven deep beneath the waves
Let me forget about today until tomorrow.
Down the foggy ruins of time, far past the frozen leaves
The haunted, frightened trees, out to the windy beach
Far from the twisted reach of crazy sorrow.
Yes, to dance beneath the diamond sky with one hand wavingfree
Silhouetted by the sea, circled by the circus sands
With all memory and fate driven deep beneath the waves
Let me forget about today until tomorrow.
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
Soneto do amor total
Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.
Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.
Amo-te como um bicho simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.
E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.
Vinícios de Moraes
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.
Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.
Amo-te como um bicho simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.
E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.
Vinícios de Moraes
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
Pois em mim mesma eu vi como era o inferno.
naquele momento eu ainda não entendera que o primeiro esboço do que seria uma prece já estava nascendo do inferno feliz onde eu entrara, e de onde eu já não queria mais sair.
Daquele país de ratos e tarântolas e baratas, meu amor, em que o regozijo pinga em gordas gotas de sangue.
Só a misericordia de Deus poderia me tirar da terrível alegria indiferente em que eu me banhava, toda plena.
Pois eu exultava, eu conhecia a violência do escuro alegre - eu estava como o demônio, o inferno é meu máximo.
In: Clarice Lispector, A paixão segundo G.H
naquele momento eu ainda não entendera que o primeiro esboço do que seria uma prece já estava nascendo do inferno feliz onde eu entrara, e de onde eu já não queria mais sair.
Daquele país de ratos e tarântolas e baratas, meu amor, em que o regozijo pinga em gordas gotas de sangue.
Só a misericordia de Deus poderia me tirar da terrível alegria indiferente em que eu me banhava, toda plena.
Pois eu exultava, eu conhecia a violência do escuro alegre - eu estava como o demônio, o inferno é meu máximo.
In: Clarice Lispector, A paixão segundo G.H
domingo, 12 de setembro de 2010
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
fim
horrorosa bruxa, como faz-me sofrer, incompetente em qualquer virtude, desgraçada, disse que me amava e agora? esqueceu-me! assim, desse jeito, como quem de um dia pro outro deixa de dar valor a uma coisa primordial, um hábito, eu diria. vê-la todos os dias deixava-me em paz, era uma boa rotina, preenchedora, recofortante. mas e agora? sem ela? o que fazer dentro do buraco vazio da ausencia de hábitos?
raiva!
horrorosa, víbora, pode ser tão completamente egoísta, só pensa nela mesma. de repente eu sou vazio a ela, sem sentido. porque? algo novo simplesmente me substituiu? Desesperador é perceber-se totalmente passível de ser substituído: quer dizer que nada do que fiz é único, autoral. quer dizer que alguém além de mim pode satisfazê-la como ela gosta de ser.
Ressentimento! Fiel amigo e escudeiro, não fosse você estaria quase morto de baixa auto estima, não fosse o ressentimento- que significa aqui: odiar essa megera que um dia se disse apaixonada - eu desvaleceria no buraco de mim mesmo, na minha possível não-existencia. a dor de ser rejeitado é tão grande que o ressentimento alivia. é medicamento paliativo, que vai amenizando esse ultimos tempos que se tem antes da morte.
Morte, objetivo certo! Morre ela ou morro eu? Alguém deve morrer para que o outro viva.
raiva!
horrorosa, víbora, pode ser tão completamente egoísta, só pensa nela mesma. de repente eu sou vazio a ela, sem sentido. porque? algo novo simplesmente me substituiu? Desesperador é perceber-se totalmente passível de ser substituído: quer dizer que nada do que fiz é único, autoral. quer dizer que alguém além de mim pode satisfazê-la como ela gosta de ser.
Ressentimento! Fiel amigo e escudeiro, não fosse você estaria quase morto de baixa auto estima, não fosse o ressentimento- que significa aqui: odiar essa megera que um dia se disse apaixonada - eu desvaleceria no buraco de mim mesmo, na minha possível não-existencia. a dor de ser rejeitado é tão grande que o ressentimento alivia. é medicamento paliativo, que vai amenizando esse ultimos tempos que se tem antes da morte.
Morte, objetivo certo! Morre ela ou morro eu? Alguém deve morrer para que o outro viva.
quarta-feira, 8 de setembro de 2010
"Existe um discurso possível sobre o amor? Esta questao é absolutamente primordial: trata-se de saber se se pode falar de amor e quem pode dele falar. De fato, o enamorado é o único que pode falar de amor, mas ele não fala, quem fala do amor não está enamorado. Aliás, na prática psicoterápica nós sabemos disso. Se nos metemos a falar de amor ao paciente, tornamo-nos péssiamos pedagogos, ridiculamente moralistas, caímos em justificativas em que infelizmente o paciente não acredita. Toda vez que atuamos mal numa psicoterapia é porque fomos explicativos."
Pierre Fédida
Pierre Fédida
domingo, 5 de setembro de 2010
a beira do abismo
amar: viver a beira do abismo. abismo porque eh proprio do acaso haver possibilidade de queda iminente. acaso porque amor soh acontece ao acaso, quando nada se programa, quando nada se quer contolar. quando se arrisca equilibrar-se num fio estreito...amor eh reacionario ao chao firme, ao tempo cronologico, ao pre estabelecimento de um contrato. mas pode-se fazer um contrato a partir do amor? espera-se que sim... se nao se esperar que sim, como sustentar viver a dois?
o amor esta na lacuna entre duas bocas que se pedem, na distancia entre dois amantes que devaneiam, na proximidade das almas, na espera, no alcance, na espera outra vez, na saudade, no apetite sexual. nada mais real do que o apetite sexual, nada mais real... ali no encontro dos corpos as mentiras caem... sexo eh o abismo das mentiras. eh o que ha de mais verdadeiro entre duas pessoas que se desejam com paixao. amor-paixao! salve salve!
o amor esta na lacuna entre duas bocas que se pedem, na distancia entre dois amantes que devaneiam, na proximidade das almas, na espera, no alcance, na espera outra vez, na saudade, no apetite sexual. nada mais real do que o apetite sexual, nada mais real... ali no encontro dos corpos as mentiras caem... sexo eh o abismo das mentiras. eh o que ha de mais verdadeiro entre duas pessoas que se desejam com paixao. amor-paixao! salve salve!
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
proximo capitulo ( a entrada de um terceiro desmonta a vontade de violência)
Ele - sabe que eu gostaria de retificar uma coisa..
Eu- o que?
Ele- aquele dia eu estava muito exaltado! devia ter mudado a forma como me dirigi a vocês... queria tanto que me levassem a sério que acabei ofendendo todo mundo.
Eu - ah, entao voce repensou?
Ele- nao nao! nao repensei, ainda acho que voces falharam com um monte de coisas... mas sei que eu tambem... e que aquilo nao é jeito de resolver. nao vou denunciar a clinica e nem gritar mais...
Grupo - silencio (alívio)
Ele -acho que eu ando muito confuso com as idéias, de dia quero fazer tudo ao mesmo tempo e fico muito deprimido, nao faço nada. a noite, quando deito na cama, idealizo tantos planos pra minha vida: estudar, trabalhar, ter uma vida normal. me sinto pleno, cheio de coragem, como se eu pudesse tudo! mas na verdade, a unica coisa que eu tenho conseguido de fato fazer é vir aqui pros grupos. o unico compromisso que agora ta dando pra cumprir...
Eu - mas é muito bom ouvir isso... até porque no mundo das idéias a gente sempre pode ser poderoso e ter e fazer tudo. mas no mundo do possível, o que é de fato... possivel?
Grupo - trabalhar é muito difícil mesmo quando a gente ta assim, eu tambem acordo e nao tenho vontade de fazer nada, muitas vezes eu quero morrer.
Grupo - eu to muito confusa tambem, fiquei tanto tempo em casa encarcerada escutando os meus pais e tentando agradá-los, mas... nao da pra agradar sempre!
Eu - pois é, é dificil se diferenciar do que os pais querem pra gente... e quando tem discordancia a sensaçao é as vezes de muita confusao....e dor...
Ele - eu sempre me referi à minha mae como uma ordinária, confesso. ela é burra, iletrada, nao consegue admitir quando ta errada, ela é uma farsa. e sempre fez de mim uma farsa também! mas eu sei que é porque ela é fraca.
Eu - por isso tem medo de nao ser levado a serio aqui?
Ele - sim, a minha vida inteira eu tive que enconbrir os erros da minha mae. xingo muito ela aqui pra voces, mas sei que tambem fico tentando cuidar da minha mae porque a amo. amo aquela vagabunda!!
Grupo - silencio
Eu - gostaria que a chamassemos aqui pra conversamos?
Ele - de jeito nenhum, ela vai me acusar, vai me apequenar na frente de voces, eu nao posso com ela, nao quero ela aqui. nossa relaçao vai ser sempre assim, com distancia, e muita raiva...
Eu - e amor, parece que é isso que vc diz.
Grupo - voce sabe que tudo o que voce disse hoje fica registrado. tua fala é valiosa, ela indica que vc se movimentou, que pode pensar as coisas, referenciar o que acontece aqui ao que acontece nas tuas relaçoes. por mais que alguem venha te acusar ou desmenti-lo, o que voce ja disse aqui no grupo e o caminho que vem percorrendo é algo que fica registrado pra todos nós.
Ele - (em alivio) obrigada. sei que estou sendo ouvido agora... sou parte do grupo.
Eu- o que?
Ele- aquele dia eu estava muito exaltado! devia ter mudado a forma como me dirigi a vocês... queria tanto que me levassem a sério que acabei ofendendo todo mundo.
Eu - ah, entao voce repensou?
Ele- nao nao! nao repensei, ainda acho que voces falharam com um monte de coisas... mas sei que eu tambem... e que aquilo nao é jeito de resolver. nao vou denunciar a clinica e nem gritar mais...
Grupo - silencio (alívio)
Ele -acho que eu ando muito confuso com as idéias, de dia quero fazer tudo ao mesmo tempo e fico muito deprimido, nao faço nada. a noite, quando deito na cama, idealizo tantos planos pra minha vida: estudar, trabalhar, ter uma vida normal. me sinto pleno, cheio de coragem, como se eu pudesse tudo! mas na verdade, a unica coisa que eu tenho conseguido de fato fazer é vir aqui pros grupos. o unico compromisso que agora ta dando pra cumprir...
Eu - mas é muito bom ouvir isso... até porque no mundo das idéias a gente sempre pode ser poderoso e ter e fazer tudo. mas no mundo do possível, o que é de fato... possivel?
Grupo - trabalhar é muito difícil mesmo quando a gente ta assim, eu tambem acordo e nao tenho vontade de fazer nada, muitas vezes eu quero morrer.
Grupo - eu to muito confusa tambem, fiquei tanto tempo em casa encarcerada escutando os meus pais e tentando agradá-los, mas... nao da pra agradar sempre!
Eu - pois é, é dificil se diferenciar do que os pais querem pra gente... e quando tem discordancia a sensaçao é as vezes de muita confusao....e dor...
Ele - eu sempre me referi à minha mae como uma ordinária, confesso. ela é burra, iletrada, nao consegue admitir quando ta errada, ela é uma farsa. e sempre fez de mim uma farsa também! mas eu sei que é porque ela é fraca.
Eu - por isso tem medo de nao ser levado a serio aqui?
Ele - sim, a minha vida inteira eu tive que enconbrir os erros da minha mae. xingo muito ela aqui pra voces, mas sei que tambem fico tentando cuidar da minha mae porque a amo. amo aquela vagabunda!!
Grupo - silencio
Eu - gostaria que a chamassemos aqui pra conversamos?
Ele - de jeito nenhum, ela vai me acusar, vai me apequenar na frente de voces, eu nao posso com ela, nao quero ela aqui. nossa relaçao vai ser sempre assim, com distancia, e muita raiva...
Eu - e amor, parece que é isso que vc diz.
Grupo - voce sabe que tudo o que voce disse hoje fica registrado. tua fala é valiosa, ela indica que vc se movimentou, que pode pensar as coisas, referenciar o que acontece aqui ao que acontece nas tuas relaçoes. por mais que alguem venha te acusar ou desmenti-lo, o que voce ja disse aqui no grupo e o caminho que vem percorrendo é algo que fica registrado pra todos nós.
Ele - (em alivio) obrigada. sei que estou sendo ouvido agora... sou parte do grupo.
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
menino
José chega fraco, sonolento, olhos esbugalhados, pomo de adão viivelmente saliente. A magreza esquálida é notável e beira uma anorexia. José mantém-se faminto. Morto-vivo, diriam muitos que o viam. Mas será que era essa a unica maneira dele poder estar vivo?
"Minha mulher está exausta, mas não deixa de cuidar de mim". A mulher dá a ele leite ninho atolado de açúcar. As vezes prepara-o com nescau e até mesmo sustagem. Mantendo-se anêmico e completamente frágil, ganha da mulher tratamento mais que especial. O filho de 22 anos conseguiu um emprego, finalmente. Não há mais necessidade de disputar com ele seu lugar junto a esta esposa- super- mãe. Mantendo-se anoréxico, mantém o amor devoto da mulher por ele. Quase uma virgem-maria, esta mulher que nao demandava dele qualquer traço de masculinidade. Se tinha algum amante, pouco importava a José. Que o desejo sexual da esposa se realizasse em outro lugar, era seu desejo materno que saia vitorioso. Assim reina sua majestade, o bebê da esposa, que chegara ao tratamento depertando em todos uma imensa angústia. "Seria pedófilo?" Perguntou-se isso entre as pessoas durante muito tempo por que sua marca registrada era um amor que José revelara sentir por um menina de 14 anos. "Seria pedófilo?" A pergunta ressoava, cutucando cada um em sua moral, sua tolerancia ao fora-do-comum. José, entretanto, revelava um amor pueril, queria sentar na sala e brincar com ela. Sexo? Haveria desejo sexual pela menina de 14 anos? Que espécie de amor era essa, quando ninguem conseguia escutar no discurso de José qualquer intenção maliciosa? Ele respeitava com a mais pura devoçao a pureza daquela menina, amava-a, amava sua inocencia, seu corpo ainda desabrochando os primeiros e tímidos traços de mulher. Entre a menina e a mãe não haviam mais possibilidades. Ou José era um bebê da esposa ou irmão da menina. Seu corpo quase sumindo revelava a completa sofreguidão em ter de sustentar uma imagem de Homem. Qual o ganho em ser Homem? Pergunta sem resposta para José.
"Minha mulher está exausta, mas não deixa de cuidar de mim". A mulher dá a ele leite ninho atolado de açúcar. As vezes prepara-o com nescau e até mesmo sustagem. Mantendo-se anêmico e completamente frágil, ganha da mulher tratamento mais que especial. O filho de 22 anos conseguiu um emprego, finalmente. Não há mais necessidade de disputar com ele seu lugar junto a esta esposa- super- mãe. Mantendo-se anoréxico, mantém o amor devoto da mulher por ele. Quase uma virgem-maria, esta mulher que nao demandava dele qualquer traço de masculinidade. Se tinha algum amante, pouco importava a José. Que o desejo sexual da esposa se realizasse em outro lugar, era seu desejo materno que saia vitorioso. Assim reina sua majestade, o bebê da esposa, que chegara ao tratamento depertando em todos uma imensa angústia. "Seria pedófilo?" Perguntou-se isso entre as pessoas durante muito tempo por que sua marca registrada era um amor que José revelara sentir por um menina de 14 anos. "Seria pedófilo?" A pergunta ressoava, cutucando cada um em sua moral, sua tolerancia ao fora-do-comum. José, entretanto, revelava um amor pueril, queria sentar na sala e brincar com ela. Sexo? Haveria desejo sexual pela menina de 14 anos? Que espécie de amor era essa, quando ninguem conseguia escutar no discurso de José qualquer intenção maliciosa? Ele respeitava com a mais pura devoçao a pureza daquela menina, amava-a, amava sua inocencia, seu corpo ainda desabrochando os primeiros e tímidos traços de mulher. Entre a menina e a mãe não haviam mais possibilidades. Ou José era um bebê da esposa ou irmão da menina. Seu corpo quase sumindo revelava a completa sofreguidão em ter de sustentar uma imagem de Homem. Qual o ganho em ser Homem? Pergunta sem resposta para José.
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
amor inventado
ele disse que amava tanto que perdoava tudo... pois ela era linda, livre, alegre! beijava-o com ternura e ardência, fechava os olhos prolongadamente durantes os beijos, a ponto de continuar fora do ar mesmo quando ele afastasse dela os lábios. ele perdoaria qualquer segredo omitido, qualquer descaso dela com ele, inclusive a incentivaria e contar-lhe suas tramas, abrir-se com ele, posto que a relaçao deles era independente de qualquer compromisso. o limite real que se impunha, impedindo-os de um relacionamento convencional, em que se vive todos os dias considerando-se um casal, libertava os dois de uma espécie de corrente que os aprisionava ao normal. eles eram livres para o amor.
de toda forma, quando feitas certas confissoes, algo se desestabilizaria nas fantasias que cada um mantinha vivas sobre o outro. ela já notava que ele estaria sentindo-se por baixo muitas vezes, como se estivesse mais ameaçado a perder suas posses. a liberdade excessiva dela lhe pesava em sua certeza sobre a própria masculinidade. as vezes sentia-se tao mais medroso que ela que acabava pensando...devaneando: queria ser mulher! deve ser como ser uma deusa com asas. pronta para tudo, sedutora, conquistadora e ainda por cima devota a dor. toda mulher vê na dor qualquer coisa de sublime.
ele entao sentia-se triste e ciumento, mas conseguia: sossegava. ia viajar, ouvir um concerto musical, andar de bicicleta por caminhos que nao conhecia. ele sabia ser feliz consigo mesmo, amava-se quando pensava que nao precisava dela. amava sua individualidade, sua pouca disposiçao para a intimidade em excesso, para o dia a dia, as pequenas renuncias que tinha que fazer em nome dos desejos dela. tinha pouquissima disposiçao para isso e sabia. este saber lhe caía bem. levantava a cabeça com ar superior e até mesmo procurava um espelho qualquer para dar uma olhadela na própria imagem.
ela nao tinha dúvidas de quem era. sabia de seu poder de seduçao, sabia que facilmente enlaçava qualquer pessoa a si mesma, amava muito a sensaçao do amor, a idéia de que podia fundir-se ao outroamando... sabia que sempre haveria olhares para ela e ineteresse por tudo aquilo que consegisse manter em recato. com recato ela sustentava um mistério extremamente instigador.
com todas a diferenças e indiferenças, eles sabiam que haveriam muitos momentos felizes juntos, muita comunhao, muita sintonia e era isso que importava aos dois. no meio e ao redor deles estaria o resto da vida, também bonita e sempre ameaçando o amor deles.
de toda forma, quando feitas certas confissoes, algo se desestabilizaria nas fantasias que cada um mantinha vivas sobre o outro. ela já notava que ele estaria sentindo-se por baixo muitas vezes, como se estivesse mais ameaçado a perder suas posses. a liberdade excessiva dela lhe pesava em sua certeza sobre a própria masculinidade. as vezes sentia-se tao mais medroso que ela que acabava pensando...devaneando: queria ser mulher! deve ser como ser uma deusa com asas. pronta para tudo, sedutora, conquistadora e ainda por cima devota a dor. toda mulher vê na dor qualquer coisa de sublime.
ele entao sentia-se triste e ciumento, mas conseguia: sossegava. ia viajar, ouvir um concerto musical, andar de bicicleta por caminhos que nao conhecia. ele sabia ser feliz consigo mesmo, amava-se quando pensava que nao precisava dela. amava sua individualidade, sua pouca disposiçao para a intimidade em excesso, para o dia a dia, as pequenas renuncias que tinha que fazer em nome dos desejos dela. tinha pouquissima disposiçao para isso e sabia. este saber lhe caía bem. levantava a cabeça com ar superior e até mesmo procurava um espelho qualquer para dar uma olhadela na própria imagem.
ela nao tinha dúvidas de quem era. sabia de seu poder de seduçao, sabia que facilmente enlaçava qualquer pessoa a si mesma, amava muito a sensaçao do amor, a idéia de que podia fundir-se ao outroamando... sabia que sempre haveria olhares para ela e ineteresse por tudo aquilo que consegisse manter em recato. com recato ela sustentava um mistério extremamente instigador.
com todas a diferenças e indiferenças, eles sabiam que haveriam muitos momentos felizes juntos, muita comunhao, muita sintonia e era isso que importava aos dois. no meio e ao redor deles estaria o resto da vida, também bonita e sempre ameaçando o amor deles.
terça-feira, 24 de agosto de 2010
dois
sol e órbitas
lua e sombra
noite e estrela
boca e boca
tequila e música
garfo e faca
pudor e apaixonamento
monet e van gogh
criação e desejo
narcisismo e ressentimento
amor e entrega
sexo e morte
cravo e canela
ele com ela
todo par que se completa faz UM
lua e sombra
noite e estrela
boca e boca
tequila e música
garfo e faca
pudor e apaixonamento
monet e van gogh
criação e desejo
narcisismo e ressentimento
amor e entrega
sexo e morte
cravo e canela
ele com ela
todo par que se completa faz UM
domingo, 22 de agosto de 2010
três
três pratos de trigo para três tigres tristes
três tragos de cigarro para três amigas distintas
três copos de cerveja para três meninas no bar
três sacolas de roupas pra três mulheres nas compras
três risadas femininas são uma grande gargalhada que contagia a rua toda
três lágrimas no rosto de uma viram nove no rosto de todas
uma conversa mole de um cara qualquer irrita as três
um tirada de sarro de uma com a outra faz sempre a terceira rir
um monólogo sobre o amor faz as três quererem amar
um grande amor sintoniza as carências delas
uma grande sacanagem sintoniza as raivas delas
uma grande novidade sintoniza os suspiros entusiasmados
uma morte deixa as três de luto por ela
uma gravidez deixa os três devires maternos palpitando seus corpos de mulher
duas brigando deixam a terceira como pólo neutro
duas chorando deixam a terceira se sentindo culpada
duas bebendo deixam a terceira sendo careta
duas angustiadas deixam a terceira se sentindo cega
duas morrendo de rir deixam a terceira se sentindo um tédio
duas querendo amizade chamam a terceira pra compor
três amigas sempre carregam três amores com elas, cada qual com seu jeito tão único de amar...
três tragos de cigarro para três amigas distintas
três copos de cerveja para três meninas no bar
três sacolas de roupas pra três mulheres nas compras
três risadas femininas são uma grande gargalhada que contagia a rua toda
três lágrimas no rosto de uma viram nove no rosto de todas
uma conversa mole de um cara qualquer irrita as três
um tirada de sarro de uma com a outra faz sempre a terceira rir
um monólogo sobre o amor faz as três quererem amar
um grande amor sintoniza as carências delas
uma grande sacanagem sintoniza as raivas delas
uma grande novidade sintoniza os suspiros entusiasmados
uma morte deixa as três de luto por ela
uma gravidez deixa os três devires maternos palpitando seus corpos de mulher
duas brigando deixam a terceira como pólo neutro
duas chorando deixam a terceira se sentindo culpada
duas bebendo deixam a terceira sendo careta
duas angustiadas deixam a terceira se sentindo cega
duas morrendo de rir deixam a terceira se sentindo um tédio
duas querendo amizade chamam a terceira pra compor
três amigas sempre carregam três amores com elas, cada qual com seu jeito tão único de amar...
sexta-feira, 20 de agosto de 2010
vontade de violência e de ser violentado...
Ele - Hoje eu vim aqui pra reclamar, pra que vocês me olhem!!! Voces sao uns negligentes!! Quero denuncia-los, psicólogos de merda!!
Eu - (silêncio, perplexidade)
Ele - (grita alto pela instituição) Psicólogos de merda!!! Pensam que sabem como eu sofro? Pensam que sabem pelo que eu estou passando? Nao consigo me organziar, nao consigo nem cuidar de mim mesmo!!! não tomo banho, emagreci muito, olha só! (exibe a barriga chupada)
Eu- vamos conversar em um lugar mais reservado (fecho a porta da sala). O que poderiamos ter feito? tentamos telefonar, até pensamos em ir a tua casa... você sumiu...
Ele- (ainda grita) porque eu não estou conseguindo vir!!! E não venha se defender, a responsabilidade é de vocês! E eu não sei se iria recebê-los em minha casa! Não confio em vcs!!
Eu - (baixando o escudo que automaticamente levantei frente a uma fala agressiva como essa)porque será que falhamos com isso? não somos perfeitos, às vezes é dificil confiar em quem não é perfeito....
Ele - (mais calmo) é, vocês realmente não sabem do que eu preciso....
Eu- do que você precisa?
Ele - que cuidem de mim!!
Eu - (em conflito - culpa por nao ter cuidado direito x mas que espécie de cuidado impossivel ele quer?)
como podemos cuidar de você agora?
Ele - quero ser internado! ficar sob vigilancia 24 hs, remédios 24 hs, quero poder não ter nenhuma escolha porque tenho medo de fazer mal a mim mesmo. vocês nem sabem, mas eu ando me colocando em risco!!!
Eu- não sabemos pois você nunca nos conta...
Ele - e nem vou contar!!!! não quero que vocês saibam de minha intimidade!
Eu - (posta em cheque em minha função de psicóloga, na minha maneira de fazer vínculos de confiança e no meu adequamento às regras de funcionamento daquela instituição). Então é de outro cuidado que você precisa, de um contenção, e não que investiguemos com você tua vida íntima a fim de ajudá-lo a refletir sobre o que está acontecendo....
( como falar de intimidade se ele diz que é impossivel confiar?)
Ele - isso mesmo... mas tudo bem... eu posso dizer que estou atravessando a rua sem olhar, corro sempre o risco de ser atropelado, uso cocaína todos os dias, ando dando por aí sem preservativos... e não por uma vontade minha (não?), mas porque não tenho mais escolha, tudo o que aparece na minha frente eu vou tragando....
Eu - o tratamento aqui proposto você nao consegue tragar, não é? (ainda me questioando sobre o " tratamento aqui proposto".)
Ele - Olha, querida, eu não quero ofendê-los aqui, não quero causar problemas, só quero brigar pelo que é meu! que me levem a sério! vou precisar denunciá-los por isso...
Eu - (parece que ele queria mesmo era denunciar-se... mas com que intuito?) ok, você pode fazer isso se sente que sua verdade será levada em conta, é isso que importa afinal de contas, que sua verdade ganhe voz, e se for necessária uma queixa registrada, que seja... mas porque não falar disso diretamente a nós, já que está aqui conosco? você está aqui agora!
Ele - (vacilante) prefiro denunciar a clínica e depois me internar. poderia ter ido sozinho, mas vim aqui antes informá-los!
Eu - (sua atitude de vir nos informar é um pedido de ajuda?) você quer que o ajudemos a se internar?
Ele - quero! mas voces não podem me manter preso lá!!!! (paradoxo: confiar no outro é um pedido de parceria ou de submissao à "autoridade dos psicólogos de merda"? )
Eu - porque faríamos isso?
Ele - já fizeram isso comigo muitas vezes, quando eu resolvo dar um voto de confiança à alguém abusam de mim, distorcem tudo, falam de mim como se eu fosse bandido. e eu não tenho mais relações com niguém, ninguém me aguenta e eu não aguento mais ninguém (chora).
Eu - você pode ter certeza de que nosso interesse com você é ajudá-lo a passar pelo que você está passando...
Ele - vocês querem manter-me louco! pra que ganhem o dinheiro de vocês!!
Eu - nosso trabalho é ajudá-los para que partam, e novas pessoas cheguem. (quero muito acreditar que trabalhamos contra qualquer reprodução de um manicomio, mas será que isso que ele diz tem algum fundo de verdade?). você sem se tratar é que tem se mantido louco....
Ele - preciso de um remédio! rivotril pelo amor de deus, quero me acalmar para não falar mais assim com vocês.
Eu - dá-lhe um comprimido de rivotril! (mais calma em alguns minutos, como é bom o remédio em parceria com essas conversas que beiram o impossível....)
Ele - vou comprar uma coca-cola e bolachas. vem comer comigo!
Eu - (o que é isso agora? convite pra comermos do mesmo pão? isso é sedução? pedido de desculpas? tentativa de amor? tentativa de tragar-me também? sinto-me abusada...) Não, obrigada. Fico feliz de que está calmo, vamos estudar as possibilidades de internação pra você, ok?
Ele - come, deita e dorme.
(continua em um próximo capítulo, quem sabe...)
Eu - (silêncio, perplexidade)
Ele - (grita alto pela instituição) Psicólogos de merda!!! Pensam que sabem como eu sofro? Pensam que sabem pelo que eu estou passando? Nao consigo me organziar, nao consigo nem cuidar de mim mesmo!!! não tomo banho, emagreci muito, olha só! (exibe a barriga chupada)
Eu- vamos conversar em um lugar mais reservado (fecho a porta da sala). O que poderiamos ter feito? tentamos telefonar, até pensamos em ir a tua casa... você sumiu...
Ele- (ainda grita) porque eu não estou conseguindo vir!!! E não venha se defender, a responsabilidade é de vocês! E eu não sei se iria recebê-los em minha casa! Não confio em vcs!!
Eu - (baixando o escudo que automaticamente levantei frente a uma fala agressiva como essa)porque será que falhamos com isso? não somos perfeitos, às vezes é dificil confiar em quem não é perfeito....
Ele - (mais calmo) é, vocês realmente não sabem do que eu preciso....
Eu- do que você precisa?
Ele - que cuidem de mim!!
Eu - (em conflito - culpa por nao ter cuidado direito x mas que espécie de cuidado impossivel ele quer?)
como podemos cuidar de você agora?
Ele - quero ser internado! ficar sob vigilancia 24 hs, remédios 24 hs, quero poder não ter nenhuma escolha porque tenho medo de fazer mal a mim mesmo. vocês nem sabem, mas eu ando me colocando em risco!!!
Eu- não sabemos pois você nunca nos conta...
Ele - e nem vou contar!!!! não quero que vocês saibam de minha intimidade!
Eu - (posta em cheque em minha função de psicóloga, na minha maneira de fazer vínculos de confiança e no meu adequamento às regras de funcionamento daquela instituição). Então é de outro cuidado que você precisa, de um contenção, e não que investiguemos com você tua vida íntima a fim de ajudá-lo a refletir sobre o que está acontecendo....
( como falar de intimidade se ele diz que é impossivel confiar?)
Ele - isso mesmo... mas tudo bem... eu posso dizer que estou atravessando a rua sem olhar, corro sempre o risco de ser atropelado, uso cocaína todos os dias, ando dando por aí sem preservativos... e não por uma vontade minha (não?), mas porque não tenho mais escolha, tudo o que aparece na minha frente eu vou tragando....
Eu - o tratamento aqui proposto você nao consegue tragar, não é? (ainda me questioando sobre o " tratamento aqui proposto".)
Ele - Olha, querida, eu não quero ofendê-los aqui, não quero causar problemas, só quero brigar pelo que é meu! que me levem a sério! vou precisar denunciá-los por isso...
Eu - (parece que ele queria mesmo era denunciar-se... mas com que intuito?) ok, você pode fazer isso se sente que sua verdade será levada em conta, é isso que importa afinal de contas, que sua verdade ganhe voz, e se for necessária uma queixa registrada, que seja... mas porque não falar disso diretamente a nós, já que está aqui conosco? você está aqui agora!
Ele - (vacilante) prefiro denunciar a clínica e depois me internar. poderia ter ido sozinho, mas vim aqui antes informá-los!
Eu - (sua atitude de vir nos informar é um pedido de ajuda?) você quer que o ajudemos a se internar?
Ele - quero! mas voces não podem me manter preso lá!!!! (paradoxo: confiar no outro é um pedido de parceria ou de submissao à "autoridade dos psicólogos de merda"? )
Eu - porque faríamos isso?
Ele - já fizeram isso comigo muitas vezes, quando eu resolvo dar um voto de confiança à alguém abusam de mim, distorcem tudo, falam de mim como se eu fosse bandido. e eu não tenho mais relações com niguém, ninguém me aguenta e eu não aguento mais ninguém (chora).
Eu - você pode ter certeza de que nosso interesse com você é ajudá-lo a passar pelo que você está passando...
Ele - vocês querem manter-me louco! pra que ganhem o dinheiro de vocês!!
Eu - nosso trabalho é ajudá-los para que partam, e novas pessoas cheguem. (quero muito acreditar que trabalhamos contra qualquer reprodução de um manicomio, mas será que isso que ele diz tem algum fundo de verdade?). você sem se tratar é que tem se mantido louco....
Ele - preciso de um remédio! rivotril pelo amor de deus, quero me acalmar para não falar mais assim com vocês.
Eu - dá-lhe um comprimido de rivotril! (mais calma em alguns minutos, como é bom o remédio em parceria com essas conversas que beiram o impossível....)
Ele - vou comprar uma coca-cola e bolachas. vem comer comigo!
Eu - (o que é isso agora? convite pra comermos do mesmo pão? isso é sedução? pedido de desculpas? tentativa de amor? tentativa de tragar-me também? sinto-me abusada...) Não, obrigada. Fico feliz de que está calmo, vamos estudar as possibilidades de internação pra você, ok?
Ele - come, deita e dorme.
(continua em um próximo capítulo, quem sabe...)
segunda-feira, 16 de agosto de 2010
idades
“Na verdade, tendemos, com o passar dos anos, ao lado mais difícil do ato de escolher. Nada é mais incomodo do que ter de escolher a cada momento- como beber o uísque, qual lado da cama ocupar etc .Por isso mesmo, quando jovens, aceitamos praticamente tudo, fugindo à escolha através de uma tolerância enorme. Estamos tateando ainda o corpo amorfo das coisas, suas texturas e perigos, e o das outras pessoas, os seus disfarces, a sua ameaça velada, mas sem nos comprometer demais. De tudo experimentamos, curiosos, como se fossemos sempre sobreviver àquela escolha, como se não fosse nunca decisiva. Com a idade, ao contrario, nos tornamos marionetes de escolhas antigas e carregamos em nosso dia-a-dia os fósseis de comportamentos cuja origem já não podemos lembrar. Em vez daquela suspensão característica de quando somos novos, livramo-nos do suplício de escolher obedecendo cegamente a tais escolhas. Por isso a velhice tem essa gravidade irrevogável, quase animal uma boa fatia do idoso permanece aquém de seu próprio controle, definitivamente automatizada. Não é tanto a proximidade da morte, mas a incapacidade de distanciar-se dos próprios automatismos o que faz com que velhos humanos lembrem animais muito velhos".
In: Nuno Ramos, Ó
In: Nuno Ramos, Ó
sábado, 14 de agosto de 2010
trilha sonora de hoje
I was alone, I took a ride,
I didn’t know what I would find there.
Another road where maybe I
Could see another kind of mind there.
Ooh then I suddenly see you,
Ooh did I tell you I need you
Ev’ry single day of my life?
You didn’t run, you didn’t lie,
You knew I wanted just to hold you,
And had you gone, you knew in time
We’d meet again for I had to hold you.
Ooh you were meant to be near me,
Ooh and I want you to hear me,
Say we’ll be together ev’ry day.
Got to get you into my life.
What can I do, what can I be?
When I’m with you I want to stay there.
If I’m true I’ll never leave,
And if I do I know the way there.
Ooh then I suddenly see you,
Ooh did I tell you I need you
Ev’ry single day of my life?
Got to get you into my life.
Got to get you into my life.
I was alone, I took a ride,
I didn’t know what I would find there.
Another road where maybe I
Could see another kind of mind there.
Ooh then I suddenly see you,
Ooh did I tell you I need you
Ev’ry single day of life?
What are you doing to my life?
I didn’t know what I would find there.
Another road where maybe I
Could see another kind of mind there.
Ooh then I suddenly see you,
Ooh did I tell you I need you
Ev’ry single day of my life?
You didn’t run, you didn’t lie,
You knew I wanted just to hold you,
And had you gone, you knew in time
We’d meet again for I had to hold you.
Ooh you were meant to be near me,
Ooh and I want you to hear me,
Say we’ll be together ev’ry day.
Got to get you into my life.
What can I do, what can I be?
When I’m with you I want to stay there.
If I’m true I’ll never leave,
And if I do I know the way there.
Ooh then I suddenly see you,
Ooh did I tell you I need you
Ev’ry single day of my life?
Got to get you into my life.
Got to get you into my life.
I was alone, I took a ride,
I didn’t know what I would find there.
Another road where maybe I
Could see another kind of mind there.
Ooh then I suddenly see you,
Ooh did I tell you I need you
Ev’ry single day of life?
What are you doing to my life?
terça-feira, 10 de agosto de 2010
mais um dia
quebra-se a mesmice, eis que surge nova gente. novas loucuras, novos afetos. nova vibraçao no ar que insistia-se em manter-se parado e repetido. reino de thânatos.
chega paranóia, auto - sacrifício, culpa histérica que beira o delirio e as fugas de realidade psicóticas. chega uma mulher encapuzada, amedrontada, chorosa. aos poucos vai fazendo vínculos quando - algo acontece que a perturba - de repente sai de si. entra em uma cápsula que a cega e ensurdece ao mundo. olha fixamente aos próprios pensamentos, pupilas vagas e ausentes. sussurra e si mesma e num gesto fugidio, afirma (quase implorando) que vai ao banheiro.
passam 40 mintuos, o banheiro fechado, uma voz baixa e discreta por trás da porta (quero desisitir dela). ela entao sai do banheiro, manchas de sangue pela calça e mãos. sem ter que insisitir muito, convido-a a contar porque havia se machucado. "os porcos estavam soltos. uma manada. querem me devorar em pedaços, sao carnívoros, gostam de carne humana. para distrair os porcos, meu sangue precisa estar espalhado pela minha pele. assim eles sentem seu odor e se afastam..."
pequenos cortes simétricos e horizontais na canela esquerda, que ela faz com um estilete que guarda diariamente na bolsa. tem carinho pelo estilete, é seu objeto mais precioso, mais indispensável.
se a cena era de sangue e estranheza em um lado, do outro era aniversario do oriental. ele sorria, os olhos fechados, a ingenuidade de uma criança que completava 27 anos. contagio geral. bolo de chocolate. campeonato de pingue-pong, fantasiando o kart em grupo. sempre rodeada de gente eu estou nessa labuta.
chega paranóia, auto - sacrifício, culpa histérica que beira o delirio e as fugas de realidade psicóticas. chega uma mulher encapuzada, amedrontada, chorosa. aos poucos vai fazendo vínculos quando - algo acontece que a perturba - de repente sai de si. entra em uma cápsula que a cega e ensurdece ao mundo. olha fixamente aos próprios pensamentos, pupilas vagas e ausentes. sussurra e si mesma e num gesto fugidio, afirma (quase implorando) que vai ao banheiro.
passam 40 mintuos, o banheiro fechado, uma voz baixa e discreta por trás da porta (quero desisitir dela). ela entao sai do banheiro, manchas de sangue pela calça e mãos. sem ter que insisitir muito, convido-a a contar porque havia se machucado. "os porcos estavam soltos. uma manada. querem me devorar em pedaços, sao carnívoros, gostam de carne humana. para distrair os porcos, meu sangue precisa estar espalhado pela minha pele. assim eles sentem seu odor e se afastam..."
pequenos cortes simétricos e horizontais na canela esquerda, que ela faz com um estilete que guarda diariamente na bolsa. tem carinho pelo estilete, é seu objeto mais precioso, mais indispensável.
se a cena era de sangue e estranheza em um lado, do outro era aniversario do oriental. ele sorria, os olhos fechados, a ingenuidade de uma criança que completava 27 anos. contagio geral. bolo de chocolate. campeonato de pingue-pong, fantasiando o kart em grupo. sempre rodeada de gente eu estou nessa labuta.
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
Vincere
os loucos revelam nossas inquietantes verdades (mantendo-as escondidas, preservamos uma espécie de sanidade?)
quem era são na Italia de mussolini?
quem era são na Italia de mussolini?
sábado, 7 de agosto de 2010
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
espera
Fechou os olhos mais intensamente, mordeu os lábios, sofrendo sem saber porquê. Abriu-os em seguida e no quarto - o quarto vazio! - subitamente não descobriu a marca da passagem de Joana. Como se fosse mentira sua existência... Ergue-se. Vem, gritou qualquer coisa nele ardente e mortal. Vem, vem, repetiu baixinho, cheio de temor, o olhar perdido. Vem...
Passos quase silenciosos pisavam lá fora as folhas secas. De novo Joana vinha... de novo ela o ouvia de longe.
Ele quedou-se de pé, junto da cama, os olhos ausentes, um cego ouvindo música distante. Aproximava-se, aproximava-se... Joana. Seus passos eram cada vez mais realidade, a única realidade. Joana. Com a subitaneidade de uma punhalada, a dor estalou dentro de seu corpo, iluminou-o de alegria e perplexidade.
Quando a porta se abriu para Joana ele deixou de existir. Escorregava muito fundo dentro de si, pairava na penumbra de sua própria floresta insuspeita. Movia-se agora de leve e seus gestos eram fáceis e novos. As pupilas escurecidas e alargadas, de súbito um animal fino, assustado como uma corça. No entanto a atmosfera tornara-se tão lúcida que ele perceberia qualquer movimento de coisa viva ao seu redor. E seu corpo era apenas memória fresca, onde se moldariam pela primeira vez as sensações.
In: Clarice Lispector, Perto do Coração Selvagem
Passos quase silenciosos pisavam lá fora as folhas secas. De novo Joana vinha... de novo ela o ouvia de longe.
Ele quedou-se de pé, junto da cama, os olhos ausentes, um cego ouvindo música distante. Aproximava-se, aproximava-se... Joana. Seus passos eram cada vez mais realidade, a única realidade. Joana. Com a subitaneidade de uma punhalada, a dor estalou dentro de seu corpo, iluminou-o de alegria e perplexidade.
Quando a porta se abriu para Joana ele deixou de existir. Escorregava muito fundo dentro de si, pairava na penumbra de sua própria floresta insuspeita. Movia-se agora de leve e seus gestos eram fáceis e novos. As pupilas escurecidas e alargadas, de súbito um animal fino, assustado como uma corça. No entanto a atmosfera tornara-se tão lúcida que ele perceberia qualquer movimento de coisa viva ao seu redor. E seu corpo era apenas memória fresca, onde se moldariam pela primeira vez as sensações.
In: Clarice Lispector, Perto do Coração Selvagem
terça-feira, 3 de agosto de 2010
at
o que vale mais é o processo, não o resultado final. É no movimento que o sujeito psicótico aparece.
Estamos juntas na loucura.
Estamos juntas na loucura.
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
La Casserole
Pensar em casamento e sentir necessidade de paixão fresca ao mesmo tempo, pensar em viagem e sacar um motivo forte que te prende onde voce está, pensar em emagrecer e acabar fazendo um almoço de domingo em um restaurante francês maravilhoso onde comer pouco seria considerado sacrilégio!
Ironias da vida?
Sabotagens inconscientes?
sacar as pequenas e perturbadoras mensagens do nosso cotidiano é estar atento às nossas verdades... por mais mentirosas que elas, as vezes, nos pareçam....
Ironias da vida?
Sabotagens inconscientes?
sacar as pequenas e perturbadoras mensagens do nosso cotidiano é estar atento às nossas verdades... por mais mentirosas que elas, as vezes, nos pareçam....
quinta-feira, 29 de julho de 2010
Freud
O amor é resultado da inquetude própria do estranho.
O campo do amor dá lugar ao horror. Horror e Amor são irmãos gêmeos.
O campo do amor dá lugar ao horror. Horror e Amor são irmãos gêmeos.
quarta-feira, 28 de julho de 2010
sentia culpa.
pelo quê, não tinha muita certeza...
Começou a inquietude após o convite inesperado àquele jantar (de adultos), não quis ir mesmo querendo, sei lá o que! vergonha... hesitação por algo a que ela fantasiava não corresponder.
melhor manter sua imagem do que sua autenticidade. num jantar seria autentica em demasia, ela com seus risos infantis e seus trejeitos que denunciariam sua vontade de ser filha. nao podia ser filha de quem a incentivava ao bom nível de ensino, à independencia, ao deslanche de sua carreira.
Mas ser filha era sempre tão melhor, tão mais confortável. depois pensou que a culpa passava mesmo por aí, pelo desapontamento que imaginava causar em todos. porque ela nao podia desapontar?
foi pra casa inquieta pelo dia todo, pelo almoço em que insistiam para que ela trabalhasse em algo que desse mais dinheiro; pelo trabalho da tarde que fazia quase voltuntariamente - em nome de quê, mesmo? - muitas vezes os motivos de suas escolhas lhe fugiam á mente, e era como se tudo ruísse. a vida em um instante não fazia mais sentido, e um trabalho que desse mais dinheiro valeria de quê?
Ela sempre querendo ser filha... a culpa é um preço que se paga.
grama necessária nesse momento, poderia haver um cheiro de orvalho, estrelas e braços quentes de um homem...
fantasia
pelo quê, não tinha muita certeza...
Começou a inquietude após o convite inesperado àquele jantar (de adultos), não quis ir mesmo querendo, sei lá o que! vergonha... hesitação por algo a que ela fantasiava não corresponder.
melhor manter sua imagem do que sua autenticidade. num jantar seria autentica em demasia, ela com seus risos infantis e seus trejeitos que denunciariam sua vontade de ser filha. nao podia ser filha de quem a incentivava ao bom nível de ensino, à independencia, ao deslanche de sua carreira.
Mas ser filha era sempre tão melhor, tão mais confortável. depois pensou que a culpa passava mesmo por aí, pelo desapontamento que imaginava causar em todos. porque ela nao podia desapontar?
foi pra casa inquieta pelo dia todo, pelo almoço em que insistiam para que ela trabalhasse em algo que desse mais dinheiro; pelo trabalho da tarde que fazia quase voltuntariamente - em nome de quê, mesmo? - muitas vezes os motivos de suas escolhas lhe fugiam á mente, e era como se tudo ruísse. a vida em um instante não fazia mais sentido, e um trabalho que desse mais dinheiro valeria de quê?
Ela sempre querendo ser filha... a culpa é um preço que se paga.
grama necessária nesse momento, poderia haver um cheiro de orvalho, estrelas e braços quentes de um homem...
fantasia
terça-feira, 27 de julho de 2010
hipnose
Ia e vinha, hipnotizada.
A cada nova pessoa, falação.
As palavras iam se soltando sozinhas pelos poros de seu corpo, ela que tinha tanto a dizer e tão pouco a conseguir guardar.
Quando se sentia assim, sem recato, era de todos.
Possuída pelo mundo, objeto.
Ser do outro é ser plena?
A cada nova pessoa, falação.
As palavras iam se soltando sozinhas pelos poros de seu corpo, ela que tinha tanto a dizer e tão pouco a conseguir guardar.
Quando se sentia assim, sem recato, era de todos.
Possuída pelo mundo, objeto.
Ser do outro é ser plena?
sexta-feira, 23 de julho de 2010
sexta a noite
E foi sair...
o que afinal significa essa vontade quase autística de ficar sozinha? precisava sair (esse pensamento soava como se fosse uma dessas mulheres desgostosas que haviam se entediado da vida, das coisas que ela tinha a oferecer).
Mas no seu caso, nao havia tédio por tudo, mas por aquela parte, aquele tempo presente que não acabava. Trabalho, hábitos, compromissos, horários, os mesmos caminhos de sempre, os mesmos lugares de sempre. O que fazer?
Ouvir música parecia boa pedida. Mpb, jazz, blues, qualquer coisa... cidade sampa tem sempre tudo a oferecer!!! como sentir-se entediado numa metrópole como essa?
Mas era exatamente esse o sentimento: tédio, conformismo com a repetição do mesmo. tinha quase vergonha desse sentimento... e andando na rua com a amiga-ruiva (não era mais ruiva, mas continuava sendo essa sua marca registrada) topou ainda com um inesperado na calçada, desses simpáticos e queridos que conseguem, com sua simpatia e queridisse, remexer qualquer coisa conflituosa dentro dela. qualquer coisa que nao cessava de se passar e pela qual ela tinha que ter respeito... devia ela dar explicações ao inesperado pelo seu sumisso? (que ela sabia ter sido resultado de decisão friamente tomada)
O inesperado foi com elas tomar uma cerveja no bar da esquina, elas faziam hora no bar da esquina pra entrar no bar de jazz, bem mais descolado.
claro: a noite acabou se resumindo só ao bar da esquina... como sempre acontecia.
Conversaram da vida, do trivial. Quando o inesperado foi embora, continuaram conversando, agora com aquela intimidade que as duas sabiam tão bem fazer desabrochar. o dia de ontem, o dia de hoje, o pensamento das 7 da manhã, a sensação que se impunha todas as noites antes de dormir, ...., política, seu madruga e outras bobagens. Disso falavam e isso fazia tanto sentido: quanto amor havia no trivial! Quanto amor havia entre elas...
o que afinal significa essa vontade quase autística de ficar sozinha? precisava sair (esse pensamento soava como se fosse uma dessas mulheres desgostosas que haviam se entediado da vida, das coisas que ela tinha a oferecer).
Mas no seu caso, nao havia tédio por tudo, mas por aquela parte, aquele tempo presente que não acabava. Trabalho, hábitos, compromissos, horários, os mesmos caminhos de sempre, os mesmos lugares de sempre. O que fazer?
Ouvir música parecia boa pedida. Mpb, jazz, blues, qualquer coisa... cidade sampa tem sempre tudo a oferecer!!! como sentir-se entediado numa metrópole como essa?
Mas era exatamente esse o sentimento: tédio, conformismo com a repetição do mesmo. tinha quase vergonha desse sentimento... e andando na rua com a amiga-ruiva (não era mais ruiva, mas continuava sendo essa sua marca registrada) topou ainda com um inesperado na calçada, desses simpáticos e queridos que conseguem, com sua simpatia e queridisse, remexer qualquer coisa conflituosa dentro dela. qualquer coisa que nao cessava de se passar e pela qual ela tinha que ter respeito... devia ela dar explicações ao inesperado pelo seu sumisso? (que ela sabia ter sido resultado de decisão friamente tomada)
O inesperado foi com elas tomar uma cerveja no bar da esquina, elas faziam hora no bar da esquina pra entrar no bar de jazz, bem mais descolado.
claro: a noite acabou se resumindo só ao bar da esquina... como sempre acontecia.
Conversaram da vida, do trivial. Quando o inesperado foi embora, continuaram conversando, agora com aquela intimidade que as duas sabiam tão bem fazer desabrochar. o dia de ontem, o dia de hoje, o pensamento das 7 da manhã, a sensação que se impunha todas as noites antes de dormir, ...., política, seu madruga e outras bobagens. Disso falavam e isso fazia tanto sentido: quanto amor havia no trivial! Quanto amor havia entre elas...
quarta-feira, 21 de julho de 2010
terça-feira, 20 de julho de 2010
terça feira
Com fome, chegou em casa pensando em migalhar uns pedaços de pão. A culpa não deu trégua, e ela se deixou caída na cadeira durante o soar dos roncos de seu estômago pedinte. O telefone iria tocar. Esperava ansiosamente a ligação de tao longe... d.d.i.
Aquele país que ela imagiava Laranja... mesmo ja tendo ido para lá, à turismo bem turístico. A voz envolta por ruídos fazia o coração tremer, ela que esperava tanto por um motivo para ir '" a um outro lugar". Era como se a voz a chamasse. Hipnotizada, ela faria o que fosse, em nome do gozo de estar plena por conta dos suplícios de amor do gringo.
Nada... está em Marcevol (sul fa França). E ela aqui, olhando os mesmos prédios e a mesma calçada de 26 anos ininterruptos. Precisaria ela poder ir à Marcevol para o fim de semana com tanta naturalidade. Ela e ele, esbanjando felicidade, em terras desconhecidas.
Chegou a mãe. Logo após, o namorado da mãe. Na ausência do seu, o namorado da mãe vinha bem a calhar: ao menos trazia um ar masculino à casa, tão impregnada pelas neuroses mãe-filha. Ele era sempre discreto e sempre cordial, além de se interessar em dar aquelas opiniões sensatas, sem pender pra nenhum lado, mantendo uma espécie de pólo neutro na casa cheia de excessos.
Comeram juntos, pouco a pouco, degustando salmão com mel e shoyu e um super cremoso purê de mandioquinha e arroz de muitos e muitos grãos diferentes. Ainda uma verdura refogada com cebola, coisas deliciosas e saudáveis de casa de mãe. Vinho tinto, sempre que vinha o santo namorado. Motivo pra um brinde festivo, de fato.
Buzina de carro cortando o silêncio da noite, onze e quinze, São Paulo calando-se, cedendo à quietude da madrugada. O sabor do vinho ainda na boca, o pensamento laranja. E amanhã o dia é longo, com direito à manicure no final.
Boa noite.
Aquele país que ela imagiava Laranja... mesmo ja tendo ido para lá, à turismo bem turístico. A voz envolta por ruídos fazia o coração tremer, ela que esperava tanto por um motivo para ir '" a um outro lugar". Era como se a voz a chamasse. Hipnotizada, ela faria o que fosse, em nome do gozo de estar plena por conta dos suplícios de amor do gringo.
Nada... está em Marcevol (sul fa França). E ela aqui, olhando os mesmos prédios e a mesma calçada de 26 anos ininterruptos. Precisaria ela poder ir à Marcevol para o fim de semana com tanta naturalidade. Ela e ele, esbanjando felicidade, em terras desconhecidas.
Chegou a mãe. Logo após, o namorado da mãe. Na ausência do seu, o namorado da mãe vinha bem a calhar: ao menos trazia um ar masculino à casa, tão impregnada pelas neuroses mãe-filha. Ele era sempre discreto e sempre cordial, além de se interessar em dar aquelas opiniões sensatas, sem pender pra nenhum lado, mantendo uma espécie de pólo neutro na casa cheia de excessos.
Comeram juntos, pouco a pouco, degustando salmão com mel e shoyu e um super cremoso purê de mandioquinha e arroz de muitos e muitos grãos diferentes. Ainda uma verdura refogada com cebola, coisas deliciosas e saudáveis de casa de mãe. Vinho tinto, sempre que vinha o santo namorado. Motivo pra um brinde festivo, de fato.
Buzina de carro cortando o silêncio da noite, onze e quinze, São Paulo calando-se, cedendo à quietude da madrugada. O sabor do vinho ainda na boca, o pensamento laranja. E amanhã o dia é longo, com direito à manicure no final.
Boa noite.
Tentação
“Ela estava com soluço. E como se não bastasse a claridade das duas horas, ela era ruiva. Na rua vazia as pedras vibravam de calor - a cabeça da menina flamejava. Sentada nos degraus de sua casa, ela suportava. Ninguém na rua, só uma pessoa esperando inutilmente no ponto do bonde. E como se não bastasse seu olhar submisso e paciente, o soluço a interrompia de momento a momento, abalando o queixo que se apoiava conformado na mão. Que fazer de uma menina ruiva com soluço? Olhamo-nos sem palavras, desalento contra desalento. Na rua deserta nenhum sinal de bonde. Numa terra de morenos, ser ruivo era uma revolta involuntária. Que importava se num dia futuro sua marca ia fazê-la erguer insolente uma cabeça de mulher? Por enquanto ela estava sentada num degrau faiscante da porta, às duas horas. O que a salvava era uma bolsa velha de senhora, com alça partida. Segurava-a com um amor conjugal já habituado, apertando-a contra os joelhos.
Foi quando se aproximou a sua outra metade neste mundo, um irmão em Grajaú. A possibilidade de comunicação surgiu no ângulo quente da esquina acompanhando uma senhora, e encarnada na figura de um cão. Era um basset lindo e miserável, doce sob a sua fatalidade. Era um basset ruivo.
Lá vinha ele trotando, à frente da sua dona, arrastando o seu comprimento. Desprevenido, acostumado, cachorro.
A menina abriu os olhos pasmados. Suavemente avisado, o cachorro estacou diante dela. Sua língua vibrava. Ambos se olhavam.
Entre tantos seres que estão prontos para se tornarem donos de outro ser, lá estava a menina que viera ao mundo para ter aquele cachorro. Ele fremia suavemente, sem latir. Ela olhava-o sob os cabelos, fascinada, séria. Quanto tempo se passava? Um grande soluço sacudiu-a desafinado. Ele nem sequer tremeu. Também ela passou por cima do soluço e continuou a fitá-lo.
Os pêlos de ambos eram curtos, vermelhos.
Que foi que se disseram? Não se sabe. Sabe-se apenas que se comunicaram rapidamente, pois não havia tempo. Sabe-se também que sem falar eles se pediam. Pediam-se, com urgência, com encabulamento, surpreendidos.
No meio de tanta vaga impossibilidade e de tanto sol, ali estava a solução para a criança vermelha. E no meio de tantas ruas a serem trotadas, de tantos cães maiores, de tantos esgotos secos - lá estava uma menina, como se fora carne de sua ruiva carne. Eles se fitavam profundos, entregues, ausentes do Grajaú. Mais um instante e o suspenso sonho se quebraria, cedendo talvez à gravidade com que se pediam. Mas ambos eram comprometidos.
Ela com sua infância impossível, o centro da inocência que só se abriria quando ela fosse uma mulher. Ele, com sua natureza aprisionada.
A dona esperava impaciente sob o guarda-sol. O basset ruivo afinal despregou-se da menina e saiu sonâmbulo. Ela ficou espantada, com o acontecimento nas mãos, numa mudez que nem pai nem mãe compreenderiam. Acompanhou-o com olhos pretos que mal acreditavam, debruçada sobre a bolsa e os joelhos, até vê-lo dobrar a outra esquina. Mas ele foi mais forte que ela. Nem uma só vez olhou para trás."
de Clarice Lispector In "Felicidade Clandestina"
Foi quando se aproximou a sua outra metade neste mundo, um irmão em Grajaú. A possibilidade de comunicação surgiu no ângulo quente da esquina acompanhando uma senhora, e encarnada na figura de um cão. Era um basset lindo e miserável, doce sob a sua fatalidade. Era um basset ruivo.
Lá vinha ele trotando, à frente da sua dona, arrastando o seu comprimento. Desprevenido, acostumado, cachorro.
A menina abriu os olhos pasmados. Suavemente avisado, o cachorro estacou diante dela. Sua língua vibrava. Ambos se olhavam.
Entre tantos seres que estão prontos para se tornarem donos de outro ser, lá estava a menina que viera ao mundo para ter aquele cachorro. Ele fremia suavemente, sem latir. Ela olhava-o sob os cabelos, fascinada, séria. Quanto tempo se passava? Um grande soluço sacudiu-a desafinado. Ele nem sequer tremeu. Também ela passou por cima do soluço e continuou a fitá-lo.
Os pêlos de ambos eram curtos, vermelhos.
Que foi que se disseram? Não se sabe. Sabe-se apenas que se comunicaram rapidamente, pois não havia tempo. Sabe-se também que sem falar eles se pediam. Pediam-se, com urgência, com encabulamento, surpreendidos.
No meio de tanta vaga impossibilidade e de tanto sol, ali estava a solução para a criança vermelha. E no meio de tantas ruas a serem trotadas, de tantos cães maiores, de tantos esgotos secos - lá estava uma menina, como se fora carne de sua ruiva carne. Eles se fitavam profundos, entregues, ausentes do Grajaú. Mais um instante e o suspenso sonho se quebraria, cedendo talvez à gravidade com que se pediam. Mas ambos eram comprometidos.
Ela com sua infância impossível, o centro da inocência que só se abriria quando ela fosse uma mulher. Ele, com sua natureza aprisionada.
A dona esperava impaciente sob o guarda-sol. O basset ruivo afinal despregou-se da menina e saiu sonâmbulo. Ela ficou espantada, com o acontecimento nas mãos, numa mudez que nem pai nem mãe compreenderiam. Acompanhou-o com olhos pretos que mal acreditavam, debruçada sobre a bolsa e os joelhos, até vê-lo dobrar a outra esquina. Mas ele foi mais forte que ela. Nem uma só vez olhou para trás."
de Clarice Lispector In "Felicidade Clandestina"
Branco
nuvens, papel sufite, documento novo do word, carneirinhos pulando a cerca no meio da neve, o inverno europeu, sorvete de côco, espuma do mar, iris, barba do papai-noel, sorriso colgate, chantily! coalhada, vestido de noiva, orquídeas, coelhos, borboletas, lichia por dentro, ovos, cisnei, parede de hospital, um cara albino...
domingo, 18 de julho de 2010
romantismo em alta
Oh my love
My darling
I've hungered for your touch
a long, lonely time...
And time goes by
so slowly
and time can do so much
Are you still mine?
I need your love
I need your love
Godspeed your love to me
My darling
I've hungered for your touch
a long, lonely time...
And time goes by
so slowly
and time can do so much
Are you still mine?
I need your love
I need your love
Godspeed your love to me
começando
começando algo novo... inspirante! um pedacinho virtual de uma vida que aqui é ficção real.
queria que tivesse sido ontem, 17 de julho, data emblemática pra se começar: dia em que minha avó estaria renascendo mais uma vez. e de algum forma, pode estar, numa melhor, quem sabe...
começar pelo fim é das coisas que mais gosto na vida, e postar algo que sinalize esse dialético começo-fim faz todo o sentido. quando algo chega ao fim, no mesmo instante há um recomeço (um fio bebível de vida que é o de uma morte, segundo Clarice...)
Entao, o fim de seus aniversarios nesse mundo inaugura o início dumoutromundo.
Chá preto
Badaladas de relogio antigo
Televisao
Roda de amigas
Ela sempre brigando comigo
Ela sempre telefonando e oferecendo jantares
Banquetes
Cara feia se nao comermos muito
Cara feia se comíamos muito
Ela sempre se metendo na minha vida
Eu sempre a convidando a entrar na minha vida
Rápidas passadas pela sua casa: referencia do meu dia a dia
Cama e garagem sempre me esperando
Camisola, escova de dente: segunda casa
Quem me ajudou a crescer: segunda mãe
Tagarela, curiosa, preocupada: eterna amiga
Fotos em preto e branco, histórias de minha infancia, histórias de quem eu nao conheci: geração anterior a mim.
Viagens no tempo: ela realizando um tanto de seu passado vivido e nao vivido em mim, eu sempre precisando de seus olhos pedintes pelo meu futuro.
Uma se experimentando na outra: mistura de neta e vó.
Ciumenta, reclamona, enfática: mulher
Se sao nossas maes que nos sao guias para que enveredemos no caminho do feminino, foi com partes dela que eu fui sendo feita mulher.
Se sou hoje quem sou, a tive como modelo vivo e presente, testemunha de meus segredos.
Se sou hoje quem sou tive dela todo o amor que me fez assim, todo reconhecimento que me dá uma imagem nítida de mim.
Usei seus colares, chales, brincos e perfumes.
Brincava, pequena, com as roupas de sua loja.
Sempre a vi trabalhar e lutar por sua independencia, daí presumi o valor do trabalho.
Sempre a vi um pouco carente, daí presumi o valor das amigas.
Sempre a vi bagunceira, daí presumi de onde nasceu meu inevitável desleixo.
Sempre a vi sorrindo, lendo e ouvindo música, daí presumi sobre minha curiosidade pelo mundo.
Sempre a vi lamentar-se pelas perdas, a do filho que morreu principalmente, daí presumi que perder alguém dói.
Vou me dando conta do que é perder alguém de sangue do meu sangue.
Alguém que leva consigo tanta memória, tanta história de si e de mim mesma: será que tem alguma que ela nunca me contou, e que eu nunca mais vou saber?
Serei entao eu testemunha de seus segredos, mesmo os jamais revelados.
E quem testemunhou o maior enigma de todos, a morte, foi meu pai, ao seu lado no ultimo suspiro: daí presumi a importancia de se ter um filho.
A morte é a perda fatal, é a urgente necessidade de se transformar uma ausencia em lembrança.
É a presença de sua ausencia que me permite falar disso tudo.
É a presença de sua ausencia que permite uma boa invenção: o que levar dela consigo?
Quem a conheceu sabe do tamanho de sua vontade de viver, espero que seja essa quentura que se faça presente agora.
Nós aqui, quentes com a sua vida e com a paz que encontrou pra morrer. E ela?
Antes de morrer, ela chamou a prórpia mae. Será que é pra lá que voltamos, pro claor do amor materno?
bem, tenho certeza de que é esse calor que eu sempre vou levar comigo.
queria que tivesse sido ontem, 17 de julho, data emblemática pra se começar: dia em que minha avó estaria renascendo mais uma vez. e de algum forma, pode estar, numa melhor, quem sabe...
começar pelo fim é das coisas que mais gosto na vida, e postar algo que sinalize esse dialético começo-fim faz todo o sentido. quando algo chega ao fim, no mesmo instante há um recomeço (um fio bebível de vida que é o de uma morte, segundo Clarice...)
Entao, o fim de seus aniversarios nesse mundo inaugura o início dumoutromundo.
Chá preto
Badaladas de relogio antigo
Televisao
Roda de amigas
Ela sempre brigando comigo
Ela sempre telefonando e oferecendo jantares
Banquetes
Cara feia se nao comermos muito
Cara feia se comíamos muito
Ela sempre se metendo na minha vida
Eu sempre a convidando a entrar na minha vida
Rápidas passadas pela sua casa: referencia do meu dia a dia
Cama e garagem sempre me esperando
Camisola, escova de dente: segunda casa
Quem me ajudou a crescer: segunda mãe
Tagarela, curiosa, preocupada: eterna amiga
Fotos em preto e branco, histórias de minha infancia, histórias de quem eu nao conheci: geração anterior a mim.
Viagens no tempo: ela realizando um tanto de seu passado vivido e nao vivido em mim, eu sempre precisando de seus olhos pedintes pelo meu futuro.
Uma se experimentando na outra: mistura de neta e vó.
Ciumenta, reclamona, enfática: mulher
Se sao nossas maes que nos sao guias para que enveredemos no caminho do feminino, foi com partes dela que eu fui sendo feita mulher.
Se sou hoje quem sou, a tive como modelo vivo e presente, testemunha de meus segredos.
Se sou hoje quem sou tive dela todo o amor que me fez assim, todo reconhecimento que me dá uma imagem nítida de mim.
Usei seus colares, chales, brincos e perfumes.
Brincava, pequena, com as roupas de sua loja.
Sempre a vi trabalhar e lutar por sua independencia, daí presumi o valor do trabalho.
Sempre a vi um pouco carente, daí presumi o valor das amigas.
Sempre a vi bagunceira, daí presumi de onde nasceu meu inevitável desleixo.
Sempre a vi sorrindo, lendo e ouvindo música, daí presumi sobre minha curiosidade pelo mundo.
Sempre a vi lamentar-se pelas perdas, a do filho que morreu principalmente, daí presumi que perder alguém dói.
Vou me dando conta do que é perder alguém de sangue do meu sangue.
Alguém que leva consigo tanta memória, tanta história de si e de mim mesma: será que tem alguma que ela nunca me contou, e que eu nunca mais vou saber?
Serei entao eu testemunha de seus segredos, mesmo os jamais revelados.
E quem testemunhou o maior enigma de todos, a morte, foi meu pai, ao seu lado no ultimo suspiro: daí presumi a importancia de se ter um filho.
A morte é a perda fatal, é a urgente necessidade de se transformar uma ausencia em lembrança.
É a presença de sua ausencia que me permite falar disso tudo.
É a presença de sua ausencia que permite uma boa invenção: o que levar dela consigo?
Quem a conheceu sabe do tamanho de sua vontade de viver, espero que seja essa quentura que se faça presente agora.
Nós aqui, quentes com a sua vida e com a paz que encontrou pra morrer. E ela?
Antes de morrer, ela chamou a prórpia mae. Será que é pra lá que voltamos, pro claor do amor materno?
bem, tenho certeza de que é esse calor que eu sempre vou levar comigo.
14/04/2010
Assinar:
Postagens (Atom)